Blog Católico, para os Católicos

BLOG CATÓLICO, PARA OS CATÓLICOS.

"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

terça-feira, 9 de novembro de 2021

OS ESPLENDORES DO CALVÁRIO.


Calvário, lugar de expiação!

Calvário, lugar de opróbrios e humilhações!

Calvário, martírio do Filho de Deus e libertação dos filhos dos homens.

Cruz, madeiro do suplício; Cruz, árvore da Redenção.

É a linha divisória dos tempos, que separa a história humana em duas grandes etapas inteiramente diversas, completamente distintas.

À Cruz, precederam quarenta séculos de degradações e de infâmias, que aviltaram e envergonham a humanidade; quarenta séculos de idolatria e de superstições, que constituíam o patrimônio moral e intelectual da nossa espécie, quando o homem dormia à sombra do erro e da mentira.

Depois do Calvário, encontramos a verdade restituída ao pensamento humano, a justiça reintegrada em seu posto, o erro confundido e a mentira desmascarada. O mal, o vício e a iniquidade foram julgados à face do Céu e da terra e ao predomínio da matéria sucedeu uma civilização implantada sobre conceitos e valores de ordem espiritual e sobrenatural.

E a Cruz, que, no passado, era um símbolo de opróbrio, constituiu-se em insígnia triunfal, a cujos pés se prosternam, faz vinte séculos, as gerações humanas.

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O Calvário veio realizar as palavras proféticas, que anunciavam Jesus Cristo como sinal de contradição para muitos. Efetivamente, ante as ignomínias do último suplício, os filhos do povo eleito se escandalizaram e os gentios escarneceram de um Deus erguido entre dois ladrões.

O escândalo e a loucura da Cruz!

Mistério da sabedoria infinita, prodígio da ciência divina, é a Cruz o tesouro inexaurível, onde os Santos vão buscar acréscimo de justificação, os bons haurem a graça santificante e os maus, angustiados, encontram o salutar perdão de suas culpas.

Na Cruz, proclama o sábio e piedoso autor da ‘Imitação de Cristo’, está a salvação, a vida, o escudo contra os ataques do inimigo, as delícias da celestial suavidade; na Cruz está a força e a inteligência, a alegria do espírito, a plenitude de todas as virtudes, a santificação perfeita”.

Não é de admirar, pois, que o grande Apóstolo das gentes, na sua primeira Epístola aos Coríntios, haja feito esta bela e sublime afirmação:

Porque não entendi eu saber, entre nós, coisa alguma senão a Jesus Cristo, e este crucificado”.

São Paulo, que discutia, tantas vezes, com filósofos, estoicos e epicuristas e que, no Areópago de Atenas, em linguagem elevada, versava sobre as doutrinas mais sutis, colocava acima de todos os conhecimentos humanos a ciência da Cruz e de Jesus Cristo morto em prol do resgate dos filhos de Adão.

E o exemplo desse arauto da Boa Nova frutificou no seio da comunidade cristã e a devoção a Jesus Crucificado, a contemplação das dores e dos sofrimentos do Homem-Deus e o amor à Cruz, tornaram-se elementos primordiais da verdadeira piedade e ocuparam lugar salientíssimo na vida dos Santos e dos servos privilegiados do Senhor.

A frágil humanidade, o comum dos homens e as almas simples encontram na pobreza, nas humilhações, nos opróbrios e nas ignomínias do Homem das Dores, um bálsamo suave para todas as angústias da terra, um lenitivo para todas as chagas do corpo, um conforto para todas as dores da alma. Nas horas difíceis, nos golpes da fortuna, nas incertezas do porvir, quando as lágrimas humedecem o pão diário, o Crucifixo nos oferece o manjar da divina consolação e nos infunde as esperanças eternas dos verdadeiros bens.

Na doce tranquilidade dos claustros, na suave convivência do lar, no meio das agitações da vida, nos dias de luto e pesar, a memória do Sacrifício tremendo do Calvário desperta nos ânimos esclarecidos pela fé, sentimentos de coragem, de resignação, de fortaleza sobrenatural.

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O poder infinito de Deus confundiu a soberba dos humanos juízos e converteu a suprema humilhação em exaltação perene e sem par. Os reis da terra governam do alto dos tronos e dos sólios; Cristo quis reinar do cimo do Calvário.

Cícero dizia: “Horrível é a ignomínia de uma condenação pública, horrível a confiscação, horrível o desterro. Todavia, no meio destas calamidades, algum vestígio de liberdade nos resta ainda; e a própria morte, se nos é infligida, suportamo-la livre de todo e qualquer impedimento. Mas o algoz, o véu pela cabeça, o nome de cruz, tudo isso não se aproxime de um cidadão romano, não só de seu corpo, senão também do seu pensamento”.

Os romanos consideravam esse instrumento de suplício como “o lenho desgraçado”, “a árvore fatal”, o suplício dos escravos.

Nas Sagradas Escrituras, os videntes do Antigo Testamento se mostravam aterrados, quando anteviam o gênero de morte, “morte vergonhosa”, a que seria condenado o Filho de Deus.

E a despeito de todas as fúrias do Inferno, de todos os recursos da maldade dos homens, a Cruz impôs-se ao mundo inteiro e ainda hoje, recebe as demonstrações de fé e respeito de quantos adoram a Jesus Cristo.

Do cimo do Calvário, foi a Cruz transplantada para os altos do Capitólio e os dominadores de Roma adoraram um judeu supliciado em Jerusalém.

As invasões bárbaras esfacelaram o velho império de Augusto; a Religião do Crucificado subjugou as hostes dos chefes dos invasores; nas Gálias, Clovis quebrou os ídolos que adorara, para adorar a Cruz, que ele mesmo tentara destruir. Bonifácio converte as tribos da Germânia; Anscário anuncia o Evangelho aos habitantes da fria Escandinávia; Agostinho prega a Lei de Cristo ao povo das ilhas britânicas. Passam os séculos; Cirilo e Metódio convertem à Religião da Cruz as gentes eslavas e dilatam, mais e mais, o reino de Deus.

Navegadores audazes desvendam os segredos do oceano e o descobrimento de novas terras vem multiplicar o mundo… partem, céleres e ardorosos, os arautos da verdade e tratam de converter ao Catolicismo as raças estranhas, que habitam além-mar. Quando alguns bravos sucumbem no ardor do bom combate, surgem, imediatamente, outros evangelizadores do bem e da paz, que vão tomar o posto daqueles que partiram deste vale de lágrimas…

A Cruz, nos primórdios do Cristianismo, encheu de forças sobrenaturais e infundiu constância inabalável no ânimo dos cristãos, que os algozes conduziam ao suplício e as feras dilaceravam, nas arenas ensanguentadas dos circos; em plena civilização do vigésimo século, o Calvário irradia coragem e luz, que sustentam os mártires hodiernos, dando-lhes a energia serena para morrerem pela confissão do supliciado do Gólgota, cuja Divindade proclamam, no último momento.

VIVA CRISTO REI

São milagres que a lógica não explica, que a razão não concebe e que a natureza não pode admitir. Somente a razão esclarecida pela fé concebe, explica e admite: Jesus Cristo é Deus e assentou o seu trono sobre o monte da ignomínia e quer reinar do alto do madeiro infamante.


REGNAVIT A LIGNO DEUS



ORAÇÃO À CRUZ1


Oh, Cruz do meu Salvador! Altar Sagrado sobre o qual se imolou uma Vítima igual ao Eterno, a Deus não praza que eu nunca me glorie em outra coisa que em ti. Por ti é que Jesus Cristo venceu. Que despojos vejo amontoados aos teus pés! Vejo a morte destruída, quebrados os grilhões do universo, esmagada a cabeça da antiga Serpente. Único refúgio dos desgraçados mortais, por ti é que são, enfim, abertas as portas dessa melhor pátria, fechadas há tantos séculos pelo pecado do primeiro homem.

O Sangue, que Jesus Cristo derramou sobre ti, desarma seu Pai, apaga o raio nas suas mãos, e restabelece a paz entre o Céu e a terra.

Quanto me alegro pela extensão do teu império! Oxalá que ele se estenda ainda mais! Oxalá que eu, com os exemplos constantes de uma vida irrepreensível, contribua para a sua propagação!

Oh, Cruz adorável! Que glória te está reservada no último dia!

Aparecerás, no Céu, como o símbolo da vitória e o árbitro das coroas. A tua vista vista oprimirá os teus inimigos; a tua vista encherá de júbilo os teus servos.

Então tu, só, serás o sinal da salvação, com que será necessário ser marcado para chegar ao reino.

Eu me abraçarei, pois, a ti, ó Cruz saudável! Eu me abraçarei a ti; a ti unirei o velho homem, a fim de destruir o corpo do pecado, a fim de não ser escravo do pecado; a ti unirei a minha carne com suas concupiscências, o meu coração com suas paixões, a fim de as combater e aniquilar. Neste estado é que quero viver; neste estado também é que quero morrer. Oh, Cruz salutar! Eu te apertarei nos braços, na minha hora derradeira.

Juiz temível, à sombra da vossa Cruz é que eu peço para aparecer diante do vosso tribunal. Vós abrireis o livro terrível, onde a vossa justiça escreveu as minhas desordens; mas eu Vos apresentarei o Sangue que derramastes para as expiar. Escutareis a minha voz, e pronunciareis uma sentença favorável. Assim seja.


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Fonte: “Espírito e Vida” – As Sete Palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo Pe. J. Cabral, pp. 89-96, da Coleção Cristo Redentor. Empresa Editora A.B.C. Ltda, Rio de Janeiro, 1938.

1.  Do Padre Guillois.


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