A Caridade
Jamais Deve Abafar
A Verdade
(4ª Parte)
1. “A Religião Cristã, de fato, não existe fora da Igreja”.1
2. “Mas vós, meus filhos, dir-me-eis que os homens não são Demônios. Sem dúvida, muitos não são Demônios. Mas, em todos que não estão unidos intimamente a Cristo (pela graça), está latente alguma coisa diabólica: e contra isso deveis levantar-vos como executores de justiça. O erro é um obstáculo para a união (com Deus)”.2
3. “Adormeci alguns instantes durante a oração. Sonhei que faltavam soldados para uma guerra. Vós dissestes: É preciso enviar Soror Teresa do Menino Jesus. Respondi, que preferiria bem que fosse para uma guerra santa. Afinal parti assim mesmo.
Oh! Minha Madre – acrescento com animação – que felicidade eu teria sentido, por exemplo, em combater no tempo das Cruzadas, ou, mais tarde, em lutar contra os hereges. Ah! Eu não teria tido medo do fogo! Será possível que eu morra em uma cama!”.3
4. “Os hereges são tão insolentes, quanto impacientes em receber repreensões; muitos deles, para não sofrer correções, acusam de provocadores e agressivos aos que os increpam... Alguns extraviados devem ser tratados com certa aspereza caridosa”.4
5. “É muito mais grave corromper a Fé, pela qual a alma vive, do que falsificar o dinheiro, por meio do qual se conserva a vida temporal”.5
6. “Se, quando começaram a aparecer as heresias de Lutero e Calvino, se houvesse, sobretudo, sua condenação até que seus sequazes se mostrassem dispostos a submeter-se e a unir-se aos demais, ainda permaneceriam aquelas heresias no rol das coisas indiferentes, que se pode seguir ou repelir, e teriam infectado a um número muito maior de pessoas. Pois se estas opiniões, cujos perniciosos efeitos nas consciências estamos vendo, são dessa natureza, em vão esperaremos que os que as semeiam se ponham de acordo com os defensores da Doutrina da Igreja: isso não se pode esperar nem acontecerá jamais, e diferir a obtenção de sua condenação pela Santa Sé, é dar-lhes tempo de espalhar seu veneno... as leis nunca se hão de reconciliar com os crimes, nem a mentira se pode por de acordo com a verdade... não se há de desejar a união no mal nem no erro... ambos os partidos creem estar com a razão e a verdade. Reconheço que, de fato assim é, mas também sabeis que todos os hereges têm dito outro tanto, e isso não os tem livrado da condenação e dos anátemas contra eles fulminados pelos Papas e Concílios... Nunca se entendeu que o acordo com eles fosse um meio de curar o mal, mas, pelo contrário, aplicou-se o ferro e o fogo, – por vezes demasiado tarde, como poderia acontecer aqui... (o erro) ao ser tratado em pé de igualdade com a verdade, têm tido tempo de propagar-se, e está sendo demasiada a tardança em erradica-lo de vez que, constituindo esta doutrina (do erro) não só na teoria, mas principalmente na prática, as consciências já não podem suportar a perturbação e a inquietação que nascem da dúvida que está penetrando nos corações de todos...”.6
7. “De modo algum parece que se deva tolerar ali (nas universidades) aqueles de quem há suspeita de que pervertem a juventude: muito menos ainda, os que são abertamente hereges. E até os estudantes de quem se veja que não poderão emendar-se facilmente, deveriam absolutamente ser despedidos... Conviria que quantos livros heréticos se achassem – mediante diligente pesquisa – em poder de livreiros e de particulares, fossem queimados... Outro tanto se diga das obras dos hereges que não sejam heréticas, como as que tratam de gramática ou retórica, ou de dialética, de Melanchton, etc., que parece deveriam ser inteiramente relegadas em ódio à heresia de seus autores, porque não convém nem nomeá-los, e menos ainda que a eles se afeiçoem os jovens, em cujo espírito se insinuam os hereges por meio de tais obrinhas... mais vale estar a grei sem pastor, do que ter por pastor um lobo... Quem chamar os hereges de ‘evangélicos’, conviria que pagasse alguma multa, para que não folgue o Demônio de que os Inimigos do Evangelho e da Cruz de Cristo tomem um nome contrário as suas obras. Aos hereges se há de chamar por seu nome, para que cause horror até nomear os que são tais e cobrem o ‘veneno mortal’ com o véu de um nome de salvação...”.7
8. “Por duas razões não se deve manter relações com os hereges.
– Primeiramente, por causa da excomunhão, pois, sendo excomungados, não se deve ter relações com eles, da mesma maneira que com os outros excomungados.
– A segunda razão, é a heresia. – Em primeiro lugar, por causa do perigo, para que as relações com eles não venham a corromper os outros, segundo aquilo da Primeira Epístola aos Coríntios: ‘As más conversações corrompem os bons costumes’ (15, 33). E em segundo lugar, para que não se pareça prestar algum assentimento às suas doutrinas perversas. Daí dizer-se na Segunda Epístola Canônica de São João: ‘Se alguém vier a vós e não trouxer esta Doutrina, não o recebais em vossa casa, nem o saudeis, pois, que quem o saudar, toma parte em suas obras más’ (v. 10). E aqui a Glosa comenta: ‘Já que para isso foi instituída, a palavra demonstra comunhão com esse tal: de outro modo não seria senão simulação, que não deve existir entre Cristãos’. Em terceiro e último lugar, para que nossa familiaridade não dê aos outros ocasião de errar. Por isso, outra Glosa comenta a respeito dessa passagem da Escritura: ‘E se acaso vós mesmos não vos deixais enganar, outros, todavia, vendo vossa familiaridade, podem enganar-se, acreditando que esses tais vos são agradáveis, e assim crer neles’. E uma terceira Glosa acrescenta: ‘Os Apóstolos e seus Discípulos usavam de tanta cautela em matéria religiosa, que não sofriam nem sequer a troca de palavras com os que se haviam afastado da verdade’. Entende-se porém: excetuado o caso de alguém que trata com outro a respeito da salvação, com intuito de salvá-lo”.8
9. “É melhor resultar algum escândalo de se dizer a verdade, do que deixar abandonada e indefesa a mesma verdade”.9
10. “E esta é a maldade comum a todos eles (os hereges), rebelar-se contra Cristo; e por isto, se acham, não mais cristãos, mas arianos; e isso que se esforçam por encobrir, convém manifestá-lo”.10
11. “Sim, o Deus Vivo encarregou-me de anunciar-vos, que castigará todos os que não O defenderem contra Seus inimigos. Todos, pois, às armas!”.11
12. “Um homem que se preze de prudente, terá cuidado de não ultrapassar em suas tentativas o número de vezes que o Apóstolo indicou ao dizer: “Foge do herege, se ele não se emendar depois de o advertires uma ou duas vezes sobre seu erro; porque deves ter por certo que quem não se corrige prontamente, e permanece pertinaz em seu erro, já está pervertido e condenado por seu próprio julgamento’ 12”.13
13. “A vida cristã não consiste simplesmente em louvar o Senhor e honrá-lO por manifestações externas: ela exige que se cumpra tudo o que está prescrito nos 10 Mandamentos, que repetem – com quanta clareza e eficácia! – a lei natural impressa no coração de todo homem. Trata-se de dizer ‘não’ ao mal, em todas as suas formas, e é precisamente por ter proclamado um desses ‘non licet’ que a cabeça de João foi cortada e levada numa bandeja...
Na vida quotidiana, ouve-se muitas vezes repetir: bem poderia a Igreja ser mais indulgente, admitir algum ligeiro compromisso... Isso nunca. O Papa pode ser bom, longânime quanto se quiser, mas, em face de tristes realidades, de miseráveis inobservâncias, sua atitude será inabalavelmente firme, clara, irredutível, respeitosamente submissa à verdade”.14
14. “A história antiga é muito instrutiva para quem quer julgar as posições modernas, o modo de pensar e de viver de hoje em dia”.15
15. “Tive uma grande alegria… pelas gratas notícias que me trouxe de vossa constância e lealdade no serviço que deveis à vossa Fé… bem como no ódio e zelo que alimentais contra os hereges, de modo que cada um de vós pode repetir sem mentira aquilo do Profeta: ‘Porventura não aborrecia eu, Senhor, os que Vos odeiam? Com ódio perfeito os aborrecia, e tive-os por inimigos meus, só por saber que eram vossos inimigos’16… São salteadores e ladrões, como observa o Senhor no Evangelho; gente perdida, que cifra todo o seu prazer em perder os demais. São corruptores ao mesmo tempo de vossos Costumes e de vossa Fé. Bem se diz que ‘as conversas más corrompem os bons costumes’,17 e que ‘a linguagem desses tais estende sua corrupção com a rapidez da gangrena’18”.19
16. “Também os leigos, procedendo de maneira legítima, ainda que isso lhes cause alguns incômodos, devem resistir aos acatólicos, que não só ousam disseminar entre o povo o que pensam contra a Fé Católica, como também se esforçam por incutir no espírito dos outros as suas opiniões”.20
17. “Estamos em tempos em que se deve resistir não só aos adversários, mas também àqueles que, na frente de batalha, olham com simpatia mais para o campo oposto do que para o seu próprio, e fazem mais mal a este do que se fossem já trânsfugas21”.22
18. “Tanto será alguém reputado por bom, quanto abomina o mal; pois tanto se ama um objeto, quanto se lastima a sua destruição”.23
19. “O homem de hoje vive num espaço existencial (…) determinado por atitudes, doutrinas, tendências que devem ser qualificadas como heréticas, contrastantes com a Doutrina Evangélica”.24
20. “Meu paladar saboreará a verdade e meus lábios detestarão o que é ímpio.25 (…) É próprio de uma mesma coisa afirmar um dos contrários e repelir o outro; assim, a medicina produz a saúde e exclui a doença. Por isso, do mesmo modo que é próprio ao sábio meditar a verdade, especialmente no que se refere ao primeiro princípio, e discorrer acerca das demais coisas, assim também lhe é próprio impugnar a falsidade contrária. Portanto, está convenientemente indicado pela boca da Sabedoria, nas palavras que citamos, o duplo ofício do sábio, ou seja: meditar a Verdade Divina, que é a Verdade por antonomásia, e uma vez meditada, falar dela, que é ao que se refere a Escritura quando diz: Meu paladar saboreará a verdade; bem como impugnar o erro contra a verdade, que outra coisa não significa: e meus lábios detestarão o que é ímpio, pois, por impiedade se designa a falsidade contra a Verdade Divina, falsidade que é contrária à Religião, também denominada piedade, de onde a falsidade contrária a esta toma o nome de impiedade”.26
21. “É muito conveniente estar bem instruído a respeito do debate que há atualmente na Igreja, o qual diz respeito ao tema da Graça.
1 – Quais são os motivos que temos para nos instruirmos na matéria proposta?
a) Que estamos em perigo de ser enganados quando se apresentam opiniões novas, e de seguir o erro em lugar da verdade; e nesse sentido diz o Espírito Santo, que o ignorante será ignorado e perecerá em sua ignorância.27 Foi o que aconteceu com muitos que, por não terem estudado a fundo desde o início as opiniões de Lutero e Calvino, caíram no erro.
b) Que está comprometida neste assunto a nossa salvação, a qual exige que creiamos tudo o que ensina a Igreja; e que, em certo sentido, os que não querem instruir-se nas coisas relativas à sua salvação se encontram a caminho da condenação.
c) Que, em caso de divisão no seio da Religião, é prudente instruir-se bem, e muito perigoso agir de outro modo”.28
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1. Pe. Eugênio Polidori, S.J., “Curso de Religião”, 1915.
2. São João Maria Vianney, palavras dirigidas a Ernesto Hello e Jorge Seigneur, em 1859.
3. Santa Teresinha do Menino Jesus, palavras dirigidas à Madre Inêz de Jesus, em 4 de Agosto de 1897, dois meses antes de sua morte. “Novissima Verba”, 1ª Ed., p. 115.
4. Santo Agostinho, apud D. Félix Sardá y Salvani, “El liberalismo es pecado”, 9ª Ed., Madrid, p. 113, 1936.
5. Santo Tomás de Aquino, “Suma Teológica”, IIa. Iiae., q. 11, ª 3, c.
6. São Vicente de Paulo, “Biografia y Seleccion de escritos”, por José Herrera, C.M., e Veremundo Pardo, C.M., BAC, Madrid, 1950, p. 846.
7. Santo Inácio de Loyola, “Obras Completas”, BAC, Madrid, 1952, Carta 111, p. 880.
8. Santo Tomás de Aquino, “Quaestiones quodlibetales”, quodlibetum 10, q. 7, a 1 (15) in c.
9. São Gregório Magno, “Homil. 7”, in Ezech.
10. Santo Atanásio, Da “Apologetica”, Migne, P.G., XXV, 643-87; apud “Joyas de los Santos Padres”, Pe. Guillermo Ubillos, S.J., Ed. E. Subirana, Barcelona, 1925, p. 48.
11. São Bernardo, do Sermão pregado em Vézelay, na Borgonha, em favor da 2ª Cruzada, convocada pelo Bem-aventurado Papa Eugênio III; apud “História das Cruzadas, de Joseph-François Michaud, trad. do Pe. Vicente Pedroso, Ed. Das Américas, Liv. VI, Vol. II, p. 234.
12. Tit., 3, 10-11.
13. São Bernardo, de uma Carta a um alto Prelado; cfr. “Obras Completas del Doctor Melifluo, San Bernardo, Abad., de Claraval” – vol. V, “Epistolário”, – trad. Do Pe. Jaimes Pons, S.J. – p. 408, Carta 196, Barcelona, 1929.
14. São João Paulo II, da Exortação dirigida, no dia 29 de Agosto, Festa da Degolação de São João Batista, aos fiéis reunidos na Sala de Audiências Gerai de Castel Gandolfo, – segundo o resumo publicado pelo “Osservatore Romano”.
15. São João XXIII, Discurso de Encerramento do Sínodo Romano; cfr. “Osservatore Romano”, de 12/2/1960.
16. Salm. 138, 21-22.
17. I Cor. 15, 33.
18. II Tim. 2, 17.
19. São Bernardo, “De uma Carta aos habitantes de Toulouse”; cfr. In “Obras Completas del Doctor Melifluo, San Bernardo, Abad. de Claraval”, – trad. Espanhola do Pe. Jaimes Pons, S.J., Barcelona, 1929 – vol. V, “Epistolário” – Carta CCXLII, p. 505.
20. São João XXIII, Constituição Apostólica “Sollicitudo omnium Ecclesiarum”, de 29 de Junho de 1960.
21. Desertores.
22. Cardeal Alfredo Ottaviani, “Il Baluardo”; Ed. Ares, Roma, 1961, cap. 16, p. 179.
23. São Boaventura, “As Seis Asas do Serafim”, cap. II; cfr. “Escritos Espirituais de São Boaventura”, – escolhidos e traduzidos por Frei Saturnino Schneider, O.F.M., II série, Ed. Vozes, p. 155.
24. Rev. Pe. Karl Rahner, S.J., teólogo; “Was ist haeresie”; trad. Italiana, p. 11 ss.; apud “Diritto della religione non vera?”, de Mons. Giuseppe Di Meglio, Roma, 1964, pro manuscripto, pp. 92-93.
25. Prov. 8, 7.
26. Santo Tomás de Aquino, “Suma Contra os Gentios”, 1. I, cap. 1.
27. I Cor. 14, 38.
28. San Vicente de Paúl, “Biografia y Seleccion de Escritos”, BAC, Madrid, 1950, p. 821.
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