"Quem despreza as coisas pequenas,
pouco a pouco virá a cair".
"Qui spernit modica
paulatim decidet".
(Eccles., XIX, 1)
Adoremos Nosso Senhor – o Pontífice Santo, puro, inocente, segregado dos pecadores: Sanctus, innocens, impollutus, segregatus a peccatoribus (Heb. 7, 26). Sua santidade era tão manifesta que Ele não temia dizer a seus inimigos: “Quem de vós me acusará de pecado? – Quis ex vobis arguet me de peccato (Jo. 8, 46)?
Ele preservou sua Santa Mãe da mancha da menor falta venial e repetia a seus discípulos: “Quem no pouco é iníquo, também nas coisas maiores é iníquo: Qui in modico iniquus est, et in maiori iniquus est” (Luc. 16, 10). Agradeçamos a este bom Mestre as lições que nos deu, e supliquemos-Lhe que imprima em nosso coração profundo ódio ao pecado venial.
1º. Ponto. O mal do pecado venial. O pecado venial é uma ofensa a Deus; cometendo-o, eu desgosto a Deus; não extingo em mim o Espírito Santo, mas O contristo. Ora, o menor mal feito a Deus é infinitamente maior que todos os males feitos à criatura. Nenhuma razão posso imaginar que me autorize a cometer o pecado venial. Por mais venial que eu o imagine, é de fé que jamais entrará comigo ou eu com ele no Reino dos Céus.
Deus o castiga muitas vezes neste mundo com as funções mais terríveis e, após a morte, as chamas do Purgatório esperam as almas culpadas com algum pecado venial.
2º. Ponto. Consequências do pecado venial. O pecado venial resfria a amizade de Deus para conosco e é um obstáculo à familiaridade do Senhor; priva-nos de uma multidão de graças; conduz-nos lentamente ao pecado mortal: “Quem no pouco é iníquo, também nas coisas grandes é iníquo”.
É pelo pecado venial que se perde insensivelmente o horror ao pecado mortal. A princípio basta o nome de pecado mortal para nos fazer estremecer, pouco a pouco se contrai o hábito e a familiaridade com ele. Entre o pecado venial e o pecado mortal, há muitas vezes pouca diferença, a distância é quase imperceptível. Percebo eu sempre bem essa diferença? E, ainda quando eu confie plenamente em minhas luzes, posso ignorar que sou fraco, que sou a mesma fraqueza?
Terei eu sempre força para me deter, para não cair, nunca, em pecado mortal – já que o pecado venial e o mortal se tocam? Diz São Gregório: “Quando nos deixamos levar a pecados veniais, chegamos a não temer cair em pecados mais graves”.
O que o faz concluir: A lei da virtude
que havemos de seguir é: foge dos vícios
por mais leves que sejam e evita todas as negligências.
Exemplo
O Reverendo Pe. Peillon, que morreu como diretor do grande Seminário de Clermont, fugia de sua pátria para evitar a perseguição. No momento em que ia passar a fronteira espanhola com um de seus confrades, esteve para ser preso e condenado à morte, por não se ter submetido ao juramento. Achava-se em uma hospedaria, quando lhe dão a notícia da chegada dos “azuis” para a visita da hospedaria. O Rev. Pe. Peillon e seu companheiro, vendo fechadas todas as saídas, dispõem-se a buscar esconderijo debaixo da cama. Antes, porém, ele se dirige à hospedeira e lhe diz: “Não minta, porém; se lhe perguntarem se há Padres em casa, diga que há dois escondidos debaixo da cama”. A hospedeira cumpre a ordem que lhe fora imposta; mas os soldados entenderam que ela estava a zombar deles. Zangam-se, blasfemam e se retiram; nem ousam olhar para aquele lado, tal era o receio de serem burlados.
Resolução: Evitar com cuidado as menores faltas.
Ramalhete
Espiritual:
Foge do pecado como da serpente: “Quase a
facie colubri fuge peccata” (Eccl. 21, 2).
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Fonte: D. Antônio de Almeida Lustosa, Arcebispo do Pará, “Meu Livro Inseparável”, 1ª Meditação, pp. 7-9. Rio de Janeiro, 1940.
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