“Non privabit bonis eos qui ambulant in innocentia: Domine virtutum, beatus homo qui sperat in te – não há de privar dos seus bens os que caminham na inocência. Feliz o homem que espera em Vós, ó Senhor dos Exércitos!”1
Há somente duas portas para entrar na mansão da eterna ventura: a da inocência e a da penitência, ambas abertas pela misericórdia divina. Quem se dirige, a passo firme para a porta da inocência, pelo caminho de uma vida imaculada, oferece aos homens e até aos Anjos, um espetáculo sublime.
Para proclamar as virtudes do Santo Jó diante de Satanás, disse o próprio Deus, que ninguém havia na terra como ele, que era um homem simples e reto, temente a Deus, estranho ao mal, e ainda conservava a inocência. Vivendo no meio da gentilidade e sendo também gentio, Jó conservou-se inocente e velou atento pela inocência de seus filhos, num tempo em que a terra, imersa nas trevas da ignorância e povoada de idólatras, estava muito longe de possuir no sagrado Tabernáculo a fonte das misericórdias.
Por isso, o Pai Onisciente e misericordioso, que lê no coração de todos os seus filhos, não confiou de línguas humanas os elogios do Seu servo; quis Ele próprio proclamá-los, diante do Inimigo irreconciliável de todos os Justos. E em que período da sua vida granjeou Jó tais louvores? No tempo da prosperidade, quando era rico e estimado, quando via em volta de si uma descendência numerosa e abençoada.
Até que ponto pois não subiriam os seus merecimentos depois que saiu triunfante da terrível provação, que fez dele o herói da paciência? Nem sempre é de flores o caminho da inocência; também nele pode haver espinhos, tão afiados e pungentes como no caminho da penitência.
Mas, se um pagão, em circunstâncias tais, pode enriquecer-se de tantos merecimentos e legar aos vindouros tão alto exemplo, que desculpa ousarão apresentar no Tribunal divino, milhares e milhares de cristãos dos nossos tempos, que não conhecem a inocência nem abraçam a penitência? A inocência! Demorou já no belo clima da nossa Pátria, outrora rica de bênçãos; mas, quem hoje a procurar, apenas encontrará, as mais das vezes, vestígios da sua passagem.
Falará dela com saudade algum octogenário venerando, dizendo lacrimoso: “estão mudados os tempos e os sentimentos; não me educou meu pai, conforme eu vejo educar os meus netos; em tempos idos, eram os pais os melhores protetores da inocência dos seus filhos; hoje, são os pais quem mais favorece e aplaude a malícia precoce dos seus meninos”.
Por isso, a Maçonaria, de mãos dadas com o novo regime, pode impor-nos uma lei de ensino ateu, sem um protesto enérgico da parte dos chefes de família! Deste modo, um povo que, na sua maioria, ainda se diz católico, está pagando com o seu dinheiro e muito cara, uma instrução que lhe rouba a inocência aos filhos e lhos impele para a impiedade. Ó, se os católicos de outrora, que não o eram só de nome, aqui voltassem, como ficariam envergonhados da covardia dos seus descendentes!
Meu Deus, meu Deus, que fizestes as nações curáveis e lhes facilitais os meios de reconciliação, dignai-Vos escutar propício as súplicas dos que esperam em Vós e intercedem por seus irmãos extraviados. Amém.
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Fonte: Mons. Marinho, “Diante do Santíssimo Sacramento – para Adoradores Eclesiásticos e Leigos”, Meditação XXXVI, pp. 130-134. Typographia Fonseca, Porto, 1923.
1. Ps. 83, 17.
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