Blog Católico, para os Católicos

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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

domingo, 25 de fevereiro de 2024

JESUS TRANSFIGURATUR.

 

Naquele tempo, tomou Jesus consigo a Pedro, a Tiago e a João, seu irmão, e levou-os de parte a um monte muito alto, e transfigurou-se diante deles. E seu rosto ficou resplandecente como o sol, e seus vestidos alvos como a neve. E eis que lhe apareceram Moisés e Elias, os quais falavam com Ele. E falando Pedro, disse a Jesus: Senhor, bom é estarmos aqui; se te apraz, façamos aqui três tendas, uma para ti, outra para Moisés, outra para Elias. Ainda não tinha acabado de falar, e eis que uma nuvem resplandecente lhe faz sombra. E eis que da nuvem saiu uma voz que dizia: este é meu Filho muito amado, no qual tenho todas as minhas complacências; ouvi-O. E ao ouvirem isto, os discípulos, caíram de bruços e temeram muito. Mas chegou-se, e tocou-os e lhes disse: levantai-vos e não temais. E erguendo os olhos, não viram a ninguém senão a Jesus. E descendo do monte, impôs-lhe Jesus preceito, dizendo: não digais a ninguém o que vistes, até que o Filho do homem ressuscite dentre os mortos”.1


O Evangelho da Missa deste dia é do cap. 17, 1-9, de São Mateus, e contém a história da Transfiguração de Nosso Senhor Jesus Cristo sobre o Monte Tabor.

Havia pouco tempo que, instruindo o Salvador os Seus discípulos acerca das verdades da religião, lhes tinha feito uma pintura bastante viva das humilhações e trabalhos, que havia de sofrer. Estas imagens tristes eram de molde a aterrar homens ainda materiais e imperfeitos. Sem dúvida, para sustentar sua fé ainda fraca, para despertar seu alento ainda tímido, lhes disse o Salvador, que alguns dos que se achavam ali não morreriam sem terem visto o Filho do homem em Sua glória. De fato, passados seis dias, escolheu Jesus três dos Seus Apóstolos, Pedro, Tiago e João e os levou consigo para o cimo de um Monte alto, que se crê ser o Tabor.

Como não queria que este Mistério fosse conhecido e tornado público antes da Ressurreição, não levou consigo senão um pequeno número de pessoas. Tomou três de Seus discípulos; este é o número mais completo de testemunhas que exigia a Lei para que não fosse suspeito. Escolheu para testemunhas de Sua glória aqueles que bem depressa O haviam de ser de Sua agonia, para nos ensinar que se queremos ter parte em Sua glória, devemos também tê-la em Seus trabalhos e humilhações. Tendo chegado ao alto do Monte, retirou-se um pouco só, e pôs-se em oração.

Então transfigurou-se, isto é, deixou-se ver em todo o resplendor de Sua glória, não já como puro e simples homem, mas como Homem-Deus. O resplendor de Sua Divindade, e a glória de Sua Alma Bem-aventurada apareceram visivelmente em Seu Corpo por alguns raios daquela luz admirável, que até então havia contido estancada em Sua origem. Seu rosto apareceu luminoso e resplandecente como o sol, Seus vestidos alvos como a neve; não se converteram essencialmente, nem se transformaram, diz São Jerônimo, só receberam um brilho resplandecente daquela luz viva que irradiava de todo o Seu Corpo.

Pode dizer-se em certo sentido que a vida comum do nosso Salvador e Sua humildade exterior, eram propriamente uma transfiguração, pois que aparecia em um estado alheio à Sua natureza, ao passo que a glória de Sua transfiguração era em estado natural; e era preciso um milagre contínuo para obstar a que Sua glória e Majestade não irradiassem, e se mostrassem em Seu rosto, e bastava só suspender o milagre para se mostrar tal como apareceu então.

Seu Corpo estava como uma nuvem em redor do sol.

Naturalmente devia estar todo brilhante pela luz que encerrava, e que encobria. Nesta atitude de Majestade não quis Jesus aparecer só; Moisés e Elias apareceram a Seu lado falando com Ele. Quis Jesus Cristo que o Legislador em pessoa e um dos mais ilustres Profetas dessem aos Apóstolos, testemunho de que era Ele a quem convinha tudo quanto a Lei e os Profetas tinham figurado ou predito do Messias. Eis aqui um sinal do Céu, diz Jesus Cristo, o qual os fariseus lho haviam pedido dias antes, mas de que não mereciam ser testemunhas. Elias, dizem os Padres, estava ainda vivo, e apareceu em corpo natural; Moisés, ressuscitou para esta cerimônia, e depois tornou a dormir no Senhor. O assunto da conversação de Jesus com Moisés e Elias, dizem os Padres, versou sobre os suplícios e a morte que o Salvador havia de sofrer em Jerusalém; os Apóstolos foram salteados de um doce espanto, causado pela admiração e gozo que lhes inspirava a vista deste prodígio.

Então São Pedro todo arroubado de amor, e abandonando-se ao gozo de que estava possuído, em uma espécie de êxtase, exclamou: Ah! Senhor, que bom é isto! Quereis que fixemos aqui nossa morada? Em parte alguma poderemos estar melhor; permiti que não saiamos daqui, levantaremos três tabernáculos, ou tendas, uma para Vós, outra para Moisés, outra para Elias. São Pedro não consultara na presente conjuntura senão seu bom coração, e deixa-se arrebatar de sua vivacidade ordinária e do ardor de sua devoção. Ainda não havia acabado de falar, quando uma nuvem resplandecente os envolveu; e ao mesmo tempo saiu do meio da nuvem uma voz que dizia: “Este é o meu Filho muito amado, em quem tenho as minhas complacências; ouviu-O como a vosso Mestre, e obedecei-Lhe como a vosso Rei”.

Esta voz não se ouviu senão depois de terem desaparecido Moisés e Elias, para que estando só Jesus Cristo, dizem São Jerônimo e São João Crisóstomo, não se pudesse duvidar de que se dirigia a eles.

O resplendor desta nuvem e o som desta voz, fizeram tal impressão nos Apóstolos, que cheios de terror caíram com o rosto em terra; e no mesmo instante toda esta glória desapareceu. Aproximando-se então Jesus Cristo, disse-lhes: “Levantai-vos, não tenhais medo”. Começaram então a erguer os olhos, e vendo-se sós, tranquilizaram-se. Queriam ir contar aos outros Apóstolos o que acabava de acontecer; porém, Jesus ao descer do Monte, pôs-lhes ordem de que nada dissessem até a Sua Ressurreição.



Meditações sobre a Transfiguração do Senhor


Não podemos ser felizes nem mesmo nesta vida, 

senão estando com Jesus Cristo.


1. Considera que se procura de há muito tempo o ser feliz sobre a terra, porque a felicidade, mesmo a desta vida, não é fruto da terra que habitamos. Desde a maldição que sobre ela atraiu o pecado do primeiro homem, não produz senão abrolhos e espinhos. A amargura está espalhada em todos os seus frutos. De fato, o mundo, ainda que magnífico em suas promessas, não tem podido fazer até aqui mais do que desgraçados. Os mais aconchegados, os que têm tirado maior quinhão dos bens desta vida, são aqueles que conhecem melhor o vácuo dos bens criados.

Salomão, o mais opulento e feliz, o mais poderoso de todos os príncipes, confessa ingenuamente a sua indigência. No meio da abundância, e da mais florescente e continuada prosperidade, não pode deixar de confessar que tudo é ilusão e vaidade. Para se ser feliz é preciso que a razão esteja tranquila, que tudo esteja em calma; e esta paz do coração não pode ser presente do mundo; no meio dos bens, das honras e dos prazeres é onde se goza menos quietação; só Jesus Cristo é o que pode imperar às ondas e aos ventos. As paixões são o tirano do coração do homem, as prosperidades tornam-nas altivas, fortificam-se como a idade, e nunca são tão violentas como quando a idade não as debilita, e as nossas forças têm decaído. A abundância de bens criados é uma fonte perene de cuidados e de inquietações; a multiplicidade dos prazeres é uma necessidade sempre progressiva de desgostos e de pesadelos; não há nenhum, seja qual for, que não esteja cheio de amargura. As honras lisonjeiam, mas só deslumbram aqueles que as veem nos outros.

Que nuvens, que tempestades, até sobre o trono! Em uma palavra, as cruzes nascem por toda a parte; não há estado, nem condição no mundo, nem particular, nem família, que estejam isentas delas; talvez que até sejam mais abundantes, onde há mais comodidades. Se as queremos arrancar, picamo-nos logo em seus espinhos, e como tudo está semeado deles, se se arrancarem, veem-se logo nascer outros muitos. Queremos ser felizes? É necessário afastarmo-nos do tumulto; não é bastante ainda; é necessário subtrair-nos para o alto da montanha; e como por toda a parte nos levamos a nós, e conosco levamos por toda a parte a fonte e a causa de todas as nossas penas, isto é, a nossa índole, o nosso humor, as nossas paixões, as nossas disposições, o nosso amor-próprio, se Jesus cristo não está conosco para apaziguar os ventos, para abonançar as ondas, para produzir a calma, em toda a parte somos desgraçados.



2. Considera que só onde se acha Jesus, reina a calma, a paz e a abundância. Se se está na barra agitada pelos ventos e pelas vagas, nada há que temer; a calma produz-se desde o momento em que Ele aparece, Se se acha em um deserto estéril, acompanhado de multidão imensa de povos, sem outra provisão além de cinco pães, não tem mais do que abençoá-los, e logo os multiplica até sobrarem muitos cestos, depois de satisfeita a multidão. Se os discípulos se veem opressos de temor e de perplexidades, não é preciso mais do que aparecer-lhes e anunciar-lhes a paz, logo ficam tranquilos.

Enfim, se sobe ao cimo de uma alta montanha, ainda que fale só de Sua Paixão, e das humilhações de Sua morte, ainda que os Apóstolos estejam cheios de tristeza e de pesar, basta-lhe fazer aparecer um débil raio de Sua glória, para transformar aquele lugar escarpado, solitário e espantoso, num paraíso na terra, e para cumular todos os que estão com Ele de tantas doçuras que exclamam: que já não há que pensar em buscar a felicidade em outra parte, e que se teriam por ditosos em permanecerem ali eternamente, contanto que Jesus permanecesse também. Por mais que se amontoem tesouros sobre tesouros, se reúnam todos os prazeres, e se multipliquem as honras todas do mundo, todos estes encantos são exteriores; o coração não fica menos sujeito a suas mágoas, nem menos entregue a inquietações mortais; quando muito é uma vítima coberta de flores na véspera de ser imolada. Só o pensamento da morte basta para perturbar todas as festas, embeber de cruel amargura todos os prazeres. Só pertence ao serviço de Deus o fazer que desapareçam todas estas névoas; só o amor que se tem a Jesus e o amor que Jesus nos tem é que produzem as doçuras de uma paz que o homem carnal não pode compreender.

Esta doce paz que a alma frui, é um gosto antecipado das alegrias do Céu; compara a doçura inalterável, e a modéstia das boas almas com o humor sempre arrebatado, enfastiado e sombrio dos mais felizes do século. Derramam-se lágrimas aos pés de um crucifixo; mas que alegria, que doçura encerram estas lágrimas! Derramam-se no mundo, são inesgotáveis as fontes, donde correm para os mundanos; que amargura, que angústia, inseparável de todos esses prantos, tanto mais amargos quanto mais secretos! Busquem, estudem, amofinem-se os homens por achar uma sombra só que seja de felicidade sobre a terra, não poderão dizer: eu sou feliz, senão enquanto estiverem com Jesus Cristo. Tornai-me, Senhor, sensível esta verdade por minha experiência. Eu vejo todo o meu bem, ó meu Deus, em unir-me a Vós.



3. Considera que o primeiro desígnio do Salvador, mostrando-se a Seus discípulos em Sua glória, e irradiando resplendores de luz, foi o mostrar-lhes um raio daquela glória, que ocultava no véu de Seu Corpo mortal, e do que destina em Seu reino para aqueles que O servem fielmente. Queria também animá-los a levar a Cruz, e ensinar-lhes que Deus algumas vezes, ainda que de passagem, faz gostar aos Santos as doçuras celestiais, pelas delícias do espírito, verificando-se o que Ele mesmo disse: que Seu jugo é suave, e Sua carga leve. Depois disto teremos dificuldade em nos consagrarmos ao serviço de um Senhor tão liberal, sabendo que um dia havemos de gozar d’Ele em Sua glória, e talvez nos dê desde já algum gosto antecipado da felicidade que nos espera no Céu?

Consideremos o modo, por que o Salvador se transfigurou. Foi permitido que a glória de Sua Alma, que havia sempre tido oculta, brilhasse e se difundisse por todo o Corpo. Mal assombra, logo resplandeceu como o sol. O Evangelista teria dito mais resplandecente do que o sol, se houvesse no mundo coisa, a que pudesse compará-lo. Mas demos mil ações de graças a este divino Salvador, por ter até aqui privado por nosso amor Seu Corpo da glória que lhe era devida; hoje faz-lhe justiça, deixando-lhe gozar de Seu direito, posto ser por muito pouco tempo, a fim de contemplar a obra da nossa salvação.

Podia Jesus Cristo testemunhar-nos mais evidentemente o Seu amor, do que no-lo mostra, privando Seu Sagrado Corpo de uma glória tão justa, tão grande, tão legítima, e isto só no desígnio de o sacrificar por nós na Cruz? Ó meu divino Salvador! Que não possa eu, por amor de Vós, renunciar a todas as alegrias do mundo! Quão vantajosamente recompensado seria um dia na estância dos Bem-aventurados!

Moisés e Elias apareceram ladeando o Salvador, como para dar testemunho de que n’Ele se tinham cumprido a Lei e as profecias. A Paixão, e a Morte do Redentor foram o assunto da conversação, como a grande obra e o fim de todas as maravilhas que Deus havia de obrar a favor do Seu povo. Bom Deus! Quantos prodígios reunidos num! Quantos Mistérios em um só!



4. Considera qual deve ser a glória e a felicidade dos Santos no Céu, quando alguns raios da de Jesus cristo, tornada sensível só por alguns instantes, cumulam os que são testemunhas dela, de uma alegria tão pura, tão completa, tão inefável. Os três Apóstolos ficam absortos. Bem estamos aqui, exclama São Pedro em nome de todos. Que haverá mais doce em outra parte, comparável com o que nos causa o brilho de vossa glória?

Por mais súbito que fosse o seu arroubamento, a sua admiração e alegria, nem por isso era menos racional, nem menos justo.

Pode alguém estar com Jesus Cristo, ser discípulo Seu sem ser por Ele amado? E pode alguém ser amado de Jesus Cristo, sem experimentar um contentamento e uma alegria sensível? Mas São Pedro pensa bem o que diz, prevê os inconvenientes e os contras do que propõe? Quem os porá a coberto das intempéries das estações sobre aqueles penhascos? Quem os alimentará sobre aquela espantosa solidão? Mas que há que temer, quando se está com Jesus Cristo? Que bem pode faltar-nos quando se possui o Autor de todos eles? Com Ele está-se perfeitamente feliz sobre o Monte, nas planícies, como no deserto; sem Ele é-se sobremaneira desgraçado, ainda quando se estivesse nos palácios dos grandes, e sobre o trono.

Mas não se fala mais que de cruzes em Sua companhia, não se ambiciona outra coisa senão humilhações, não se alimenta mais do que de adversidades; em Sua companhia devemos mortificar-nos, fugir do mundo, ter horror às Suas máximas; mas isso mesmo prova que é ali, onde se é solidamente feliz. Porque em estado tão constrangido, no meio de tudo o que é contrário aos sentidos, de tudo o que incomoda tanto a natureza, quem pode causar uma alegria tão inalterável, doçuras tão suaves, contentamento tão pleno? É preciso que a alegria seja muito sólida, que a dita seja muito real quando é tão sensível e permanente no retiro. Acha-se porventura uma tranquilidade semelhante no mundo? A felicidade é um fruto estranho, desconhecido às pessoas do mundo, dizemos nós mesmos. Só no serviço de Deus e na companhia de Jesus Cristo é que ela nasce e se frui a largos sorvos.

Concedei-me, Senhor, por vossa graça, que eu faça constantemente a doce experiência disto; eu quero estar inseparavelmente convosco em todo o tempo da minha vida; compreendo pelo Mistério da vossa gloriosa Transfiguração, que é preciso estar longe do tumulto, amar a mortificação, viver no recolhimento e no retiro, para ter parte em vossa glória e, é este o partido que tomo desde agora.

Oremos: Ó Deus, que nos vedes destituídos de toda a virtude, guardai-nos interior e exteriormente e, defendendo o nosso corpo de toda a adversidade, purificai a nossa alma dos maus pensamentos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo… Amém.


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Fonte: Pe. Croiset, “Ano Cristão”, Vol. XIII, pp. 232-244, 236-238, 244-245, Segundo Domingo da Quaresma; Tradução do Francês pelo Pe. Matos Soares, Porto, 1923.

1.  Mat. 17, 1-9.

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