A
Morte de Voltaire e o Inferno
A propósito da morte do famigerado
corifeu da impiedade do século XVIII, descreve Armel Kerven em seu livro
"Voltaire", o seguinte:
"Entrando
em casa alta noite, enervado pela emoção, saturado de lisonjas, teve Voltaire
um violento acesso de febre.
O
marquês de Villete, em cuja casa se hospedara, mandou logo chamar um padre. Lá
estava, porém, uma legião de enciclopedistas. Voltaire não quis dar o braço a
torcer diante deles: o padre, despedido, retirou-se, dizendo que estaria à
disposição do doente. Era o padre Gaultier, coadjutor de S. Sulpicio.
Dois
dias depois, teve o filósofo um fluxo de sangue que o debilitou em extremo.
Julgou-se perdido, pediu uma pena e traçou com mão trêmula este bilhete:
'Ao sr.
Padre Gaultier:
Prometeu-me
vir ouvir-me. Peço-lhe o obséquio de vir quanto antes.
26 de
fevereiro de 1778.
Voltaire'.
Ocupado com outro doente, o padre só chegou à casa
alta noite. Só no dia seguinte, ao romper o dia, recebeu o bilhete com mais
este:
'Mme. Denis, sobrinha de M. Voltaire, pede ao padre Gaultier vir vê-lo.
Ficará obrigada.
27 de fevereiro de 1778.
Em casa do sr. marquês de Villete'.
O padre foi aconselhar-se com o seu vigário, que lhe
ordenou antes de tudo uma retratação. Foi necessário lutar dois dias com os
filósofos, que não queriam tal coisa.
Enfim, venceu o padre. Eis o teor exato da
retratação:
'Declaro que sofrendo, há
dias, de vômito de sangue, na idade de 84 anos, e não tendo podido arrastar-me
até à igreja, o sr. Vigário de S. Sulpicio fez-me o obséquio de mandar-me o
padre Gaultier; que me confessei a ele e que, com o favor de Deus morrerei na
Religião Católica em que nasci, esperando da misericórdia divina que Ela me
perdoe todas as minhas faltas. Se escandalizei a Igreja, peço perdão à Deus e à
Ela.
Voltaire.
A 2 de março de 1778, em
casa do sr. Marquês de Villete, em presença do sr. Padre Mignot, meu
sobrinho, e do sr. Marquês de Villevieille, meu velho amigo'.
As duas testemunhas assinaram.
Depositado no cartório do 'Mestre' Monet, tabelião
em Paris, esse documento foi publicado.
Apenas recebeu Voltaire os Sacramentos, melhorou. Os
enciclopedistas, seus amigos, que se tinham afastado, voltaram ao aposento do
doente, e não o deixaram mais.
Começou ele logo a meter à bulha aquilo que chamava
uma 'fantasia de penitência', esquecendo seus terrores, à medida que
convalescia, e zombando da misericórdia divina, a qual, enfim, o abandonou.
No mês de maio, caindo ele de cama com um novo
acesso, foi chamado a toda a pressa o dr. Tronchin, seu médico assistente, que
não lhe pode ocultar a gravidade do caso.
Quis Voltaire chamar de novo o padre; mas a
Enciclopédia tinha jurado que venceria. D'Alembert, Marmontel e Diderot
montaram guarda ao doente, ficaram surdos ao seu pedido e só permitiram que
dois padres vindos de S. Sulpicio, pudessem aproximar-se do doente, quando o
delírio do moribundo lhes impossibilitava o ministério.
Morreu Voltaire em pavoroso desespero. Da vizinhança
todos ouviam os seus gritos de raiva.
- 'Retirem-se! Retirem-se!
Urrava ele, apostrofando os enciclopedistas. Foram vocês que me perderam! Eu
não carecia dos srs. Vocês é que não podiam passar sem mim. E que miserável
glória me arranjaram!'
No meio dos temores e angústias, ouvia-se,
simultânea ou sucessivamente, invocar a Deus e blasfemar... Ora em voz
lamentável, ora com o tom do remorso, e mais a miúdo em acessos de furor
exclamava:
-'Jesus Cristo! Jesus
Cristo!
Richelieu, testemunha desse espetáculo fugiu,
dizendo: 'É demais! Não se pode suportar!'
O horrível drama continuou. O moribundo
estortegava-se no leito e rasgava o peito com as unhas. Chamava pelo padre
Gaultier, mas os adeptos, reunidos na antecâmara, tapavam os ouvidos e não
quiseram que esse sacerdote, recebendo os últimos suspiros do seu patriarca,
estragasse a obra da filosofia (Enciclopédia).
Ao chegar o momento fatal, nova crise de desespero:
- 'Sinto que me arrastam ao
Tribunal de Deus!'
E voltando para a parede o olhar apavorado:
- 'Ali está o Diabo; quer me
agarrar. Eu o vejo. Vejo o Inferno... Escondam-me...'
Finalmente, condenou-se a si mesmo, ao realizar
aquele festim, a que sua ignorância e sua paixão anti-bíblica tantas vezes
fizera sentar-se o profeta Ezequiel; e, dessa vez, sem zombaria, num acesso de
sede ardente... Levou aos lábios o vaso da noite e tragou o conteúdo! Deu um
último urro e expirou sufocado pelas fezes e pelo sangue que lhe jorrava pela
boca e pelo nariz.
Os filósofos proibiram expressamente a toda gente de
casa que contassem isso, mas não puderam impor silêncio ao médico assistente”.
A existência do Inferno é um Dogma da Fé Católica.
Jesus Cristo afirmou sua existência. Jesus Cristo é Deus. O Inferno existe.
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Fonte: “Vozes de Páscoa”, do Cônego Mello Lula, pp. 47-53;
E. Prof. Salesianas, Niterói, 1930.
Pensamentos de Voltaire
"Convém ter uma religião e não crer nos padres, assim como convém fazer um regime e não crer nos médicos" (Voltaire)
"Se Deus nos criou à sua imagem, vingámo-nos definitivamente" (Voltaire)
Os maus só têm cúmplices; os libertinos têm sócios de
devassidão; o comum dos homens ociosos têm relações. Os homens virtuosos
têm amigos" (Voltaire)
"A falsa ciência cria os ateus, a verdadeira, faz o homem prostrar-se diante da divindade"
(Voltaire)
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