Dom Fernando Arêas Rifan*
Estamos próximos do Carnaval, atualmente
uma festa totalmente profana e nada edificante. Ao lado de desfiles
deslumbrantes das escolas de samba, com todo o seu requinte, riqueza de
detalhes, fantasias fascinantes, desperdício de dinheiro, exposição de luxo,
vaidade e também despudor, presencia-se paralelamente um verdadeiro bacanal de
orgias e festas mundanas, cheias de licenciosidades, onde se pensa que tudo é
permitido. Nesses dias, a moral vem abaixo: até as pessoas mais sérias se
mostram debochadas, a imoralidade e a libertinagem campeiam, a pureza perece e
a tranquilidade desaparece. Infelizmente, há muito tempo que o Carnaval deixou
de ser apenas um folguedo popular, uma festa quase inocente, uma brincadeira de
rua, uma diversão até certo ponto sadia.
Segundo
uma teoria, a origem da palavra “carnaval” vem do latim “carne vale”, “adeus à
carne”, pois no dia seguinte começava o período da Quaresma, tempo em que os
cristãos se abstêm de comer carne, por penitência. Daí que, ao se despedirem da
carne na terça-feira que antecede a Quarta-Feira de Cinzas, se fazia uma boa
refeição, comendo carne evidentemente, e a ela davam adeus. Tudo isso, só
explicável no ambiente cristão, deu origem a uma festa nada cristã. Vê-se como
o sagrado e o profano estão bem próximos, e este pode contaminar aquele. Como
hoje acontece com as festas religiosas, quando o profano que nasce em torno do
sagrado, o acaba abafando e profanando. Isso ocorre até no Natal e nas festas
dos padroeiros das cidades e vilas. O acessório ocupa o lugar do principal, que
fica prejudicado, esquecido e profanado.
A
grande festa cristã é a festa da Páscoa, antecedida imediatamente pela Semana
Santa, para a qual se prepara com a Quaresma, que tem início na Quarta-Feira de
Cinzas, sinal de penitência. Por isso, é a data da Páscoa que regula a data do
Carnaval, que precede a Quarta-Feira de Cinzas, caindo sempre este 47 dias
antes da Páscoa.
Devido
à devassidão que acontecem nesses dias de folia, os cristãos mais conscientes
preferem se retirar do tumulto e se entregar ao recolhimento e à oração. É o
que se chama “retiro de Carnaval”, altamente aconselhável para quem quer se
afastar do barulho e se dedicar um pouco a refletir no único necessário, a
salvação eterna. É tempo de se pensar em Deus, na própria alma, na missão de
cada um, na necessidade de estar bem com Deus e com a própria consciência. “O
barulho não faz bem e o bem não faz barulho”, dizia São Francisco de Sales.
Já
nos advertia São Paulo: “Não vos conformeis com esse século” (Rm 12,2); “Já vos
disse muitas vezes, e agora o repito, chorando: há muitos por aí que se
comportam como inimigos da Cruz de Cristo. O fim deles é a perdição, o deus
deles é o ventre, a glória deles está no que é vergonhoso, apreciam só as
coisas terrenas” (Fl 3, 18-19); “Os que se servem deste mundo, não se detenham
nele, pois a figura deste mundo passa” (cf. 1 Cor 7, 31).
Passemos,
pois, este tempo na tranquilidade do lar, em algum lugar mais calmo ou, melhor
ainda, participando de algum retiro espiritual. Bom descanso e recolhimento
para todos!
Artigo
para dia 15 de fevereiro de 2012, quarta-feira.
*Bispo da Administração Apostólica
Pessoa São
João Maria Vianney.
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