A reportagem é de Julio Algañaraz, publicada no jornal Clarín, 15-02-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Está se expandindo o movimento do Apelo à desobediência, nascido na
Áustria e agora com importantes ramificações na Irlanda, Alemanha,
França e Eslováquia. Não faltam simpatizantes na América Latina, EUA
eAustrália. O papa teme o primeiro cisma progressista, apoiado por
centenas de padres e um grupo de bispos. “Não tememos excomunhões nem
queremos um cisma, mas sim que a Igreja nos escute e dialogue”, explica o
já popular "Lutero austríaco”, padre Helmut Schüller, de 59 anos, líder
da Iniciativa dos Párocos, que conta com o apoio de 400 sacerdotes na
Áustria.
As pesquisas mostram que a maioria dos 4.000 padres austríacos, um país
com profundas tradições católicas tradicionalistas, que vive um processo
de vertiginoso triunfo do secularismo e de distanciamento dos fiéis de
uma Igreja que consideram ancorada no passado, simpatizam com o
movimento que nasceu em junho passado com oApelo à desobediência,
assinado por 329 sacerdotes. Diz-se que mil sacerdotes vivem com uma
mulher e até secretamente casados.
O Pe. Schüller foi afastado como pároco de St. Stephen, em Probstdor,
subúrbio de Viena, onde era presidente da Cáritas austríaca e estreito
colaborador do cardeal Christian Schönborn, um progressista a favor do
celibato voluntário e que foi um dos pupilos favoritos do Papa Joseph
Ratzinger. O cardeal Schönborn naturalmente é contra a Iniciativa dos
Párocos, mas até agora resistiu às pressões de dentro da Igreja local e
das congregações vaticanas, para que comece a dar o castigo que os
rebeldes merecem, porque “as sanções seriam contraproducentes”.
Os “desobedientes”, equivalentes na versão de batina dos “indignados”,
exigem o fim do celibato obrigatório, a permissão da comunhão aos
divorciados em segunda união, a imposição do sacerdócio feminino, um
papel mais importante aos fiéis leigos na Eucaristia, permitindo-lhes
pregar e administrar os sacramentos sem uma missa quando não há
sacerdotes, além de ordenar os viri probati, fiéis casados e com filhos
de provada fé que possam se tornar sacerdotes sem renunciar às suas
famílias. E o respeito pelos homossexuais, abençoando suas uniões.
Heresia pura, se escandalizam no Vaticano. No dia 23 do mês passado, os
principais bispos austríacos foram convocados a Roma para falar sobre o
tema com as autoridades da Cúria Romana, o governo central da Igreja.
O pontífice é muito sensível a um protesto que nasceu do seu próprio
mundo germânico e que se estende a outros países e regiões do mundo.
Dizem que na Irlanda, comovida pelos escândalos de pedofilia por parte
do clero e pelo choque aberto entre o papa e o governo de Dublin, são
600 os sacerdotes que aderem ao Apelo à desobediência.
O cardeal Schönborn voltou a evocar o perigo de um cisma.
O Lutero austríaco responde que “nós queremos ficar dentro da Igreja, e a
Conferência Episcopal deve abrir um diálogo teológico estruturado” com o
movimento rebelde, o que equivaleria a uma legitimação institucional.
Ao contrário, os conservadores, numerosos na Áustria e hegemônicos no
Vaticano, exigem “medidas canônicas punitivas”.
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