Nos dias que se seguiram à
Encarnação do Verbo, permaneceu Maria como aniquilada sob o
pensamento, de que Deus se dignara lançar os olhos à pobre órfã
de Nazaré, para constituí-la Mãe do seu Filho. E, contudo, não
era um sonho: as palavras do Anjo ressoavam-lhe ainda aos ouvidos e
por outra parte, o fogo novo que lhe abrasava o Coração, patenteava
de um modo irrecusável, a presença do Deus de amor.
Quanto mais revolvia estes
pensamentos em Seu espírito, tanto mais se lhe expandia a alma em
efusões de reconhecimento para com Àquele que a elevara, apesar da
Sua indignidade, a tal excesso de honra. Faltava-lhe uma coisa só:
era um confidente, que pudesse receber-lhe o segredo e associar-se à
Sua felicidade. Mas este segredo, preciso lhe era sepultá-lo no mais
profundo de Sua alma, até ao dia em que aprouvesse a Deus revelá-lo.
Só Ele, o Autor do grande Mistério, podia derramar nos espíritos,
quanta luz era precisa para dele lhes dar a inteligência.
Inspirou, então, o Senhor a
Maria, o pensamento de ir visitar a Sua prima Isabel, cujas
inesperadas alegrias o Arcanjo lhe descobrira. E não era justo
rodeá-la com os seus cuidados piedosos nessa circunstância da vida,
alegrar-se com ela e ajudá-la a agradecer ao Senhor? Era preciso
empreender uma viagem de trinta léguas, por montanhas, através dos
desertos de Judá; mas a caridade não conhece, nem dificuldades nem
fadigas. Por outro lado, o Deus que nela morava, impelia-a com
inspirações irresistíveis a por-se a caminho.
Numerosas caravanas se
dirigiam então para Jerusalém por ocasião das festas da Páscoa.
Maria juntou-se com os peregrinos, atravessou a toda a pressa as
colinas de Efraim, saudou de caminho a cidade santa, e metendo-se
pelas gargantas das montanhas, chegou, após cinco dias de viagem, à
velha cidade de Hebron.
Tudo era calma e silêncio na
casa do sacerdote ancião. Mudo e solitário desde a visão no
templo, meditava nos grandes destinos da criança, que Isabel trazia
no seio. E esta, nadando em gozo, passava os dias louvando a Deus,
que se apiedara do seu desamparo e amarguras. Não esperava de modo
algum, a visita da sua prima, quando de repente, aparecendo-lhe no
limiar da porta, lhe dirigiu Maria a saudação costumada: “O
Senhor seja contigo!”.
Ao
som dessa voz mística, Isabel, impressionada até ao fundo da alma,
sentiu que a criatura lhe exultara de alegria no seio. Ao mesmo
tempo, o seu espírito, iluminado do alto, compreendeu claramente a
causa desse jubilo miraculoso. O menino acabava de ser santificado no
claustro materno, tal como o Anjo predisse a Zacarias. Purificado da
mancha original, inundado de graças, dotado
do uso da razão, lá do fundo do seu cárcere, saudou João ao seu
Salvador invisível e desempenhando já o seu papel de Precursor,
revelava-O a sua mãe.
Alumiada
de súbito pelo Espírito Santo, já não viu mais Isabel em sua
prima uma mulher ordinária, mas uma criatura mais graciosa que os
Anjos do Céu. Irrompeu-lhe do peito esta grande exclamação:
“Bendita és Tu entre todas as mulheres, e bendito seja o
Fruto do Teu ventre!”
Exclamação de entusiasmo e de amor, que por todos os séculos
afora, irão repetindo todos os corações fiéis em honra da Virgem
Mãe; e logo ajuntou Isabel: “Donde a mim tal ventura,
que se digne visitar-me a Mãe do meu Deus? Ó Maria, mal ouvi a Tua
voz, logo a criatura de que sou mãe, exultou de alegria em meu seio.
Feliz de Ti, que acreditaste na Palavra de Deus, pois tudo o que Ele
predisse se cumprirá”.
Até este momento, assombrada
à vista de tantas maravilhas, conserva-se em silêncio a Virgem de
Nazaré, mas, ao ouvir os louvores proféticos de Isabel, o seu
Coração, como um vaso que transborda, não pode conter os seus
sentimentos. A Sua alma elevou-se até Deus, único Ser a quem se
deve todo o louvor. Arrebatada em espírito, responde aos parabéns
da prima com este hino sublime em honra do Eterno:
“A
minha alma glorifica ao Senhor, e o meu espírito exulta de alegria,
em Deus meu Salvador.
Porque
se dignou lançar um olhar sobre a sua pobre serva, e eis que
doravante me chamarão bem-aventurada todas as nações.
Porque
operou em mim coisas grandes, Àquele que é poderoso e cujo Nome é
Santo.
Àquele
que de idade em idade estende a Sua misericórdia sobre os que O
temem; e que ostentando o poder do Seu braço, destruiu os soberbos e
lhes confundiu os pensamentos orgulhosos.
Ele
precipitou os poderosos do alto dos seus tronos, para elevar os
pequenos e humildes; Ele saciou os famintos e despediu com as mãos
vazias os opulentos deste mundo”.
No
Seu êxtase, como que via, a Virgem inspirada, passar diante dos Seus
olhos os Faraós, os Holofernes, os Nabucodonosores, os Antíocos,
todos esses opressores de Israel, que desapareceram como sombras, com
um sopro de Javé. E, contemplava Maria a esse povozinho de Deus,
sempre abatido, mas sempre levantado pela mão onipotente do seu
Senhor. Logo sucedeu à visão do passado a visão do futuro. Parando
com a sua vista profética sobre a pátria escrava e sobre as nações
escravizadas pelos espíritos do abismo, lembrou-se que trazia no
seio o Redentor de Israel e do mundo: “Javé,
exclamou Ela, lembrou-se
das suas misericórdias: vai levantar a Israel, seu servo, conforme
prometeu a Abraão e à sua posteridade por todos os séculos”.
Assim cantou a Virgem de
Nazaré, ao anunciar à terra, a vinda do divino Redentor. Assim
devem ter cantado os Anjos quando pela primeira vez contemplavam a
majestade do Altíssimo. Assim cantaram Adão e Eva à sombra do
Paraíso ao admirarem as magnificências da terra e dos Céus. Assim,
tomando da Virgem o seu hino de amor, canta na terra toda alma
remida, quando, ao declinar do dia, se lembra das grandezas e
misericórdias de Jesus, Filho de Maria.
Três meses ficou a humilde
Virgem com sua prima; três meses decorridos demasiado depressa em
piedosas e suaves conversas. Despediu-se, então, Maria dos seus
hóspedes muito queridos, Isabel e Zacarias verteram lágrimas ao
partir Àquela que levava o Deus dos seus corações, e, Maria
chorava também, porque um certo pressentimento a advertia, de que
após estes três meses do Céu, iam começar para Ela dias de
provação...
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Fonte:
R. Pe. Berthe, C.Ss.R., Jesus
Cristo – Sua Vida, Sua
Paixão, Seu Triunfo, Livro Primeiro, Cap. III, pp. 26-31;
Estabelecimentos Benziger & Co. S.A. Editores e Impressores da
Santa Sé Apostólica, Einsiedeln, Suíça, 1925.
Oração
Ó Maria Imaculada, Soberana
Rainha das virgens, eis que me ponho sob a Vossa maternal proteção
e me consagro neste dia totalmente a Vós.
Consagra-Vos o meu corpo com
todos os seus sentidos, o meu coração com todos os seus afetos, a
minha alma com todas as suas potências, a minha vida inteira, para
que todos os meus movimentos sejam um contínuo ato de amor.
Coloco, também, ó minha Mãe,
sob a Vossa salvaguarda as minhas penas e consolações, as minhas
misérias passadas, presentes e futuras, sobretudo, os meus últimos
momentos, suplicando-Vos que, assim como entrastes no mundo
isenta de pecado, me obtenhais de Jesus, Vosso Divino Filho, a graça
de sair deste exílio sem pecado.
Finalmente, Mãe Santíssima,
ensinai-me a amar a Jesus, para que comece já aqui na terra a viver,
a vida que viverei por toda a eternidade, entoando o cântico de amor
na Vossa companhia e na de todos os Anjos e Santos por todos os
séculos. Assim seja.
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