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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

domingo, 20 de novembro de 2016

MEDITAÇÃO DA VISITAÇÃO DA SANTÍSSIMA VIRGEM MARIA À SUA PRIMA, SANTA ISABEL.



Nos dias que se seguiram à Encarnação do Verbo, permaneceu Maria como aniquilada sob o pensamento, de que Deus se dignara lançar os olhos à pobre órfã de Nazaré, para constituí-la Mãe do seu Filho. E, contudo, não era um sonho: as palavras do Anjo ressoavam-lhe ainda aos ouvidos e por outra parte, o fogo novo que lhe abrasava o Coração, patenteava de um modo irrecusável, a presença do Deus de amor.

Quanto mais revolvia estes pensamentos em Seu espírito, tanto mais se lhe expandia a alma em efusões de reconhecimento para com Àquele que a elevara, apesar da Sua indignidade, a tal excesso de honra. Faltava-lhe uma coisa só: era um confidente, que pudesse receber-lhe o segredo e associar-se à Sua felicidade. Mas este segredo, preciso lhe era sepultá-lo no mais profundo de Sua alma, até ao dia em que aprouvesse a Deus revelá-lo. Só Ele, o Autor do grande Mistério, podia derramar nos espíritos, quanta luz era precisa para dele lhes dar a inteligência.

Inspirou, então, o Senhor a Maria, o pensamento de ir visitar a Sua prima Isabel, cujas inesperadas alegrias o Arcanjo lhe descobrira. E não era justo rodeá-la com os seus cuidados piedosos nessa circunstância da vida, alegrar-se com ela e ajudá-la a agradecer ao Senhor? Era preciso empreender uma viagem de trinta léguas, por montanhas, através dos desertos de Judá; mas a caridade não conhece, nem dificuldades nem fadigas. Por outro lado, o Deus que nela morava, impelia-a com inspirações irresistíveis a por-se a caminho.

Numerosas caravanas se dirigiam então para Jerusalém por ocasião das festas da Páscoa. Maria juntou-se com os peregrinos, atravessou a toda a pressa as colinas de Efraim, saudou de caminho a cidade santa, e metendo-se pelas gargantas das montanhas, chegou, após cinco dias de viagem, à velha cidade de Hebron1.

Tudo era calma e silêncio na casa do sacerdote ancião. Mudo e solitário desde a visão no templo, meditava nos grandes destinos da criança, que Isabel trazia no seio. E esta, nadando em gozo, passava os dias louvando a Deus, que se apiedara do seu desamparo e amarguras. Não esperava de modo algum, a visita da sua prima, quando de repente, aparecendo-lhe no limiar da porta, lhe dirigiu Maria a saudação costumada: “O Senhor seja contigo!”.

Ao som dessa voz mística, Isabel, impressionada até ao fundo da alma, sentiu que a criatura lhe exultara de alegria no seio. Ao mesmo tempo, o seu espírito, iluminado do alto, compreendeu claramente a causa desse jubilo miraculoso. O menino acabava de ser santificado no claustro materno, tal como o Anjo predisse a Zacarias. Purificado da mancha original, inundado de graças, dotado do uso da razão, lá do fundo do seu cárcere, saudou João ao seu Salvador invisível e desempenhando já o seu papel de Precursor, revelava-O a sua mãe.

Alumiada de súbito pelo Espírito Santo, já não viu mais Isabel em sua prima uma mulher ordinária, mas uma criatura mais graciosa que os Anjos do Céu. Irrompeu-lhe do peito esta grande exclamação: “Bendita és Tu entre todas as mulheres, e bendito seja o Fruto do Teu ventre!” Exclamação de entusiasmo e de amor, que por todos os séculos afora, irão repetindo todos os corações fiéis em honra da Virgem Mãe; e logo ajuntou Isabel: “Donde a mim tal ventura, que se digne visitar-me a Mãe do meu Deus? Ó Maria, mal ouvi a Tua voz, logo a criatura de que sou mãe, exultou de alegria em meu seio. Feliz de Ti, que acreditaste na Palavra de Deus, pois tudo o que Ele predisse se cumprirá”.

Até este momento, assombrada à vista de tantas maravilhas, conserva-se em silêncio a Virgem de Nazaré, mas, ao ouvir os louvores proféticos de Isabel, o seu Coração, como um vaso que transborda, não pode conter os seus sentimentos. A Sua alma elevou-se até Deus, único Ser a quem se deve todo o louvor. Arrebatada em espírito, responde aos parabéns da prima com este hino sublime em honra do Eterno:

A minha alma glorifica ao Senhor, e o meu espírito exulta de alegria, em Deus meu Salvador.

Porque se dignou lançar um olhar sobre a sua pobre serva, e eis que doravante me chamarão bem-aventurada todas as nações.

Porque operou em mim coisas grandes, Àquele que é poderoso e cujo Nome é Santo.

Àquele que de idade em idade estende a Sua misericórdia sobre os que O temem; e que ostentando o poder do Seu braço, destruiu os soberbos e lhes confundiu os pensamentos orgulhosos.

Ele precipitou os poderosos do alto dos seus tronos, para elevar os pequenos e humildes; Ele saciou os famintos e despediu com as mãos vazias os opulentos deste mundo”.

No Seu êxtase, como que via, a Virgem inspirada, passar diante dos Seus olhos os Faraós, os Holofernes, os Nabucodonosores, os Antíocos, todos esses opressores de Israel, que desapareceram como sombras, com um sopro de Javé. E, contemplava Maria a esse povozinho de Deus, sempre abatido, mas sempre levantado pela mão onipotente do seu Senhor. Logo sucedeu à visão do passado a visão do futuro. Parando com a sua vista profética sobre a pátria escrava e sobre as nações escravizadas pelos espíritos do abismo, lembrou-se que trazia no seio o Redentor de Israel e do mundo: “Javé, exclamou Ela, lembrou-se das suas misericórdias: vai levantar a Israel, seu servo, conforme prometeu a Abraão e à sua posteridade por todos os séculos”.

Assim cantou a Virgem de Nazaré, ao anunciar à terra, a vinda do divino Redentor. Assim devem ter cantado os Anjos quando pela primeira vez contemplavam a majestade do Altíssimo. Assim cantaram Adão e Eva à sombra do Paraíso ao admirarem as magnificências da terra e dos Céus. Assim, tomando da Virgem o seu hino de amor, canta na terra toda alma remida, quando, ao declinar do dia, se lembra das grandezas e misericórdias de Jesus, Filho de Maria.

Três meses ficou a humilde Virgem com sua prima; três meses decorridos demasiado depressa em piedosas e suaves conversas. Despediu-se, então, Maria dos seus hóspedes muito queridos, Isabel e Zacarias verteram lágrimas ao partir Àquela que levava o Deus dos seus corações, e, Maria chorava também, porque um certo pressentimento a advertia, de que após estes três meses do Céu, iam começar para Ela dias de provação...

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Fonte: R. Pe. Berthe, C.Ss.R., Jesus Cristo – Sua Vida, Sua Paixão, Seu Triunfo, Livro Primeiro, Cap. III, pp. 26-31; Estabelecimentos Benziger & Co. S.A. Editores e Impressores da Santa Sé Apostólica, Einsiedeln, Suíça, 1925.


Oração

Ó Maria Imaculada, Soberana Rainha das virgens, eis que me ponho sob a Vossa maternal proteção e me consagro neste dia totalmente a Vós.

Consagra-Vos o meu corpo com todos os seus sentidos, o meu coração com todos os seus afetos, a minha alma com todas as suas potências, a minha vida inteira, para que todos os meus movimentos sejam um contínuo ato de amor.

Coloco, também, ó minha Mãe, sob a Vossa salvaguarda as minhas penas e consolações, as minhas misérias passadas, presentes e futuras, sobretudo, os meus últimos momentos, suplicando-Vos que, assim como entrastes no mundo isenta de pecado, me obtenhais de Jesus, Vosso Divino Filho, a graça de sair deste exílio sem pecado.

Finalmente, Mãe Santíssima, ensinai-me a amar a Jesus, para que comece já aqui na terra a viver, a vida que viverei por toda a eternidade, entoando o cântico de amor na Vossa companhia e na de todos os Anjos e Santos por todos os séculos. Assim seja.


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1.  S. Lucas diz vagamente (1, 39), que a Virgem se dirigiu para uma cidade de Judá, in civitatem Juda. Julgamos com muitos autores, que se trata da cidade sacerdotal de Hebron; posto que outros, seguindo uma tradição da Idade Média, colocam a habitação de Zacarias na pequena aldeia de Ain Karin, a cerca de duas léguas de Jerusalém.


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