A
Segunda Vinda de Jesus Cristo
e
a Devoção do Sagrado Coração
Ai,
dos habitantes da terra, porque, presentemente, mesmo nos cristãos e
católicos, a fé é fraca, vacilante, tíbia; e semelhante tibieza
não é senão isso que Deus detesta, como ensina a Escritura, por
não ser frio, nem quente, mas propício ao vômito.
Onde
o vigor, a energia, a coragem, a intrepidez de que outrora se
revestia a fé, não só agitando os espíritos, mas movendo povos,
nações inteiras à reivindicação dos princípios ou das coisas da
religião?! Que entusiasmo há hoje pelos grandes ideais religiosos
que encheram belos períodos da história?! Que homens se destacam
hoje à frente das nações e que personifiquem na política, na
diplomacia ou na ciência uma ideia cristã?!
O
mesmo Apóstolo que, com tão belas palavras, fez isso que se pode
chamar o hino da Caridade, ensinando que ela é mais que a compaixão,
mais que a lágrima, mais que a dor, mais que a tortura física, mais
que o sangue derramado, mais que o martírio, porque é o amor, e sem
o amor nenhuma dessas coisas tem valor; o mesmo Apóstolo também
entoou o que se pode chamar o cântico triunfal da Fé, quando no-la
descreve como a visão do que não se vê, como a posse do que não
se tem, como a certeza do que nos é prometido, e como gozo do que
esperamos ainda!!
É
desta fé que se pode perguntar: onde está ela hoje?! A fé que
contemplamos, e de que podemos julgar pelos atos da maioria dos
cristãos e católicos, não é uma fé raquítica, acanhada, sem
elevação nem grandeza?! E não é tão excepcional hoje a fé
inteira, ardente, intrépida e valorosa, que se alguns a têm ainda,
e dela dão testemunho, o mundo se admira e não acredita?!
E
porque não mais acredita o mundo nos entusiasmos da fé, senão
porque ele verdadeiramente tocou ao período da vida em que o
organismo, esgotada a seiva, enfraquecido o sangue, enervada a
sensibilidade, atinge a decrepitude?
A
fisiologia nos ensina que o homem tem infância, mocidade, virilidade
e velhice com decrepitude, que o impele para a morte. Estes são os
períodos da vida do homem, que a filosofia verifica igualmente na
vida das nações.
As
nações são o homem coletivamente considerado. As mesmas
leis de vida e de morte regem o homem individual e o homem coletivo.
Não só a fisiologia proclama estas verdades; a história nos mostra
que o mundo tem percorrido estes períodos: infância, mocidade,
virilidade e velhice.
A
grande tradição universal, de que já vos falei, dá para a
existência do mundo o percurso de seus mil anos, e fixa o nosso
milênio, que terminará no prazo de um século, como o último.
É
direito de qualquer católico, principalmente de um pregador,
insistir no que pela Igreja não é proibido crer, antes
permitido, e além disso autorizado com o exemplo de Padres e
Doutores da Igreja.
Insisto,
pois, no que diz respeito a essa tradição, repetindo com o grande e
insigne comentador Cornélio a Lapide: 1º
– é comum aos Judeus, aos Gregos, aos Pagãos, aos Latinos, e
portanto, antiga e universal; 2º
– é uma opinião provável.
Cornélio
a Lapide dá a lista numérica dos Doutores e Padres da Igreja, que
adotam a tradição, afirmando que, desde que não se marque DIA E
HORA para o fim dos tempos, lícito é acreditar que este se
verifique no sexto milênio.
O
Cardeal Belarmino, no livro De Summi Pontificis potestate,
sustenta e defende a tradição, a qual é adotada e aceita nos
Esplendores da Fé por
um dos maiores sábios da nossa época, – Moigno;
desenvolvida e defendida,
ainda no século passado, pelo ilustre publicista católico –
Gaume, em dois livros: Onde estamos?
e Para onde vamos?;
aceita pelo Cardeal Manning, no seu livro: – Domínio
temporal de Jesus Cristo – e
bem recentemente por duas glórias da Igreja Católica: Faber, o
insigne místico, e Desurmont, o insigne asceta.
Perante
a tradição, portanto, não é aceitável a mocidade do mundo. Mas
essa pretensa mocidade tem sido negada também pela história.
A
história nos mostra como o mundo revestiu sucessivamente as
indicações, as ideias e os hábitos característicos das diferentes
idades da vida no homem individual, já porque ele foi sucessivamente
sociedade doméstica,
sociedade civil,
sociedade nacional,
sociedade universal;
já porque finalmente, e este é o fato principal comprobatório da
decrepitude do mundo, ele começou desde quatro séculos a decair,
chegando, pela apostasia da fé e repúdio de Deus, aos limites que a
revelação e a tradição universal lhe assinam.
Abri
a história! Que vedes? No fim do século XV, uma só família de
povos cristãos, o mesmo Símbolo, o mesmo Culto, a mesma Lei; em
toda a parte um só Deus, uma só Fé, um só Batismo! E depois?…
Que sucedeu a essa Unidade: Renascença… Reforma…
Revolução… Socialismo…
Desde
o fim do século XV caminha ou não o mundo, de grau em grau,
invariavelmente, numa decadência, num abatimento contínuo? Que foi
a Renascença? A ressurreição do paganismo na literatura. A
Reforma? A ressurreição do paganismo na religião. A Revolução
Francesa? A ressurreição do paganismo na política. Que é o
Socialismo? A ressurreição da barbárie.
São
ou não sintomas de morte?! Como negar que a velhice do mundo tocou à
decrepitude?! Que se pode imaginar para evitar a catástrofe?… O
rejuvenescimento do mundo, porque nada na criação
rejuvenesce. Como os rios não voltam para a sua nascente, como o
homem não volta da velhice para a virilidade, nem da virilidade para
a mocidade, nem da mocidade para a infância, também as nações não
retrogradam de uma para outra idade. Nunca tal se viu na história;
nem mesmo com a invasão dos bárbaros, ou com o Dilúvio, pois que,
num como noutro caso, o mundo não foi remoçado, foi absorvido.
Um
milagre a regeneração cristã do mundo! E que milagre
extraordinário, descomunal, inaudito! O mundo, repudiando tudo o que
adora presentemente; revogando, nas diferentes nações, todas as
leis, todas as constituições, todos os códigos; substituindo em
tudo isso pelos princípios católicos que abomina, os princípios
revolucionários que glorifica no Governo, na administração, na
política, no ensino, na educação; transformando radicalmente as
suas letras, as suas ciências, as suas artes, as suas indústrias em
arautos da religião, que está banida de todas essas esferas da
atividade humana na nossa época; substituindo, nas democracias e
monarquias, a soberania do povo, que é o seu ídolo, pela soberania
de Deus, que é o seu fantasma; não só libertando a Igreja, mas
dando à Igreja a vida doméstica, na vida civil, na vida política o
lugar que lhe pertenceu e de onde foi expelida; o mundo, enfim,
erguendo sobre as ruínas e os destroços desta civilização uma
civilização completamente católica, simbolizada, não mais nos
estandartes de suas seitas anti-cristãs e de suas lojas maçônicas,
mas na Cruz de Jesus Cristo!
Que
milagre! Que milagre extraordinário, descomunal, inaudito!… E onde
está escrita a promessa deste milagre? Pois não é irrisório
substituir, pela quimera de um milagre que não foi prometido, a
segunda vinda de Jesus Cristo prometida para triunfo
definitivo da Igreja e castigo do mundo, quando chegasse à apostasia
completa?!
Resta
ainda uma das três hipóteses formuladas: a regeneração do mundo
por uma nova religião. Uma nova religião! Mas isto é uma
blasfêmia, porque a hipótese de uma nova religião implica a
afirmativa de que o Cristianismo não é uma religião divina e
revelada; de que Jesus Cristo não é Deus; de que a Igreja não é a
Mestra da Verdade; de que o Evangelho não basta para a salvação
das almas; de que o mundo deve esperar um novo Messias, nova Igreja,
novo Evangelho!
O
que o mundo deve esperar, bem o vedes, é o seu julgamento, a sua
sentença, a sua condenação. E, para regenerá-lo, compadecido
dele, é que Deus lhe tem enviado, nas grandes crises e nos momentos
históricos mais oportunos, ora esses que se podem chamar –
enviados da verdade, ora esses que se podem chamar –
enviados do Amor.
Convencer
da verdade, ou persuadir do amor, – tal se nos manifesta, na
evolução histórica da humanidade, o desígnio principal da
Providência Divina, suscitando na Igreja, em todas as épocas,
esses, de quem já se vos disse, o conveniente e o necessário.
É
o sofisma, é o erro, é a heresia que oprimem o mundo? Deus suscita
os Santo Agostinho, os São Bento, os São Bernardo, os Santo Inácio
de Loiola, os São Domingos, os Francisco de Sales, os Afonso de
Ligório, enviados da verdade, que a proclamam, defendem, vingam!
É
a tibieza que faz esfriar as almas? Deus suscita os Francisco de
Assis, os Vicente de Paulo, os D. Bosco, as Helena, as Juliana, as
Santa Teresa de Jesus, as Clara de Montefalco, as Margarida Maria,
enviados do Amor, que o reacendem e o fazem reviver em chamas
fulgurantes!
Solicitudes
divinas em revelações carinhosas não têm faltado ao mundo em
nenhuma época; mas, na idade moderna, de todas as revelações do
Amor, a maior e a mais estupenda de todas é, sem dúvida, a do
século XVII. A revelação do Sagrado Coração de Jesus é
verdadeiramente o grande e divino remédio oferecido ao mundo para
que, no meio da tibieza que o resfria, se inflamem, ao menos, as
almas que não perderam ainda o senso do divino e o instinto da
salvação.
Preciso
expender algumas considerações sobre a origem, a beleza,
a necessidade, a harmonia, o objeto e a
oportunidade desta Devoção; e terei, assim, pela grandeza e
magnificência do assunto, dado um complemento condigno a esse outro,
que foi o tema da presente série de prédicas, a qual não
concluirei hoje sem primeiro dar bem alto testemunho do meu
contentamento em relação ao bom Pároco desta Paróquia e aos
auditórios que tantas vezes encheram o templo. Do zelo do Pároco,
de seu manifesto interesse pela doutrinação, do muito que fez pela
eficácia e o êxito das prédicas; igualmente, do silêncio e do
respeito, da compostura e atitude sempre nobre dos auditórios tão
numerosos que as têm ouvido, levo a mais grata impressão.
A
origem da devoção ao Sagrado Coração de Jesus,
pode-se dizer que remonta ao Calvário onde, segundo a expressão do
Evangelista, em relação a Jesus Crucificado: “um dos soldados
lhe abriu o lado com uma lança, e imediatamente saiu sangue e água”.
Impossível
era que este episódio não preocupasse sempre, em todos os séculos,
a piedade católica; e por isso, em todas as épocas, o Coração
transpassado de Jesus foi objeto das mais belas e doces meditações.
Cipriano, Ambrósio, Agostinho, os Doutores e Padres da Igreja,
sempre contemplaram com enlevo o Sagrado Coração, que também dos
fiéis recebeu, não um Culto explícito e formal como nos nossos
dias, mas as efusões mais delicadas da ternura que sempre despertou.
Na doutrina dos Doutores e na piedade dos fiéis também, antes da
nossa, em todas as épocas cristãs, a arte se inspirou,
representando o Coração de Jesus como o grande manancial do amor,
que corre na torrente do Precioso Sangue. Quantas almas ardentes e
apaixonadas se extasiaram diante do Coração de Jesus, ainda mesmo
antes dele ser pregado como objeto de uma devoção especial! Nunca,
é certo, ele deixou de ser contemplado, adorado, amado; e nem o
contrário se pode compreender, pois que, desde o Calvário, o
Coração de Jesus ferido, deixando correr Sangue e Água, fascinou
as almas; a umas suscitou contemplações sublimes; a outras, êxtases
terníssimos; a não poucas, desejos inflamados de penetrarem bem
fundo nesse Sagrado Coração, o qual a numerosos servos se revelou,
mas sobretudo, com extremos de ternura inaudita, no século XVII, a
essa que Ele próprio tinha, desde longo tempo, preparado para ser
numa grande revelação, a Apóstola de uma devoção nova, que desse
ao mundo o testemunho mais alto, depois de Pentecostes, da
misericórdia de Deus. Essa Apóstola, essa enviada do amor, é
Margarida Maria, cuja vida chamaria um romance, se não fosse antes
um poema ao mesmo tempo divino e humano, porque é um poema escrito
com lágrimas de uma mulher e o Sangue de um Deus.
Não!
Não pude, sem a mais viva emoção, que ainda neste momento se
reproduz em minha alma, contemplar, há poucos anos, em
Parai-le-Monial, pequena, mas, célebre cidade francesa, o Santuário
em que um Deus esquecido pelo homem, pelo homem desprezado no seu
amor, sem poder resignar-se a esse desprezo e a esse esquecimento,
vem, não mais como um Deus que exige e ordena, mas como um mendigo
que suplica, pedir, rogar, suplicar o amor dos homens, fazer de órgão
dessa súplica, não mais Doutores ilustres, Teólogos iluminados,
Apóstolos impelidos pelo ardor do proselitismo, mas uma mulher, uma
virgem, uma religiosa.
Já
tinha visto, com estes olhos, em Montefalco, pequena cidade italiana,
no coração que lá está intacto, como todo o corpo de Santa Clara
da Cruz, falecida no século XIII, todos os instrumentos da
Crucificação de Jesus Cristo, formados numa reprodução
maravilhosa, com os nervos, as veias, as artérias dessa
extraordinária e sublime devota da Paixão. Aproximando, um do
outro, os dois estupendos prodígios, e vacilando sobre qual fosse o
maior, a mim próprio disse, recordando a incredulidade, a descrença,
o ceticismo de tantos espíritos de nosso tempo: “Meu Deus! Como
diante destes prodígios poderei compreender que o maior dos labores
da Igreja, a mais difícil de suas tarefas, o mais pesado dos seus
apostolados, seja, não o de abater as potências da terra, humilhar
e vencer os impérios, sair triunfante das revoluções, mas
persuadir o homem de que Deus o ama?!
E
que maior amor que o do Sagrado Coração?
A
beleza desta devoção é a beleza mesma do Coração
de Jesus. Pelo muito que num homem nos encante o coração, imaginai
que encanto não deve ter para nós o Coração de um Deus.
Se
eu fosse obrigado (aproprio-me do pensamento de um belo espírito),
se eu fosse obrigado a adorar uma criatura humana, não adoraria nela
a inteligência, por mais elevada que fosse, nem mesmo atingindo às
raias do gênio; não adoraria nela a eloquência, por mais ardente e
remontada que fosse, nem mesmo atingindo o sublime; não adoraria
nela a beleza, por mais peregrina e completa que fosse, nem mesmo
realizando o ideal da Arte. Não; eu não adoraria também numa
criatura humana, nem o poder, nem a fortuna; adoraria o coração!
A
ciência, eu sei, pretende que o coração seja simplesmente uma
víscera; a fisiologia diz dele que é simplesmente um
músculo; a medicina nele não vê senão a caldeira do
sangue, o laboratório da vida. Todos os povos, porém, de acordo com
Deus, veem no coração de um homem o resumo desse homem.
Tamanha
para Deus é a beleza do coração, que não se vê na Escritura, que
Deus tenha jamais pedido a um homem sua inteligência, seu valor ou
sua glória; ao passo que, frequentemente Ele diz, nos Livros Santos,
ao homem: dá-Me o teu coração.
Certo
é, entretanto, que, colocado entre duas correntes, uma que o impele
para o grande e o mais sublime de todos os devotamentos, e outra que
o atrai para todas as misérias da terra, numa multidão de seres
humanos, o coração vive repleto de todas essas iniquidades, de que
o Divino Mestre fala no Evangelho, e que, segundo a sua expressão,
fazem o homem imundo.
O
coração do homem necessita, portanto, de um crisol em que se
purifique, de uma pira em que se abrase, de um modelo que ele
reproduza.
O
homem tem tudo isso na devoção do Sagrado Coração.
O
Coração do Homem-Deus!… Quem pode descrê-lo?
Se
não posso descrever a perfeição da sua inteligência, a perfeição
do seu caráter, a perfeição da sua vontade; como poderei descrever
a perfeição do seu coração que, em Jesus Cristo, é também, como
em todo o homem, o resumo do homem!
O
próprio Jesus Cristo disse: “aprendei de Mim que Sou manso e
humilde de Coração”.
É
preciso, portanto, para satisfazer a necessidade que há
desta devoção, considerar certas verdades.
Uns
não veem no Coração de Jesus senão um objeto material, isto é, o
laboratório carnal do Sangue que resgatou o mundo: é de menos.
Outros, referem ao adorável Coração todas as operações da vida
teândrica de Jesus: é de mais. O coração, no sentido que
nos ocupa, deve ser considerado como o centro da sensibilidade, o
órgão do amor e da dor; e devemos no Sagrado Coração de Jesus
considerar especialmente, com abstração das outras operações, a
sede de suas afeições e sofrimentos; o que não impede outra
verdade, isto é, que o objeto da devoção é duplo:
espiritual e material. O objeto espiritual, – o amor do
Coração de Jesus – é o principal; mas o objeto material, –
o coração de carne, a porção material da Santa Humanidade, –
não é menos digno de nossas homenagens.
Jesus
Cristo, na grande revelação, distinguiu o duplo objeto, o material,
dizendo: eis este coração… e o espiritual, acrescentando:
que tanto amou os homens.
Desejo,
esperança, alegria, tristeza, tudo isso se encontra no Coração de
Jesus, fonte de amor, fonte de lágrimas e humilhações, fonte de
repouso e de paz.
Fonte
de amor, – ele encerra e nos
fala do amor de Jesus por seu Pai Eterno, por sua Mãe Imaculada,
pela Igreja, sua Esposa imortal, e pelos homens, cujos sofrimentos
fez seus.
Fonte
de lágrimas e humilhações, –
ele nos recorda a dor de Jesus, humilhado no seu amor, na sua
dignidade, na sua honra, nenhum homem havendo que tenha sido mais
ferido na sua sensibilidade, mais desprezado no seu amor.
Fonte
de repouso e de paz, – ele
nos mostra a paz e o repouso de Jesus nesse Sagrado Coração, isento
de todo o pecado, e por isso mesmo em tranquilidade absoluta.
A
devoção do Sagrado Coração é, na época presente, uma devoção
de perfeita harmonia
com o estado das almas, e a de maior oportunidade
nas condições atuais do mundo.
Homem
moderno!… o que mais te enfeitiça hoje é o terrestre, o material,
o sensível…
Pois bem; aí tens um crisol divino, para te purificares.
Mundo!…
o que te envolve hoje como num manto de gelo, o que te resfria é a
tibieza da fé, tão vacilante, tão fraca, e aliás já tão rara
que não podes mais duvidar, serem chegados os últimos
tempos profetizados,
caracterizados pelo próprio Divino Mestre. Pois bem; foi o próprio
Divino Mestre quem mais de uma vez revelou ter sido esta devoção
guardada para os últimos tempos;
ser ela o remédio oferecido ao mundo para
que o mundo se aqueça; o remédio prodigalizado às almas para que
as almas se salvem.
Mas,
porque está próxima a Segunda Vinda de Jesus Cristo,
devem as almas entregar-se à inatividade, sem mais lutar nem
combater; e o mundo renunciar, sem esforço, a toda a esperança de
se reformar e de se revestir de fé?
Não!
Engano completo! A Segunda Vinda de Jesus,
pelo contrário, exige das almas e do mundo, melhor e mais clara
compreensão de seus deveres.
Da
parte das almas, – o cuidado
da perfeição individual deve ser mais ativo, a oração mais
fervorosa, a penitência mais proporcional aos pecados cometidos; e,
outrossim, o combate contra os inimigos da Igreja, a peleja pela
Reforma Social, a atividade nas Associações, na Imprensa, na Vida
Civil e Política devem ser maiores que nunca.
Da
parte do mundo, – suas
enormes iniquidades exigem
enormes reparações. Para o mundo como para o homem, individualmente
considerado, todo tempo é tempo propício para reparar o crime e
professar a virtude.
Por
pequeno que seja, como é certo, o intervalo que nos separa da
Segunda Vinda de Jesus Cristo,
nem a morte do homem, nem a morte do mundo justificam a inação, a
negligência, a abstenção da luta.
A
morte, como disse alguém, é uma ideia forte e viril; é a expressão
da energia e da atividade; e eu acrescento: a ideia da morte deve
inspirar entusiasmo e não covardia.
No
homem, a morte é um livramento; no mundo, será uma palingenesia.
Livramento deste peso ignóbil que arrasta para o terrestre;
palingenesia, isto é, transformação deste estado
incompleto, irregular e perturbado do globo e da criação num estado
melhor e definitivo. A morte do homem não é somente um livramento;
será após uma separação transitória, a reunião da alma e do
corpo na perfeição primitiva e adâmica, podendo assim o homem
dirigir à morte vencida esta apóstrofe sublime: “morte,
onde está a tua vitória?!… morte, onde está o teu aguilhão?!”
A
morte do mundo não será uma simples palingenesia, isto é, uma
simples renovação física do universo; será, para a humanidade, um
novo meio vital, uma nova condição de existência gloriosa, um
viver que, sem dúvida, não podemos compreender agora, porque é um
Mistério, mas em que devemos crer, porque cremos em tantos outros
mistérios, que aliás ninguém nega: a luz, o calor, o movimento, a
força.
Não!
Nada morre, tudo é imortal!
A
morte! Rainha efêmera!
Portanto,
ó vós que me ouvis: Sursum corda!
Despedacemos
as cadeias do pecado; e não seremos oprimidos pela única morte, que
é real e não aparente, a morte que se chama Inferno!
Sursum
corda!
Calquemos aos pés a mentira, a vaidade, o orgulho; e os nossos
corações se elevarão até ao Coração de Jesus!
Sursum
corda!
Adoremos este Sagrado Coração; e, resgatados e salvos, teremos
todos o gozo inefável de contemplá-lo nos esplendores da Segunda
Vinda!
Obs: Após
2 anos de provações, consegui terminar, pela graça de Deus, este
despretensioso Ensaio. Que Nossa Senhora do Carmo o abençoe e faça
fecundar nas almas piedosas. Deo Gratias! Ave Carmelo! Ave Maria!
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