Blog Católico, para os Católicos

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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

sexta-feira, 2 de junho de 2017

AS INESGOTÁVEIS RIQUEZAS DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS. (XV Parte)



A Segunda Vinda de Jesus Cristo
e a Devoção do Sagrado Coração1


Ai, dos habitantes da terra, porque, presentemente, mesmo nos cristãos e católicos, a fé é fraca, vacilante, tíbia; e semelhante tibieza não é senão isso que Deus detesta, como ensina a Escritura, por não ser frio, nem quente, mas propício ao vômito.

Onde o vigor, a energia, a coragem, a intrepidez de que outrora se revestia a fé, não só agitando os espíritos, mas movendo povos, nações inteiras à reivindicação dos princípios ou das coisas da religião?! Que entusiasmo há hoje pelos grandes ideais religiosos que encheram belos períodos da história?! Que homens se destacam hoje à frente das nações e que personifiquem na política, na diplomacia ou na ciência uma ideia cristã?!

O mesmo Apóstolo que, com tão belas palavras, fez isso que se pode chamar o hino da Caridade, ensinando que ela é mais que a compaixão, mais que a lágrima, mais que a dor, mais que a tortura física, mais que o sangue derramado, mais que o martírio, porque é o amor, e sem o amor nenhuma dessas coisas tem valor; o mesmo Apóstolo também entoou o que se pode chamar o cântico triunfal da Fé, quando no-la descreve como a visão do que não se vê, como a posse do que não se tem, como a certeza do que nos é prometido, e como gozo do que esperamos ainda!!

É desta fé que se pode perguntar: onde está ela hoje?! A fé que contemplamos, e de que podemos julgar pelos atos da maioria dos cristãos e católicos, não é uma fé raquítica, acanhada, sem elevação nem grandeza?! E não é tão excepcional hoje a fé inteira, ardente, intrépida e valorosa, que se alguns a têm ainda, e dela dão testemunho, o mundo se admira e não acredita?!

E porque não mais acredita o mundo nos entusiasmos da fé, senão porque ele verdadeiramente tocou ao período da vida em que o organismo, esgotada a seiva, enfraquecido o sangue, enervada a sensibilidade, atinge a decrepitude?

A fisiologia nos ensina que o homem tem infância, mocidade, virilidade e velhice com decrepitude, que o impele para a morte. Estes são os períodos da vida do homem, que a filosofia verifica igualmente na vida das nações.

As nações são o homem coletivamente considerado. As mesmas leis de vida e de morte regem o homem individual e o homem coletivo. Não só a fisiologia proclama estas verdades; a história nos mostra que o mundo tem percorrido estes períodos: infância, mocidade, virilidade e velhice.

A grande tradição universal, de que já vos falei, dá para a existência do mundo o percurso de seus mil anos, e fixa o nosso milênio, que terminará no prazo de um século, como o último.

É direito de qualquer católico, principalmente de um pregador, insistir no que pela Igreja não é proibido crer, antes permitido, e além disso autorizado com o exemplo de Padres e Doutores da Igreja.

Insisto, pois, no que diz respeito a essa tradição, repetindo com o grande e insigne comentador Cornélio a Lapide: – é comum aos Judeus, aos Gregos, aos Pagãos, aos Latinos, e portanto, antiga e universal; – é uma opinião provável.

Cornélio a Lapide dá a lista numérica dos Doutores e Padres da Igreja, que adotam a tradição, afirmando que, desde que não se marque DIA E HORA para o fim dos tempos, lícito é acreditar que este se verifique no sexto milênio.

O Cardeal Belarmino, no livro De Summi Pontificis potestate, sustenta e defende a tradição, a qual é adotada e aceita nos Esplendores da Fé por um dos maiores sábios da nossa época, – Moigno; desenvolvida e defendida, ainda no século passado, pelo ilustre publicista católico – Gaume, em dois livros: Onde estamos? e Para onde vamos?; aceita pelo Cardeal Manning, no seu livro: – Domínio temporal de Jesus Cristo – e bem recentemente por duas glórias da Igreja Católica: Faber, o insigne místico, e Desurmont, o insigne asceta.

Perante a tradição, portanto, não é aceitável a mocidade do mundo. Mas essa pretensa mocidade tem sido negada também pela história.

A história nos mostra como o mundo revestiu sucessivamente as indicações, as ideias e os hábitos característicos das diferentes idades da vida no homem individual, já porque ele foi sucessivamente sociedade doméstica, sociedade civil, sociedade nacional, sociedade universal; já porque finalmente, e este é o fato principal comprobatório da decrepitude do mundo, ele começou desde quatro séculos a decair, chegando, pela apostasia da fé e repúdio de Deus, aos limites que a revelação e a tradição universal lhe assinam.

Abri a história! Que vedes? No fim do século XV, uma só família de povos cristãos, o mesmo Símbolo, o mesmo Culto, a mesma Lei; em toda a parte um só Deus, uma só Fé, um só Batismo! E depois?… Que sucedeu a essa Unidade: Renascença… Reforma… Revolução… Socialismo…

Desde o fim do século XV caminha ou não o mundo, de grau em grau, invariavelmente, numa decadência, num abatimento contínuo? Que foi a Renascença? A ressurreição do paganismo na literatura. A Reforma? A ressurreição do paganismo na religião. A Revolução Francesa? A ressurreição do paganismo na política. Que é o Socialismo? A ressurreição da barbárie.

São ou não sintomas de morte?! Como negar que a velhice do mundo tocou à decrepitude?! Que se pode imaginar para evitar a catástrofe?… O rejuvenescimento do mundo, porque nada na criação rejuvenesce. Como os rios não voltam para a sua nascente, como o homem não volta da velhice para a virilidade, nem da virilidade para a mocidade, nem da mocidade para a infância, também as nações não retrogradam de uma para outra idade. Nunca tal se viu na história; nem mesmo com a invasão dos bárbaros, ou com o Dilúvio, pois que, num como noutro caso, o mundo não foi remoçado, foi absorvido.

Um milagre a regeneração cristã do mundo! E que milagre extraordinário, descomunal, inaudito! O mundo, repudiando tudo o que adora presentemente; revogando, nas diferentes nações, todas as leis, todas as constituições, todos os códigos; substituindo em tudo isso pelos princípios católicos que abomina, os princípios revolucionários que glorifica no Governo, na administração, na política, no ensino, na educação; transformando radicalmente as suas letras, as suas ciências, as suas artes, as suas indústrias em arautos da religião, que está banida de todas essas esferas da atividade humana na nossa época; substituindo, nas democracias e monarquias, a soberania do povo, que é o seu ídolo, pela soberania de Deus, que é o seu fantasma; não só libertando a Igreja, mas dando à Igreja a vida doméstica, na vida civil, na vida política o lugar que lhe pertenceu e de onde foi expelida; o mundo, enfim, erguendo sobre as ruínas e os destroços desta civilização uma civilização completamente católica, simbolizada, não mais nos estandartes de suas seitas anti-cristãs e de suas lojas maçônicas, mas na Cruz de Jesus Cristo!

Que milagre! Que milagre extraordinário, descomunal, inaudito!… E onde está escrita a promessa deste milagre? Pois não é irrisório substituir, pela quimera de um milagre que não foi prometido, a segunda vinda de Jesus Cristo prometida para triunfo definitivo da Igreja e castigo do mundo, quando chegasse à apostasia completa?!

Resta ainda uma das três hipóteses formuladas: a regeneração do mundo por uma nova religião. Uma nova religião! Mas isto é uma blasfêmia, porque a hipótese de uma nova religião implica a afirmativa de que o Cristianismo não é uma religião divina e revelada; de que Jesus Cristo não é Deus; de que a Igreja não é a Mestra da Verdade; de que o Evangelho não basta para a salvação das almas; de que o mundo deve esperar um novo Messias, nova Igreja, novo Evangelho!

O que o mundo deve esperar, bem o vedes, é o seu julgamento, a sua sentença, a sua condenação. E, para regenerá-lo, compadecido dele, é que Deus lhe tem enviado, nas grandes crises e nos momentos históricos mais oportunos, ora esses que se podem chamar – enviados da verdade, ora esses que se podem chamar – enviados do Amor.

Convencer da verdade, ou persuadir do amor, – tal se nos manifesta, na evolução histórica da humanidade, o desígnio principal da Providência Divina, suscitando na Igreja, em todas as épocas, esses, de quem já se vos disse, o conveniente e o necessário.

É o sofisma, é o erro, é a heresia que oprimem o mundo? Deus suscita os Santo Agostinho, os São Bento, os São Bernardo, os Santo Inácio de Loiola, os São Domingos, os Francisco de Sales, os Afonso de Ligório, enviados da verdade, que a proclamam, defendem, vingam!

É a tibieza que faz esfriar as almas? Deus suscita os Francisco de Assis, os Vicente de Paulo, os D. Bosco, as Helena, as Juliana, as Santa Teresa de Jesus, as Clara de Montefalco, as Margarida Maria, enviados do Amor, que o reacendem e o fazem reviver em chamas fulgurantes!

Solicitudes divinas em revelações carinhosas não têm faltado ao mundo em nenhuma época; mas, na idade moderna, de todas as revelações do Amor, a maior e a mais estupenda de todas é, sem dúvida, a do século XVII. A revelação do Sagrado Coração de Jesus é verdadeiramente o grande e divino remédio oferecido ao mundo para que, no meio da tibieza que o resfria, se inflamem, ao menos, as almas que não perderam ainda o senso do divino e o instinto da salvação.

Preciso expender algumas considerações sobre a origem, a beleza, a necessidade, a harmonia, o objeto e a oportunidade desta Devoção; e terei, assim, pela grandeza e magnificência do assunto, dado um complemento condigno a esse outro, que foi o tema da presente série de prédicas, a qual não concluirei hoje sem primeiro dar bem alto testemunho do meu contentamento em relação ao bom Pároco desta Paróquia e aos auditórios que tantas vezes encheram o templo. Do zelo do Pároco, de seu manifesto interesse pela doutrinação, do muito que fez pela eficácia e o êxito das prédicas; igualmente, do silêncio e do respeito, da compostura e atitude sempre nobre dos auditórios tão numerosos que as têm ouvido, levo a mais grata impressão.

A origem da devoção ao Sagrado Coração de Jesus, pode-se dizer que remonta ao Calvário onde, segundo a expressão do Evangelista, em relação a Jesus Crucificado: “um dos soldados lhe abriu o lado com uma lança, e imediatamente saiu sangue e água”.

Impossível era que este episódio não preocupasse sempre, em todos os séculos, a piedade católica; e por isso, em todas as épocas, o Coração transpassado de Jesus foi objeto das mais belas e doces meditações. Cipriano, Ambrósio, Agostinho, os Doutores e Padres da Igreja, sempre contemplaram com enlevo o Sagrado Coração, que também dos fiéis recebeu, não um Culto explícito e formal como nos nossos dias, mas as efusões mais delicadas da ternura que sempre despertou. Na doutrina dos Doutores e na piedade dos fiéis também, antes da nossa, em todas as épocas cristãs, a arte se inspirou, representando o Coração de Jesus como o grande manancial do amor, que corre na torrente do Precioso Sangue. Quantas almas ardentes e apaixonadas se extasiaram diante do Coração de Jesus, ainda mesmo antes dele ser pregado como objeto de uma devoção especial! Nunca, é certo, ele deixou de ser contemplado, adorado, amado; e nem o contrário se pode compreender, pois que, desde o Calvário, o Coração de Jesus ferido, deixando correr Sangue e Água, fascinou as almas; a umas suscitou contemplações sublimes; a outras, êxtases terníssimos; a não poucas, desejos inflamados de penetrarem bem fundo nesse Sagrado Coração, o qual a numerosos servos se revelou, mas sobretudo, com extremos de ternura inaudita, no século XVII, a essa que Ele próprio tinha, desde longo tempo, preparado para ser numa grande revelação, a Apóstola de uma devoção nova, que desse ao mundo o testemunho mais alto, depois de Pentecostes, da misericórdia de Deus. Essa Apóstola, essa enviada do amor, é Margarida Maria, cuja vida chamaria um romance, se não fosse antes um poema ao mesmo tempo divino e humano, porque é um poema escrito com lágrimas de uma mulher e o Sangue de um Deus.

Não! Não pude, sem a mais viva emoção, que ainda neste momento se reproduz em minha alma, contemplar, há poucos anos, em Parai-le-Monial, pequena, mas, célebre cidade francesa, o Santuário em que um Deus esquecido pelo homem, pelo homem desprezado no seu amor, sem poder resignar-se a esse desprezo e a esse esquecimento, vem, não mais como um Deus que exige e ordena, mas como um mendigo que suplica, pedir, rogar, suplicar o amor dos homens, fazer de órgão dessa súplica, não mais Doutores ilustres, Teólogos iluminados, Apóstolos impelidos pelo ardor do proselitismo, mas uma mulher, uma virgem, uma religiosa.

Já tinha visto, com estes olhos, em Montefalco, pequena cidade italiana, no coração que lá está intacto, como todo o corpo de Santa Clara da Cruz, falecida no século XIII, todos os instrumentos da Crucificação de Jesus Cristo, formados numa reprodução maravilhosa, com os nervos, as veias, as artérias dessa extraordinária e sublime devota da Paixão. Aproximando, um do outro, os dois estupendos prodígios, e vacilando sobre qual fosse o maior, a mim próprio disse, recordando a incredulidade, a descrença, o ceticismo de tantos espíritos de nosso tempo: “Meu Deus! Como diante destes prodígios poderei compreender que o maior dos labores da Igreja, a mais difícil de suas tarefas, o mais pesado dos seus apostolados, seja, não o de abater as potências da terra, humilhar e vencer os impérios, sair triunfante das revoluções, mas persuadir o homem de que Deus o ama?!

E que maior amor que o do Sagrado Coração?

A beleza desta devoção é a beleza mesma do Coração de Jesus. Pelo muito que num homem nos encante o coração, imaginai que encanto não deve ter para nós o Coração de um Deus.

Se eu fosse obrigado (aproprio-me do pensamento de um belo espírito), se eu fosse obrigado a adorar uma criatura humana, não adoraria nela a inteligência, por mais elevada que fosse, nem mesmo atingindo às raias do gênio; não adoraria nela a eloquência, por mais ardente e remontada que fosse, nem mesmo atingindo o sublime; não adoraria nela a beleza, por mais peregrina e completa que fosse, nem mesmo realizando o ideal da Arte. Não; eu não adoraria também numa criatura humana, nem o poder, nem a fortuna; adoraria o coração!

A ciência, eu sei, pretende que o coração seja simplesmente uma víscera; a fisiologia diz dele que é simplesmente um músculo; a medicina nele não vê senão a caldeira do sangue, o laboratório da vida. Todos os povos, porém, de acordo com Deus, veem no coração de um homem o resumo desse homem.

Tamanha para Deus é a beleza do coração, que não se vê na Escritura, que Deus tenha jamais pedido a um homem sua inteligência, seu valor ou sua glória; ao passo que, frequentemente Ele diz, nos Livros Santos, ao homem: dá-Me o teu coração.

Certo é, entretanto, que, colocado entre duas correntes, uma que o impele para o grande e o mais sublime de todos os devotamentos, e outra que o atrai para todas as misérias da terra, numa multidão de seres humanos, o coração vive repleto de todas essas iniquidades, de que o Divino Mestre fala no Evangelho, e que, segundo a sua expressão, fazem o homem imundo.

O coração do homem necessita, portanto, de um crisol em que se purifique, de uma pira em que se abrase, de um modelo que ele reproduza.

O homem tem tudo isso na devoção do Sagrado Coração.

O Coração do Homem-Deus!… Quem pode descrê-lo?

Se não posso descrever a perfeição da sua inteligência, a perfeição do seu caráter, a perfeição da sua vontade; como poderei descrever a perfeição do seu coração que, em Jesus Cristo, é também, como em todo o homem, o resumo do homem!

O próprio Jesus Cristo disse: “aprendei de Mim que Sou manso e humilde de Coração”.

É preciso, portanto, para satisfazer a necessidade que há desta devoção, considerar certas verdades.

Uns não veem no Coração de Jesus senão um objeto material, isto é, o laboratório carnal do Sangue que resgatou o mundo: é de menos. Outros, referem ao adorável Coração todas as operações da vida teândrica de Jesus: é de mais. O coração, no sentido que nos ocupa, deve ser considerado como o centro da sensibilidade, o órgão do amor e da dor; e devemos no Sagrado Coração de Jesus considerar especialmente, com abstração das outras operações, a sede de suas afeições e sofrimentos; o que não impede outra verdade, isto é, que o objeto da devoção é duplo: espiritual e material. O objeto espiritual, – o amor do Coração de Jesus – é o principal; mas o objeto material, – o coração de carne, a porção material da Santa Humanidade, – não é menos digno de nossas homenagens.

Jesus Cristo, na grande revelação, distinguiu o duplo objeto, o material, dizendo: eis este coração… e o espiritual, acrescentando: que tanto amou os homens.

Desejo, esperança, alegria, tristeza, tudo isso se encontra no Coração de Jesus, fonte de amor, fonte de lágrimas e humilhações, fonte de repouso e de paz.

Fonte de amor, – ele encerra e nos fala do amor de Jesus por seu Pai Eterno, por sua Mãe Imaculada, pela Igreja, sua Esposa imortal, e pelos homens, cujos sofrimentos fez seus.

Fonte de lágrimas e humilhações, – ele nos recorda a dor de Jesus, humilhado no seu amor, na sua dignidade, na sua honra, nenhum homem havendo que tenha sido mais ferido na sua sensibilidade, mais desprezado no seu amor.

Fonte de repouso e de paz, – ele nos mostra a paz e o repouso de Jesus nesse Sagrado Coração, isento de todo o pecado, e por isso mesmo em tranquilidade absoluta.

A devoção do Sagrado Coração é, na época presente, uma devoção de perfeita harmonia com o estado das almas, e a de maior oportunidade nas condições atuais do mundo.

Homem moderno!… o que mais te enfeitiça hoje é o terrestre, o material, o sensível… Pois bem; aí tens um crisol divino, para te purificares.

Mundo!… o que te envolve hoje como num manto de gelo, o que te resfria é a tibieza da fé, tão vacilante, tão fraca, e aliás já tão rara que não podes mais duvidar, serem chegados os últimos tempos profetizados, caracterizados pelo próprio Divino Mestre. Pois bem; foi o próprio Divino Mestre quem mais de uma vez revelou ter sido esta devoção guardada para os últimos tempos; ser ela o remédio oferecido ao mundo para que o mundo se aqueça; o remédio prodigalizado às almas para que as almas se salvem.




Mas, porque está próxima a Segunda Vinda de Jesus Cristo, devem as almas entregar-se à inatividade, sem mais lutar nem combater; e o mundo renunciar, sem esforço, a toda a esperança de se reformar e de se revestir de fé?

Não! Engano completo! A Segunda Vinda de Jesus, pelo contrário, exige das almas e do mundo, melhor e mais clara compreensão de seus deveres.

Da parte das almas, – o cuidado da perfeição individual deve ser mais ativo, a oração mais fervorosa, a penitência mais proporcional aos pecados cometidos; e, outrossim, o combate contra os inimigos da Igreja, a peleja pela Reforma Social, a atividade nas Associações, na Imprensa, na Vida Civil e Política devem ser maiores que nunca.

Da parte do mundo, – suas enormes iniquidades exigem enormes reparações. Para o mundo como para o homem, individualmente considerado, todo tempo é tempo propício para reparar o crime e professar a virtude.

Por pequeno que seja, como é certo, o intervalo que nos separa da Segunda Vinda de Jesus Cristo, nem a morte do homem, nem a morte do mundo justificam a inação, a negligência, a abstenção da luta.

A morte, como disse alguém, é uma ideia forte e viril; é a expressão da energia e da atividade; e eu acrescento: a ideia da morte deve inspirar entusiasmo e não covardia.

No homem, a morte é um livramento; no mundo, será uma palingenesia. Livramento deste peso ignóbil que arrasta para o terrestre; palingenesia, isto é, transformação deste estado incompleto, irregular e perturbado do globo e da criação num estado melhor e definitivo. A morte do homem não é somente um livramento; será após uma separação transitória, a reunião da alma e do corpo na perfeição primitiva e adâmica, podendo assim o homem dirigir à morte vencida esta apóstrofe sublime: “morte, onde está a tua vitória?!… morte, onde está o teu aguilhão?!”

A morte do mundo não será uma simples palingenesia, isto é, uma simples renovação física do universo; será, para a humanidade, um novo meio vital, uma nova condição de existência gloriosa, um viver que, sem dúvida, não podemos compreender agora, porque é um Mistério, mas em que devemos crer, porque cremos em tantos outros mistérios, que aliás ninguém nega: a luz, o calor, o movimento, a força.

Não! Nada morre, tudo é imortal!

A morte! Rainha efêmera!

Portanto, ó vós que me ouvis: Sursum corda!

Despedacemos as cadeias do pecado; e não seremos oprimidos pela única morte, que é real e não aparente, a morte que se chama Inferno!

Sursum corda! Calquemos aos pés a mentira, a vaidade, o orgulho; e os nossos corações se elevarão até ao Coração de Jesus!

Sursum corda! Adoremos este Sagrado Coração; e, resgatados e salvos, teremos todos o gozo inefável de contemplá-lo nos esplendores da Segunda Vinda!



Obs: Após 2 anos de provações, consegui terminar, pela graça de Deus, este despretensioso Ensaio. Que Nossa Senhora do Carmo o abençoe e faça fecundar nas almas piedosas. Deo Gratias! Ave Carmelo! Ave Maria!


__________________

1.  Rev. Pe. Júlio Maria, C.Ss.R., “A Segunda Vinda de Jesus Cristo”, Cap. XII, pp. 152-166; 1º Volume da “Coleção Cristo Redentor”; Estabelecimento de Artes Gráficas – C. Mendes Júnior, Rio de Janeiro, 1932.

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