Meditações
para Todos os Dias da Semana,
e
também para uma Novena.
1º
Dia
Domingo
Nosso
coração encontra
no
Coração de Jesus
o
verdadeiro repouso
e
a genuína felicidade
1.
Jesus. Filho, se queres
alcançar a verdadeira felicidade, aplica o teu coração à imitação
e à convivência do Meu Coração.
Nele
encontrarás a paz e a tranquilidade que o mundo não pode dar nem
tomar. Se uma vez entrasses perfeitamente no íntimo do Meu
Coração, daí verias todas as coisas terrenas como realmente são e
não como as avaliam os insensatos idólatras do mundo.
Facilmente
te libertarás dos cuidados supérfluos e penosos das criaturas e só
os bens verdadeiros julgarias dignos de ti.
2.
Teu coração, sujeito a contínuas vicissitudes, muda sete vezes por
dia. Inconstante como o mar, ora está alegre ora triste, tranquilo
ou agitado, umas vezes inflamado no amor das criaturas, outras,
enfastiado com a sua vaidade; agora, fervoroso, logo depois
entibiado.
Se,
porém, teu coração estivesse unido ao Meu, far-se-ia subitamente
grande e duradoura serenidade.
Seguro
por estar unido ao Meu Coração, permanecerias como um porto seguro
sempre o mesmo, inabalável e inacessível a qualquer mudança, quer
soprasse vento favorável quer contrário.
Se
te esconderes no Meu Coração, nenhum inimigo te poderá prejudicar.
O Diabo ronda à procura de presa, e arrasta muitos consigo à
perdição. De ti, porém, não conseguirá aproximar-se nem
perturbar-te a paz.
3.
Oxalá conhecesses o dom de Deus e
soubesses quantos bens encerra! Na verdade nele se encontra teu
repouso e toda a tua felicidade.
A
paz constante, a segurança imperturbável, a verdadeira alegria do
coração são a partilha de quantos amam e habitam o Meu Coração.
De
que servem as riquezas, as honras, os prazeres, se o coração não
se sentir tranquilo e satisfeito? Que pode dar-nos o mundo inteiro
senão inquietações e dissabores? Por conseguinte, sejam quais
forem os teus bens, estarás infeliz até repousares em Mim, que Sou
o único capaz de contentar-te.
4.
Discípulo.
Assim mo atesta a experiência, ó Senhor. Pois em todas coisas
busquei a paz e só encontrei contínuas perturbações.
Para
vossa glória e nosso bem, quisestes que só em Vós nosso coração
encontrasse a paz. Criastes-nos para Vós, ó Senhor, e nosso coração
sente-se inquieto e infeliz até descansar em Vós.
Ó
dulcíssimo Coração de Jesus! Delícias da Santíssima Trindade!
Alegria de todos os Anjos e Santos! Bem-aventurado paraíso das
almas! Que hei de querer fora de Vós, se aí encontro tudo que posso
e devo desejar? Em Vós o Céu encontra o seu gozo, a terra a sua
felicidade. Sendo Vós a Bem-aventurança de todos, por que não
sereis a minha? Sim, ó Jesus dulcíssimo de Coração, sois meu
repouso, minha Bem-aventurança para sempre.
2º
Dia
Segunda-feira
Para
a Salvação é necessário
imitar
o Coração de Jesus
1.
Jesus.
Filho, uma só coisa é, antes de tudo, necessária: salvares a tua
alma. Se a perderes, tudo estará perdido; se a salvares, tudo estará
salvo.
Não
alcançarás, contudo, a eterna salvação da tua alma, se não
imitares o Meu Coração. Pois os que Deus conheceu na sua
presciência, também predestinou a se tornarem conformes à imagem
do seu Filho.
Qual
é, porém, esta imagem do Filho de Deus, à qual todos os eleitos se
devem conformar, senão o Meu Coração? A todos não é dado imitar
Minhas ações externas, nem depende do homem fazer os milagres por
Mim operados. Outrossim, em consequência dos diversos estados da
vida humana, não podem todos seguir o Meu modo de viver exterior.
Entretanto, todos, grandes e pequenos, doutos e ignorantes, em
qualquer estado, podem e devem imitar os sentimentos íntimos do Meu
Coração. Se, portanto, desejas a eterna salvação, conforma-te ao
Meu Coração e aprende a revestir-te dos Meus sentimentos.
2.
Ainda
que distribuísses aos pobres todos os teus bens, entregasses o corpo
às maiores penitências, conhecesses todos os mistérios e operasses
estupendos prodígios, se não tiveres
em teu coração semelhança com o Meu, nada serias e todas estas
coisas de nada te valeriam eternamente.
Pela
semelhança com o Meu Coração, hás de ser julgado e receber tua
sorte eterna.
Muitos,
na hora do juízo, dir-Me-ão: “Senhor, não foi em Vosso Nome que
profetizamos, expulsamos Demônios e fizemos inúmeros milagres?”
Eu, porém, lhes responderei: “Não vos conheço. Acaso não vedes
as Chagas que Me infligistes? Não reconheceis o Lado por vós transpassado, que por vosso amor permaneceu aberto, sem que
consentisses em entrar nele?
De
nada servirá o que fizerdes, se não for feito segundo o Meu
Coração”.
3.
Não é a aparência exterior de piedade, porém, o coração devoto
que torna o homem bom e caro diante de Mim.
Tua
salvação estará segura na medida em que conformares o teu coração
ao Meu.
Faze
por tua salvação quanto te for possível. Não pode haver
solicitude excessiva, quando se acha em perigo a eternidade.
No
momento da morte descobrirás estar perdido tudo o que houveres feito
sem referi-lo a Mim e
à salvação. Se tão grande é a importância da salvação eterna,
lembra-te que o valor da imitação do Meu Coração é proporcionado
ao da salvação da tua alma.
4.
Discípulo.
Ó Salvação eterna da alma, única coisa que me é sumamente
necessária! Por que estou neste mundo, senão para salvar a minha
alma? E por que fui resgatado, provido de tantos socorros, cumulado
de tantos benefícios divinos, senão para mais fácil e suavemente
salvar a minha alma?
Mas,
ai de mim! Ainda não comecei seriamente a obra, para a qual me acho
neste mundo. Depois de remido, novamente tornei-me vil escravo e
pereci, abusando dos meios e benefícios que tão facilmente me
poderiam fazer feliz e salvo.
Ó
Senhor Deus! Com toda a justiça poderíeis ter permitido que me
perdesse eternamente e sofresse perpétuo infortúnio, bem merecido
por minha malícia e pelo abuso de vossos dons. Mas, já que a
infinita bondade do Vosso Coração assim não permitiu, mas, ao
contrário, com novo e maior benefício, incitou-me a apreciar e amar
a eterna salvação da minha alma, não serei mais ingrato nem me
exporei à perdição eterna. Deliberadamente prometo cooperar com as
suavíssimas inspirações de Vosso Coração, conducentes à
Bem-aventurança e salvação da minha alma.
3º
Dia
Terça-feira
Toda
a nossa Perfeição consiste
em
imitar o Coração de Jesus
1.
Jesus.
Filho, toda a tua perfeição consiste em te assemelhares com o Meu
divino Coração. Meu Coração é o Coração do Verbo de Deus, a
norma de todas as virtudes, a própria Santidade.
Por
conseguinte, quem imita o Meu Coração, imita seu Deus e Salvador,
que é a mesma Santidade.
Sendo,
portanto, o Meu Coração o Modelo da perfeição e a Fonte de toda
graça, dele aprenderás os meios para santificar-te, haurindo ao
mesmo tempo a fortaleza para bem proceder.
Se
queres, pois, ser perfeito, imita o Meu Coração e, quanto mais lhe
fores semelhante, tanto mais perfeito serás.
2.
Meu Coração é humilde, e a humildade é a base da verdadeira
santificação. Se não aprenderes do Meu Coração a humildade,
jamais possuirás esta virtude e apenas de nome a conhecerás.
Se
quiseres colocar sobre outro fundamento o edifício da perfeição,
não permanecerá de pé, mas ao sopro do menor vento desabará,
sendo grande sua ruína.
Meu
Coração também é manso e cheio de caridade: a caridade, porém, é
a perfeição da santidade.
Teu
coração nunca arderá nas chamas da verdadeira caridade, se não
for inflamado por aquele fogo de amor que abrasa o Meu.
Ai
de ti, se outro fogo se acender em teu coração, abrasando-te,
porém, para tua perdição!
3.
Jamais alcançarás virtudes sólidas, nem atingirás a santidade, a
não ser imitando o Meu Coração.
Embora
deres sinais de virtude e pareceres Meu devoto, sem que teu coração
imite o Meu, toda a tua piedade será apenas mera atitude exterior.
Não
há esperança de perfeição, se não tomares por modelo o Meu
Coração.
4.
Assim foi desde o princípio do mundo, pois já a Lei Antiga
prenunciava quais seriam os sentimentos do Meu Coração, e ninguém
foi admitido entre os eleitos, sem ter impressas no seu coração as
qualidades do Meu.
Desde
o início da Igreja até hoje, sempre foi o Meu Coração a
santificação dos Apóstolos, a fortaleza dos Mártires, a
constância dos Confessores, a pureza das Virgens, a perseverança
dos Justos e a perfeição de Todos os Santos.
Coragem,
pois, meu filho! Segue o Meu Coração para onde quer que Ele te
conduza. Quanto de mais perto O seguires, tanto mais te aproximarás
da perfeição consumada.
Da
imitação do Meu Coração provém o cumprimento perfeito da Lei
inteira e toda a santidade.
É
sinal certo de predestinação o esforço assíduo para imitar o Meu
Coração.
5.
Discípulo.
Ó doce Jesus, Fonte de vida e graça, animai-me com Vosso auxílio a
estudar e imitar o Vosso Coração, norma de virtude e exemplar da
santidade. Libertai o meu coração de toda ilusão ou empecilho.
Fazei que Vos procure com afeto puro e simples, revestindo-me de
Vossos sentimentos interiores e das disposições do Vosso Coração
e assim assemelhando-me profundamente a Vós.
Ai,
Senhor! Quão dissemelhante é o meu coração do Vosso! Quão pouco
até hoje trabalhei para reproduzir em minha vida a vida do Vosso
Coração!
Oxalá
não me houvesse esforçado por perverter o meu coração e afastá-lo
do Vosso! Ó cegueira e insensatez da minha alma! Compadecei-Vos de
mim, Senhor Jesus, compadecei-Vos de mim segundo a grande
misericórdia de Vosso Coração!
Quantos
homens não viveram tanto tempo como eu, nem tiveram os mesmos meios,
e todavia se santificaram, tornando-se fervorosos discípulos do
Vosso Coração! E eu ainda não possuo sequer o início da
santidade, pois sou pecador.
É
tempo, Senhor, é tempo que comece a obra da minha santificação até
hoje negligenciada. Anima-me e estimula-me o pensamento de que ainda
posso santificar-me, tornar-me discípulo do Vosso Coração,
distinguir-me por esse felicíssimo sinal de predestinação.
Levantai-me
o ânimo, ó Bom Jesus, dai-me auxílio e coragem. Eis que agora vou
começar.
4º
Dia
Quarta-feira
Deve
purificar o coração
quem
deseja imitar
o
Coração de Jesus
1.
Jesus.
Filho, se queres granjear a amizade do Meu Coração e gozar a
inefável doçura da sua familiaridade, purifica de todo mal o teu
coração.
Teu
Amado, puro e sem mácula, encontra-se entre os lírios.
Como
poderá haver união entre Meu Coração e o teu, se não o
purificares assiduamente?
Ai,
meu filho! Que coração é o teu! Nascido no pecado, morada dos
Demônios, poluído e deformado por tantas máculas, inclinado com
veemência ao mal e tristemente afastado dos bens superiores,
fomentando afeições desordenadas, geradoras de pecados, cheio do
mundo e de si mesmo, habituado a considerar-se como fim de todas as
suas ações!
2.
É para admirar que ouses convidar-me a visitar um tal coração, a
morar entre tantas imundícies.
O
coração perverso me é abominável, o coração impuro provoca-Me
náuseas. Como poderia comprazer-Me em tê-lo por morada? Busco um
coração puro. Minhas delícias consistem em habitar nele e
recrear-Me entre os lírios.
Por
conseguinte, quem ama a pureza do coração gozará da Minha Presença
e por experiência conhecerá a ternura e divina suavidade do Meu
Coração.
3.
Não te iludas, filho, julgando andar bem, quando teu proceder
exterior é correto, visto ser principalmente o coração que Eu
considero.
De
que te servirá agradar pelo exterior a todas as criaturas, se
no íntimo Me desagradares?
Se
teu coração for puro, serás todo puro. Pois do teu íntimo
procedem os maus pensamentos, impurezas, fraudes, detrações, enfim,
todos os males.
Torne-se
puro o teu coração, e nada te impedirá de alcançar suavemente a
íntima união Comigo e saborear plenamente a doçura do Meu Coração.
Se, porém, te afastares do mal apenas exteriormente e não
extirpares do teu coração o pecado, nunca estarás isento de
vícios. Mas estes propagar-se-ão dez vezes mais no teu íntimo do
que os poderias evitar no exterior. E enquanto tua conduta externa
parece irrepreensível, és oprimido sob o peso dos males internos.
4.
Eia, meu filho, prepara-Me em teu coração límpida morada, e Eu, a
ele vindo, serei todo teu e tu todo Meu. Haverá entre nós admirável
intimidade e união só conhecida dos que a experimentaram.
Sê
generoso e começa sem detença esta obra de tão grande importância.
Não sentirás verdadeira alegria, enquanto não a completares.
A
muitos o receio da dificuldade impede a perfeita purificação do
coração. É astúcia do Demônio. Este antigo Inimigo da salvação
humana, sabendo que da verdadeira e total purificação do coração
dependem não só a tua salvação e perfeição, mas
também a do próximo e principalmente a Minha glória, envida todos
os esforços para impedi-la. Não prestes ouvidos às sugestões do
artificioso Inimigo, a quem pouco importa obter o seu fim por meio de
verdades ou mentiras.
Reza,
porém, pede a graça divina e com ela põe virilmente mãos à obra.
Verás todas as dificuldades dissiparem-se diante da tua intrepidez e
até ficarás maravilhado, encontrando maiores consolações onde
julgavas haver maiores obstáculos.
5.
Discípulo.
Rogo-Vos com instância, ó Senhor, criai em mim um coração
puro
e renovai no meu íntimo o espírito de retidão.
Todo
o meu coração está coberto de máculas. Sua infecção
contaminou-me as faculdades da alma e os sentidos do corpo. Ai,
Senhor! Que há em mim isento de mácula ou absolutamente puro?
Enviai, eu vo-lo rogo, a luz da Vossa graça a iluminar-me o
espírito, para que conheça e chore todos os males praticados e
todos os bens omitidos.
Oh!
Quanto me arrependo, ó dulcíssimo Jesus, de ter profanado
indignamente a Vossa morada, de Vos ter ofendido, afligindo o Vosso
Coração! Lamento, ó meu Sumo Bem, lamento e detesto todos os meus
pecados. Confesso minha malícia e ingratidão, implorando a
misericórdia do Vosso Coração.
Senhor,
se quiserdes, podeis limpar-me. Lavai-Me, eu vo-lo rogo, da minha
iniquidade e purificai-Me do meu pecado. E mesmo dos delitos ocultos
e das faltas alheias, purificai-Me o coração.
Vinde,
Jesus, vinde ao meu coração. Fazei um chicote com as cordas do
santo temor, da viva gratidão e do puro amor, e expulsai todos os
que profanam essa Vossa morada. A nenhum deles darei jamais entrada.
Vossa casa chamar-se-á casa de oração; aí Vos hei de oferecer
minhas homenagens e meu amor e entreter-me Convosco.
5º
Dia
Quinta-feira
Nosso
coração deve estar puro
principalmente
do Pecado Grave,
que
é o Mal Supremo.
1.
Jesus.
Acautela-te,
meu filho, para que não haja em teu coração pecado mortal.
Como
podes ou ousas amar ou hospedar em teu coração o Inimigo figadal
que, uma vez admitido, indubitavelmente te fará escravo do Inferno,
o mais miserável dos homens, mais vil que os próprios seres
irracionais?
Muitos
dizem: “Oh! Quantos males devastam a terra!” Contudo, há um só
mal: o pecado. E fora dele não há outro mal.
Evita
o pecado, e tudo o que te acontecer contribuirá para o teu bem.
2.
É para admirar que um ser racional espontaneamente cometa o pecado,
o qual, por natureza, é tão indigno e abominável que, mesmo se não
houvesse Céu nem Inferno, deveria ser evitado por causa da sua
fealdade intrínseca. Se considerares a infinita dignidade do
ofendido e a imensa baixeza do ofensor, verás que o pecado é um mal
em certo modo infinito.
Quem
peca mortalmente ataca o próprio Deus e, se possível fosse, o
destruiria. Pois não falta ao pecador a vontade de aniquilar o Deus
do Céu e da terra.
3.
Tão grande mal é o pecado que, para exterminar este monstro
infernal e satisfazer à justiça divina, eu, Filho do Altíssimo,
desci do trono da Minha
Majestade. Fazendo-Me
homem, sofri durante a vida contínuo martírio e finalmente expirei
na Cruz, consumido de dores.
Homem
infeliz! Como te apraz cometer o que tantos sofrimentos Me custou?
Como queres, por um prazer momentâneo, renovar todos os Meus
trabalhos, dores e morte acerbíssima?
Pelo
pecado mortal, tornas-te réu de crime muito mais grave do que o dos
judeus, Meus carrascos. Se estes Me houvessem reconhecido como o
Senhor de eterna glória, nunca Me teriam condenado à morte. Tu,
porém, conheces quem Sou e qual a Minha dignidade, pelos benefícios
de Mim recebidos.
4.
Não foi só por amor que, além de te haver criado, remido e
conservado, sempre, qual o mais terno dos pais, te protegi, vigiei e
afaguei?
Tudo
o que és e tens, Eu te dei, e, acima de todos os dons,
prodigalizei-Me a ti. E é assim que Me retribuis todos esses
benefícios?
O
animal irracional mostra-se grato pelo bocado de alimento que lhe
atiras. Tu, porém, persegues-Me até a morte, embora te haja Eu
concedido bens infinitos.
Considera
atentamente o que deves pensar a teu respeito.
5.
Ó filho da Minha eterna dileção, a quem amei mais que a própria
vida, não tornes a pecar!
Se
Me amas a Mim e mesmo se te amas a ti verdadeiramente, foge do
pecado.
Quando
cometes pecado grave, morres à vida sobrenatural, perdes todos os
méritos adquiridos, anulas o direito à celeste herança, tornas-te
co-herdeiro dos espíritos infernais, antepões a desgraça à
Bem-aventurança, o Inferno ao Céu, o
Demônio a Mim.
Medita
nisso, meu filho, para aprenderes cabalmente, segundo a capacidade da
tua inteligência humana, quão grande é a malícia do pecado.
Destarte evitarás o único mal que te pode tornar eternamente
infeliz.
6.
Discípulo.
Ó minha alma! O pecado, eis o mal supremo que desonra o homem,
colocando-o abaixo dos irracionais, fecha as portas do Céu e abre os
abismos do Inferno! Ó monstro abominável, mil vezes mais horrendo
que o próprio Demônio! Ó meu Deus, sou obrigado a confessar,
coberto de vergonha, que me tornei vil escravo do pecado. Com suma
loucura, ingratidão e malícia, insultei frequentemente, pelo
pecado, Vossa tremenda
Majestade, que os próprios Anjos adoram cheios de temor.
Sinto-me
profundamente confuso por me ter tornado mais vil que os seres
irracionais, cometendo a iniquidade que a própria razão reprova, e
abusando quer de todas as faculdades da alma, quer dos sentidos do
corpo.
7.
Ó Senhor Deus! Gravastes em mim Vossa amável imagem, e eu
deformei-a, cobrindo-a com a hedionda efígie do Demônio, e de
muitos modos tornei-me ainda mais horrível do que ele.
Pecou
o Demônio por orgulho, quando nenhum castigo precedente o
escarmentara. Eu, porém, conhecendo a pena do pecado, por desprezo
pequei. Ele, só uma vez, esteve em estado de inocência, enquanto eu
inúmeras vezes a recuperei. Ele se rebelou contra seu Criador, e eu
contra o meu Redentor.
Mísero
pecador, por um nada ou coisa mais vil que o nada, rejeitei
espontaneamente a Vossa amizade, a feliz paz da alma, o direito à
eterna Bem-aventurança. Entreguei-me como infortunado escravo ao
Demônio, compartilhando desde agora sua desgraça e destinado a
participar um dia dos seus eternos tormentos, se não me arrepender e
encontrar misericórdia no Vosso Coração.
8.
Na verdade, Senhor Jesus, não sou digno desta misericórdia, da qual
tantas vezes abusei. Não
sou digno de Vos servir, já que me escravizei ao Demônio. Se
quiserdes tratar-me como mereci, minha morada será o Inferno.
Porém,
ó Deus, meu Salvador, infinita é a misericórdia do Vosso Coração,
como o provam meus próprios pecados; pois, se não fosse infinita,
jamais teria suportado o mal infinito dos meus pecados. Ó Jesus,
tende piedade de mim, segundo a Vossa grande misericórdia. Com
instância peço indulgência e espero que perdoeis a este mísero
pecador. Pesa-me sinceramente dos pecados cometidos e proponho
firmemente servir-Vos de agora em diante com fidelidade e amar-Vos com
fervor.
6º
Dia
Sexta-feira
Nosso
coração deve estar Puro
mesmo
do Mínimo Pecado
1.
Jesus.
Filho, purifica teu coração de toda culpa e evita com diligência a
mácula, mesmo do menor pecado. Nada há, nada pode haver que nos
torne lícito cometer um pecado, embora leve.
Se
deste modo pudesses salvar o mundo inteiro, ainda assim seria ilícito
ofender-Me mesmo na menor coisa, visto ser eu infinitamente superior
ao universo.
Há
pessoas que evitam pecados graves, mas sem escrúpulos cometem leves.
O que é sinal evidente de se deixarem governar mais pelo
amor-próprio do que pelo Meu amor.
Estes
infelizes, porém, hão de conhecer, com prejuízo seu, quanto se
iludiram.
2.
O que despreza as coisas pequenas, aos poucos cairá nas grandes.
Habituado gradualmente a julgar tudo leve, pensará andar bem, quando
cometer, sem muito remorso de consciência, culpas maiores. Se apraz
ao insensato caminhar à beira do precipício, com justiça
acontecerá que, escorregando-lhe o pé, caia no abismo. Evita, por
conseguinte, o pecado venial, se não queres cometer o mortal.
Exporás
ao perigo tua salvação, enquanto consentires mesmo na mais leve
culpa.
3.
Muitos parecem
sentir profundo horror de renovar a Minha morte com um pecado mortal.
Contudo, não cessam de causar acerba amargura ao Meu Coração e
afligi-lo com dores contínuas por meio de culpas leves.
Ah!
Meu filho! Considera sempre mais e reflete atentamente no que fazes.
Querendo causar apenas leve ferimento ao Meu Coração, talvez te
enganes, como a muitos acontece, e com golpe mortal O transpasses.
Ó
insensatez do coração humano! Muitos receiam mais ofender a um
homem do que a Mim, seu Deus e Salvador.
4.
Enquanto
continuares a pecar, mesmo venialmente, andarás mal e não gozarás
a verdadeira felicidade.
Se
tens empenho, como convém, em alcançar a perfeição, hás de
trabalhar em vão, por mais que a ela aspires, enquanto não evitares
todo pecado voluntário.
Pois
o pecado venial diminui a caridade, causa tibieza, corrompe os atos
de virtude, obstrui a fonte das graças e socorros especiais, enfim,
privando aos poucos a alma de todos os bens, deixa-a vazia.
5.
Na maioria das vezes, por que se torna o homem culpado de tantos e
tão grandes males, senão por causa de algum vão interesse ou
prazer?
Reflete,
porém, no real prejuízo que daí procede e nas graves penas a
sofrer no Purgatório.
Aí
se padecem tormentos maiores que todos os suplícios deste mundo e
superiores a quaisquer males desta vida. E de lá não sairás, até
haveres pago o último vintém.
Com
que veemência então te há de pesar haveres cometido mesmo o menor
pecado, que sentirás ser a causa de estares ainda privado do Céu e
sofrer severo castigo! Não queiras, meu filho, frustrar os desejos e
esforços do Meu Coração para tornar-te feliz. Não sejas tão
irrefletido que prefiras, contra a Minha vontade, ser infeliz.
6.
Discípulo.
Senhor, não é pequeno mal o pecado venial, pois, que ofende Vossa
divina Majestade, fere Vosso Coração, priva a alma de graças e
socorros especiais, impede o desejável progresso, corrompe o bem,
abre caminho para a perdição, expõe a salvação à eterna ruína
e fecha o Céu ao culpado.
E
eu julguei pequenos tão grandes males! Oh! Que insensatez! E, o que
é pior, cometi tais pecados sem número, sem medida, chegando ao
excesso as minhas transgressões!
Onde
tiveram termo? Quantas são as potências da minha alma, os sentidos
do meu corpo, tantos são os gêneros de pecado. Quantos foram Vossos
dons e benefícios, tantos foram meus abusos e ingratidões. A cada
espécie de ocupação corresponde uma multidão de faltas. Ai, qual
a minha ação, mesmo entre os exercícios de religião ou piedade,
em que não se encontre defeito?
Ó
minha alma! Cometemos tantos pecados por inadvertência, surpresa,
fragilidade. Não deveriam bastar? Seria ainda necessário
acrescentar a estes outros mais graves, provenientes de negligência,
livre vontade, malícia?
Eis
o que retribuímos ao Senhor, cuja bondade nos faz viver, a cujo amor
devemos quanto somos e possuímos!
7.
Ó
Senhor Deus, meu Salvador! Se, pela gravidade e multidão de minhas
culpas, não me perdi completamente, reconheço devê-lo à
benignidade do Vosso Coração. Foram Vossas misericórdias, Senhor,
que não me deixaram ser consumido.
Mergulhado
no lodo, faltou-me a força, envolveram-me as trevas, desfaleceu-me o
coração. Sempre mais me afundo e, em consequência da fraqueza, não
consigo libertar-me. Quão grande é a minha miséria!
Oh!
Quem me dará lágrimas aos olhos e vigor ao coração para chorar e
mover-Vos, Senhor, a socorrer-me!
Tende
piedade de mim, ó Bom Jesus, e livrai-Me; purificai-Me e renovai-Me
totalmente.
Inflamai
o meu coração no amor do Vosso Coração. Neste divino fogo,
consumi as minhas faltas e não as reserveis para as chamas do
Purgatório. Rogo-Vos seja eu aqui abrasado e purificado no fogo do
Vosso doce amor, e não nas chamas expiatórias.
Dulcíssimo
Jesus, por Vosso amor farei o que até agora não fiz por temor: por
Vosso amor evitarei todo pecado, mesmo o mais leve.
7º
Dia
Sábado
O
coração do Pecador
não
pode Provar senão a Amargura da Infelicidade
1.
Jesus.
Caríssimo filho, se chegares ao ponto que teu coração nada mais
tenha a repreender-te, alegra-te. Ainda mais alegra-te, porque a paz,
qual rio de felicidade, te inundará. O bom coração torna a alma
ditosa, alegra o Céu, atemoriza o Inferno. Porém, o mau coração
enche de infortúnio o pecador, inspira compaixão aos habitantes do
Céu, causa aos Demônios iníqua alegria e exultação.
Imagina
todas as calamidades possíveis neste mundo, nunca igualarás o
número das que os pecadores trazem no coração.
Quão
pesada e abjeta é a escravidão do pecador! Quantos laços
fortíssimos o prendem sob o poder de vilíssimos senhores: o Demônio
e as paixões tirânicas.
Nele
a inteligência está ligada por crassa ignorância, que não o deixa
conhecer a verdade. Sua vontade acha-se cativa de abominável
malícia, que a impede de amar a bondade.
Traz
os sentidos presos pelos vínculos da concupiscência, de modo a não
seguir a honestidade. Todo oprimido ao peso das cadeias dos maus
desejos, não consegue alcançar a suave liberdade da graça.
2.
Quem haverá mais insensato que o pecador, sendo ele mesmo a causa da
sua extrema miséria?
Se
há na terra um inferno antecipado, certamente se encontra no coração
perverso que, inflamado no fogo das paixões, padece todos os
tormentos da má consciência.
Como
pode jamais alegrar-se aquele que sabe que, se o frágil fio da sua
existência se quebrar, terá de precipitar-se nas profundezas do
Inferno?
Não
sei como ousa entregar-se ao repouso noturno o que ignora se não há
de despertar como réprobo na eternidade!
3.
É impossível ao coração humano não desejar a felicidade. Mas o
pecador, arrastado cegamente por inclinações indômitas e
desenfreadas, busca a felicidade onde só encontra maior infortúnio.
Alguns
parecem julgar que, satisfazendo seus desejos e contemplando-os
plenamente, terão a paz, quando os virem realizados. Que grande
erro!
Quem
apaga um incêndio, lançando novos combustíveis no fogo? Não seria
aumentá-lo em vez de extingui-lo?
Embora
alguém sacrificasse às suas paixões a salvação da alma e a saúde
do corpo, nem por isso estariam estas satisfeitas e clamariam: “Somos
tuas, alimenta-nos!”
Oh!
Se a todo olhar se patenteasse o coração do pecador, quantas
misérias e horrendos objetos aí se veriam! Entretanto, para Mim
todas as coisas são abertas e manifestas, e ninguém é capaz de
enganar-Me, ainda que possa iludir os homens.
4.
A tal ponto chega o coração escravizado aos maus hábitos que
nada pensa, nada ama, nada acha delicioso a não ser o que pode
contentar-lhe a concupiscência: destarte,
sabendo embora que caminha para o abismo da desgraça, pouco lhe
importa, e, como estólido animal, corre após seus maus desejos,
conculcando não só os bens eternos, mas até a honestidade, a honra
e a própria vida. Não carece o pecador de inimigo que o ofenda e
atormente, pois ele mesmo é o seu maior inimigo e mais cruel
verdugo.
Dos
objetos em que busca seus deleites e satisfações, recebe em geral
múltiplos tormentos.
5.
Como pode gozar de paz, quem fomenta no seu íntimo causa de
perturbações? Como pode, uma vez sequer, respirar livremente quem é
escravo do Demônio?
Quão
infeliz deve ser aquele em cujo coração Satanás tem permissão de
dominar e estabelecer o seu trono!
Bem-aventurado
quem jamais experimentou a escravidão do Demônio e nunca gemeu sob
os grilhões do pecado!
Filho,
se ainda não sentiste o infortúnio do estado de pecado, alegra-te
com todo o Céu e jamais queiras experimentar o serviço do Diabo.
Se,
porém, miseravelmente lhe estás sujeito, compadece-te de tua alma.
Com ardor rejeita o ugo
do Inimigo, rompe teus laços para gozar a liberdade dos filhos de
Deus.
6.
Discípulo.
Ó Senhor! Quão grande infelicidade é o estado do pecador! Como ele
é infeliz neste miserável estado! Qual poderá ser sua paz ou
alegria, tendo por inimigo a Vós, o Onipotente, conhecedor de todas
as coisas! Não ignora estar banido do Vosso Coração, seu último
refúgio, e tem consciência de que a cada momento pode ser lançado
no fogo eterno!
Como
é infeliz a alma que não pode contemplar o Céu sem lembrar-se de
haver perdido o direito de nele entrar! Se lança o olhar em torno de
si, parece-lhe ouvir exprobrações e todo acontecimento a enche de
terror. Se abaixa os olhos, tacitamente não pode deixar de
recordar-se que o Inferno é sua morada.
Como
é infeliz, por não poder voltar ao próprio coração, sem aí
encontrar Satanás e os tormentos de um inferno antecipado, onde não
há algo de alegria ou consolação, porém, só horror e trevas,
temores e angústias!
Ó
pobre alma! Como estás mudada do estado em que te achavas, quando,
adornada com a graça celestial, nobilitada pela adoção divina,
eras tão bela, tão sublime que causavas admiração aos Santos e
Anjos!
Como
o pecado te deformou, tornando-te toda abjeta e vil!
7.
Ó Jesus! Quem me dera, mesmo à custa da própria vida, fazer com
que tão miserável estado jamais houvesse existido! Oxalá nunca
tivesse caído em tal desgraça e antes houvesse perdido a vida do
que a tua graça!
Bem-aventurados
os que jamais perderam a inocência, nem experimentaram a
infelicidade do estado de pecado!
Restituí-me,
eu vo-lo rogo, a minha primeira veste. Restaurai-me a inocência,
para que Vos sirva em nova vida e a conserve imaculada perante Vós
até ao fim dos meus dias.
Bônus
para
a Novena
O
Coração divino a Todos chama,
mesmo
os Pecadores.
1.
Jesus.
Vinde
a mi, todos os que padeceis e estais acabrunhados, e Eu vos
aliviarei.
Quem
é justo, venha justificar-se ainda mais. Quem é tíbio, venha
afervorar-se. Quem é pecador, venha purificar-se e santificar-se.
Ai
da fragilidade humana! Qual é o homem que não tenha pecado? Quem
disser não ter pecado, ilude a si mesmo, e a verdade não está
nele.
2.
Meu filho, se te sentes carregado de pecados ou defeitos, corre ao
Meu Coração, onde hás de recuperar liberdade e alento. Não te
deixes atemorizar pelo número dos teus males ou pela grandeza da
Minha Majestade. Não vim chamar os justos, mas os pecadores à
penitência.
Quanto
maiores são as misérias a oprimir-te, tanto mais de ti Me
compadeço, pois o que está mais enfermo, mais necessita do médico.
Não
Me surpreendem tuas misérias, pois conheço teu coração e a frágil
matéria de que és feito. Se não caíste em maiores males,
principalmente o deves à Minha graça. Admiro-Me, porém, de que,
oferecendo-Me Eu a curar-te, não o queiras, ou, se o queres, pareças
duvidar da Minha bondade.
Ah,
filho! Não faças tão acerba injúria ao Meu Coração, que se
compraz em perdoar e não se cansa de fazê-lo.
Vê
com que bondade trato os pecadores verdadeiramente arrependidos, a
ponto de ser chamado Amigo dos pecadores!
3.
Onde está o coração capaz de amar como o Meu Coração? Não há
maior caridade do que dar a vida por seus amigos; Eu, porém, o Filho
de Deus, excedi essa caridade, pois dei a vida por Meus inimigos.
Quem
jamais foi o primeiro a amar-Me? Quem Me consagrou seus afetos, sem
haver antes experimentado os efeitos da Minha dileção?
4.
Sendo mui numerosos os que perdem a inocência antes de conhecê-la
claramente ou apreciar-lhe o valor, a grande glória do Meu Coração
consiste em triunfar dos seus corações e fazer dos pecadores
santos.
Oh!
Se conhecesses a caridade do Meu Coração, compreenderias com que
ternura ama as almas fiéis e com que suavidade busca os pecadores.
Quem
sofre, sem que o Meu Coração se compadeça? Quem peca sem
causar-lhe mágoa? Quem se acha enfermo, sem que o Meu Coração lhe
dê remédio? Quem é infeliz, sem que o Meu Coração o sinta? Quem
há, finalmente, neste mundo que não deva benefícios ao Meu
Coração?
5.
Sou o Bom Pai que aos filhos gerados na Cruz abraço com o amor deste
Coração que lhes permanece aberto, para encontrarem em todo tempo,
não um asilo qualquer, porém, o próprio centro das Minhas
afeições.
Enquanto
dormem, vela o Meu Coração para guardá-los. Quando acordados,
cuida da sua conservação.
Tão
grande amor arde em Meu peito para com eles, que a cada um amo e
acaricio como se fosse o único.
Se
algum deles, seduzido pelo Inimigo, de Mim se aparta, doi-Me o
Coração como pela morte de um filho único. Com amor acompanho o
fugitivo; convido, insisto, prometo. Se, porém, não Me quer ouvir,
tenho paciência e, permanecendo à porta do seu coração, bato com
frequência.
Finalmente,
se decide voltar a Mim, corro-lhe ao encontro para estreitá-lo ao
peito, e o Meu Coração exulta por ver junto de si, são e salvo, o
filho a quem pranteara como morto.
Cheio
de alegria, convido todo o Céu a congratular-se e exultar Comigo.
6.
Portanto, se queres confortar o Meu Coração, alegrar o Céu e
refrigerar tua alma, volta a Mim de todo o coração.
Quer
tenhas graves ou leves pecados, vem ao Meu Coração, onde
encontrarás remédio para os teus males.
Confiança,
meu filho, não temas. Chamo-te não para exprobrar-te, mas, sim,
para apagar as tuas iniquidades.
Vem,
filho, vem! Espero-te de braços abertos e com o Coração ardente.
7.
Discípulo.
Corro a Vós, cheio de confiança, ó dulcíssimo Jesus, animado pela
imensa bondade do Vosso Coração.
Ao
chegar, clamo, suplicante: “Recebei com clemência o filho pródigo
que volta de região longínqua, acabrunhado de pecados e repleto de
misérias.
Não
sou digno de ser chamado Vosso filho, pois que tão indignamente Vos
abandonei e com graves ultrajes Vos afligi.
Pequei
contra o Céu e perante Vós. Culpado, não ouso lançar-me nos
Vossos braços: eis-me a Vossos pés, prostrado no pó, apelando para
o Vosso Coração paterno, para obter o perdão.
Vós
me chamastes, quando de Vós fugia, buscastes-me, quando perdido,
suportastes os abusos que fiz da Vossa bondade, com admirável doçura
me incitastes a converter-me. Agora que volto neste mísero estado,
não só me recebeis, mas ainda me acolheis nos Vossos braços. Ó
Jesus! Não há pai semelhante a Vós!
Regozijem-se
e alegrem-se Comigo todos os Anjos e Santos e juntamente louvem e
exaltem para sempre Vossa misericórdia! Eis que agora sou
perpetuamente Vosso. Com fidelidade Vos amarei, ó Senhor, e por
Vosso amor cumprirei todas as Vossas vontades”.
O
Sacramento da Penitência
é
Meio Fácil e Eficaz para
Purificar
dos Pecados e Vícios
1.
Jesus. Filho, o Meu
Coração, sabendo ser tal a fragilidade dos homens, que não podem
viver na terra sem pecar, descobriu um meio salutar, pelo qual
alcançam, se dele faze bom uso, não só a remissão do pecado, mas
ainda aumento de graça.
Deus,
segundo sua palavra, é fiel em perdoar os pecados aos que se
confessam, e concede a graça aos que a pedem e procuram viver
melhor.
Que
seria da maior parte dos homens, se não houvesse a Confissão? Quão
poucos se salvariam! Quantos dos que gozam no Céu ou um dia lá
chegarão, estariam condenados!
2.
Eis por que dei à Igreja tal poder que àqueles a quem Ela perdoar
os pecados, ser-lhes-ão perdoados, e àqueles a quem os retiver,
ser-lhes-ão retidos.
“Por
conseguinte, se a inveja, a incredulidade ou qualquer outro pecado
penetrarem no coração de alguém, não se envergonhe de
confessá-los ao Sacerdote, a fim de ser por ele curado graças à
palavra de Deus e ao conselho salutar”.
“Se
te afastaste da Confissão, considera em teu coração o Inferno, que
em teu favor ela extinguirá. Ciente, portanto, que, após a primeira
graça do Batismo, ainda há na Confissão segundo auxílio contra o
Inferno, por que abandonas a tua salvação? Imagina antes a grandeza
do castigo, para não hesitares em tomar o remédio”.
“Há,
pela Penitência, remissão dos pecados embora laboriosa, quando o
pecador lava com lágrimas o seu leito e não se envergonha de buscar
o remédio a seu pecado, confessando-o ao Sacerdote do Senhor”.
“Para
todos é desejável o remédio da Confissão, porque a alma é
ameaçada por maior perigo do que o corpo, e aos males ocultos é
necessário aplicar pronto medicamento”.
“Confessa-te,
expele na Confissão toda a peçonha, e, em seguida, a cura será
fácil. Receias confessar-te, quando, mesmo sem fazê-lo, não podes
permanecer oculto? Deus onisciente exige a Confissão para libertar o
humilde; condena o que não se confessa, a fim de punir o orgulho”.
“Confessa-te
de modo que não voltes ao pecado. A Confissão é útil, quando o
pecador, já confessado, cessa de praticar o mal que antes fizera”.
“Feita
a Confissão, abstenhamo-nos de pecar; porém, a Confissão precede a
remissão”.
“A
Igreja, fundada por Cristo, d'Ele recebeu o poder de perdoar os
pecados”.
“Os
que não querem confessar os pecados, terão como justiceiro o mesmo
Deus, que agora lhes é testemunha”.
“Não
é necessário confessar publicamente os pecados. Basta declarar só
ao Sacerdote em Confissão secreta, os delitos da consciência”.
“Portanto,
a razão move e Deus obriga o pecador a confessar-se”.
“A
Confissão é necessária ao pecador e, não obstante, convém ao
justo”.
“De
três modos é necessário confessar-se: sem disfarce, sem desculpa,
sem demora”.
“O
penitente deve acusar-se, perante o Sacerdote, com vivo sentimento de
dor e firme propósito de emenda e cumprir as obras que lhe forem
ordenadas”.
“Existe
o Sacramento da Penitência, cuja matéria são por assim dizer os
atos do penitente, que se distinguem em três partes: a primeira e a
dor do coração, a segunda, a Confissão oral, a terceira, a
satisfação”.
Eis,
filho, como desde o princípio, os fiéis de todos os tempos e
lugares do mundo, veneraram e praticaram este doce e salutar
Sacramento.
3.
Que há de melhor do que confessar-se devidamente? Pela Confissão o
homem liberta-se das culpas, reconcilia-se Comigo, recebe a paz do
coração. Antes sentia-se torturado pelas angústias, depois vê-se
tranquilo e feliz.
O
Sacramento da Penitência é o remédio da alma. Cura-lhe os vícios,
afugenta as tentações, destrói as ciladas do Demônio, infundi
nova graça, aumenta a piedade e consolida sempre mais a virtude.
Pela
Confissão a alma readquire seus direitos perdidos pelo pecado, e
recupera a beleza deformada pela iniquidade.
4.
Acontece, porém, que o pecador, ao aproximar-se deste Sacramento da
divina misericórdia, movido pela vergonha ou pelo temor, se
precipita no abismo do sacrilégio, e agora não só é pecador,
porém, um horrendo monstro de pecado.
Acaso
poderás, homem execrando, esconder-te de Mim? Conseguirás impedir
que Eu te lance no profundo abismo por ti mesmo cavado?
Tu
sacrilegamente ocultas pecados ao Confessor, a quem as mais severas
leis divinas e humanas obrigam a eterno e absoluto silêncio! Eu,
porém, os manifestarei em tua presença, não a um só homem, nem a
uma só nação, porém, ao Céu e à terra e a quantos seres
existem. Então, no cúmulo da vergonha, chamarás os montes a
cobrir-te e subtrair-te à confusão. Quiseras mesmo esconder-te no
Inferno, mas não o poderás e terás de sofrer abertamente toda a
merecida confusão e ignomínia.
Homem
insensato! Não tiveste pejo de pecar para tua perdição e
ignomínia, por que o terás de confessar-te para
tua salvação e glória?
Ora,
reflete: Por que hás de hesitar em manifestar tua consciência
àquele que foi estabelecido por Mim como Meu representante junto de
ti?
Quando
te apresentas como penitente, deves considerar o Confessor como a Mim
mesmo, porque então ele representa Minha Pessoa e possui o Meu
poder.
Demais,
ele é homem e tem suas misérias que deve igualmente confessar como
tu, sendo-lhe esta acusação tanto mais difícil por estar obrigado
a maior perfeição, em razão de seu sublime estado.
Por
isso, Deus, em sua sabedoria e santidade, decretou que todos, tanto
os Sacerdotes como os leigos, fossem obrigados à Confissão, se
quisessem livrar-se de pecados graves. É mesmo conveniente que os
Sacerdotes, cujas sagradas funções exigem absoluta santidade, se
purifiquem das mais leves culpas pela Confissão frequente.
Por
esse motivo, também os leigos se confessam com a maior liberdade e
confiança aos Sacerdotes, e estes aprendem por experiência a
compadecer-se das misérias alheias, a sentir a debilidade dos fracos
e a chorar com os que choram.
5.
Há pessoas que se confessam com simplicidade, porém, não se
corrigem realmente, porque não se esforçam com sinceridade por
emendar-se.
Uns
aproximam-se do Sacramento da Penitência por necessidade, outros,
levados por respeito humano ou por certo
hábito. Não é, pois, de admirar que pouco ou nenhum fruto colham.
Tu,
Meu filho, tendo em vista tua salvação e Meu beneplácito, faze
cada Confissão como se fosse a última da tua vida, e hás de
experimentar os seus maravilhosos e suaves efeitos.
6.
Todavia, conhecendo-te a ti mesmo, é necessário saberes que muitas
vezes serás impelido a cometer os pecados de que te arrependeste com
o propósito de evitá-los.
Não
desanimes, porém, filho, nem te entristeças em demasia. São
efeitos, não da malícia, mas da fragilidade, e constituirão faltas
antes indeliberadas do que voluntárias. Nisso, entretanto, aprende a
conhecer a benignidade do Meu Coração, sempre pronto a perdoar, e a
miséria do teu, sempre propenso a arrastar-te com frequência ao
mal. Contudo, não descures a Confissão, por causa destas fraquezas.
Quanto mais fraco te sentires, tanto mais a ela deves recorrer.
7.
Alguns receiam a Confissão e dela trêmulos se aproximam.
Mas,
se tanto os maiores pecadores coo os maiores Santos aí encontram
consolação, por que te atormentas com ansiedade? Aí os mortos
revivem, e os vivos recebem vida mais abundante. Tu, porém, por que
tremes, como se caminhasses para a morte ou ao suplício?
Enganas-te,
Meu filho, enganas-te. Não para tormento, mas para consolo, foi
instituído este Sacramento salutar.
8.
Deixa-te de agitação e ansiedade. Sou o Deus não da perturbação,
mas da paz; deleito-Me com a boa vontade e não com a inquietação
de espírito.
Faze
o que de ti depende, e confessa-te, como podes, com sinceridade. Em
seguida, permanece em paz, e não te perturbes com as sugestões do
Inimigo ou da imaginação.
Meu
Coração, filho, é o refúgio dos pecadores. Quantas vezes alguém
recorrer a Ele com humildade e contrição, não o repelirei com
desprezo.
Cheio
de confiança, mergulha-te com frequência nesta divina fonte em que
o Meu Coração lavará tua alma em seu Sangue, até torná-la
inteiramente limpa e pura.
Seja-nos
permitido citar como exemplo, o fato admirável e consolador, que se
lê na vida de Santa Maria Madalena de Pazzi. Certo dia, esta Santa
virgem achava-se na igreja do seu mosteiro, à hora das confissões,
e expandia o coração perante Jesus presente no Tabernáculo,
absorta nas divinas comunicações. Subitamente, notou que o mundo
espiritual de algum modo se lhe patenteava. Via o estado de cada
alma, ao confessar-se. No momento da absolvição sacramental, porém,
contemplava o Sangue divino de Jesus correndo misticamente sobre a
alma e lavando-a de tal modo que se tornava extraordinariamente pura
e bela. Se tal é o efeito de uma só Confissão, qual não será o
da Confissão frequente! Se a alma se torna tão pura e bela,
lavando-se uma só vez no Sangue do Coração de Jesus, que lhe é
aplicado no Sacramento da Penitência, quais não serão sua pureza e
formosura, se com frequência se purificar. Se os tecidos de linho
cru e ainda encardidos se tornam, com repetidas lavagens, não só
limpos, mas até mesmo, alvos como a neve, acaso a alma purificada
constantemente no Sangue divino de Jesus não ficará, por fim, toda
pura e inefavelmente bela? Certamente este piedoso pensamento pode
aumentar-te o amor pelo Sacramento da Penitência e, ocupando-te
suavemente o espírito, consolar-te imensamente ao recebê-lo.
9.
Discípulo. Ó Bom
Jesus, que invenção salutar e consoladora de Vosso Coração! Que
estupenda condescendência e admirável suavidade, fazerdes do Sangue
emanante do Vosso Coração, o divino lavacro que nos purifica dos
pecados!
Não
houvesse Vosso Coração descoberto este segredo, repleto de toda
consolação, quem jamais o teria imaginado? Que seria de nós, que
seria de mim, se não o houvesses manifestado?
Graças
Vos rendam comigo, ó dulcíssimo Jesus, todos os Anjos e
Bem-aventurados, a universalidade dos povos e línguas, pela
Instituição deste Sacramento de força vital e santificante, que
salva os habitantes da terra e enche o Céu de numerosos Santos!
A
fim de não abusar de tão grande benefício e dele colher todo fruto
desejável, confessar-me-ei não só constantemente, mas com
diligência. Como se me preparasse para a morte, farei sempre, antes
da Confissão, atos de verdadeira dor e bom propósito, em paz,
porém, e ao mesmo tempo com sinceridade. Falarei ao Confessor com a
mesma candura com que Vos falaria, se estivésseis visível a meus
olhos. Atenta e devotamente cumprirei quanto antes a penitência
imposta. Finalmente, esforçar-me-ei por ser grato e viver para Vós
com novo fervor e coração mais puro.
Ó
Jesus! Quão grande é a consolação e a doçura que experimento
quando, neste Sacramento da Vossa misericórdia, minha alma se lava e
purifica no Santíssimo e ilibado Sangue do Vosso Coração! Lavai-Me
muitas vezes, eu vo-lo rogo, e ficarei completamente limpo. Lavai-Me
ainda mais e tornar-me-ei mais alvo que a neve.
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