Constrangido
a receber o jugo do Episcopado, Gregório, depois das solenidades de
costume, pediu ao Bispo, que o designara, algum tempo para conhecer
mais exatamente o Mistério da Fé, durante o qual, sem consultar
carne e sangue – para falarmos como o Apóstolo
– haveria de implorar a Deus que lhe manifestasse os aspectos
difíceis da doutrina. Ele não começaria realmente o ofício da
pregação da palavra antes que a verdade lhe fosse revelada mediante
uma aparição…
Estava,
pois, meditando certa vez, por toda uma noite, a respeito do
significado e da expressão da Fé, com grande agitação de
pensamentos no espírito, porque havia, também naquele tempo,
pessoas que adulteravam a pia e sincera doutrina da Religião,
criando, com argumentações capazes de impressionar, incertezas até
para os doutos e prudentes. Eis então que lhe aparece, nessa noite
de vigília, alguém em figura humana, de aspecto senil, mostrando
pelo ornato e composição da veste um augusto e sagrado esplendor,
ao mesmo tempo que, pelo encanto da face e de todo o seu aspecto, um
grande poder. Aterrorizado com a visão, Gregório ergueu-se do leito
para melhor averiguar o que seria e por que razão ocorria. A
aparição, porém, tranquilizou-o, dizendo com voz branda ter vindo
por ordem divina a fim de revelar a verdade da Fé a respeito dos
assuntos que estavam sendo controvertidos e postos em dúvida.
Recobrou ele o ânimo ao ouvir estas palavras e passou, com um misto
de alegria e espanto, a fitar o ancião, o qual em seguida estendia a
mão em sinal de lhe mostrar o que aparecia do outro lado.
Acompanhando com o olhar esse gesto, viu Gregório nova aparição,
distinta da primeira: alguém, em figura feminina, de aspecto mais
excelente e sublime que o da condição humana. Mais uma vez
atemorizou-se, e afastando o olhar, que não podia suportar a visão,
hesitava cabisbaixo sobre o sentido da cena, maravilhosa sobretudo
pela luz que irradiava, como se fora um facho aceso, na escuridão da
noite. Impedido de enfrentá-la com os olhos, limitava-se a escutar o
que falavam as duas figuras. Conversavam a respeito do assunto
doutrinário sobre o qual ele mesmo estivera questionando. Da
conversação recebia então um verdadeiro conhecimento da doutrina
da Fé e além disto certificava-se de quem eram os dois
interlocutores, pois se chamavam um ao outro pelo próprio nome.
Ouviu que a figura feminina exortava o Evangelista João a expor e
explicar ao jovem Bispo o Mistério da verdadeira piedade, e ouviu
que ele dizia estar pronto a atender, com todo o gosto, à Mãe do
Senhor. Depois, feita a explicação de maneira muito apropriada e
bem definida, tudo desapareceu ao olhar de Gregório, que
imediatamente se pôs a redigir a instrução recebida. Foi baseado
nela que fez mais tarde sua pregação na igreja e deixou aos
pósteros o legado de uma doutrina aprendida do alto e, em
conformidade com a qual, o povo daquela cidade pôde ficar imune de
toda heresia, até o dia presente. Ora, as palavras desse místico
ensinamento são as seguintes:
“Um
só Deus, Pai do Verbo vivente, que é a Sabedoria subsistente e a
potência, a figura eterna. Gerador perfeito do perfeito, Pai do
Filho Unigênito.
Um
só Senhor, único procedente do único, Deus procedente de Deus,
sinete e imagem da Divindade, Verbo eficaz, Sabedoria que abraça a
composição do universo, e potência realizadora de toda a Criação.
Filho verdadeiro do Pai verdadeiro, invisível saído do invisível,
incorruptível saído do incorruptível, imortal do imortal, eterno
do eterno.
Um
só Espírito Santo, que de Deus se origina e tem sua existência, e
que pelo Filho foi manifestado aos homens. Imagem do Filho, Perfeito
saído do perfeito, Vida causa dos viventes, Fonte santa, Santidade
dispensadora de santificação, no qual se manifesta Deus Pai, que
está acima de todos e em todos, e Deus Filho, que permeia todos os
seres.
Tríade
perfeita, que não está dividida nem alienada pela glória, pela
eternidade, pelo reino. Nada há pois que seja criatura ou servo na
Tríade, nada de adventício, que antes não existisse e depois fosse
ali introduzido. Jamais faltou o Filho ao Pai, ou o Espírito ao
Filho. Sem mudança e alteração, é sempre a mesma Tríade”
Se
alguém quiser assegurar-se desta Profissão de Fé ouça a Igreja,
na qual Gregório pregava e onde estas palavras ainda se conservam,
exaradas por sua própria mão.
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Fonte:
Dom Cirilo Folch Gomes, O.S.B., “Antologia
dos Santos Padres – Páginas Seletas dos Antigos Escritores
Eclesiásticos”,
Cap.
Da “Vida de São Gregório Taumaturgo”, pp. 272-274. 4ª Edição,
Edições Paulinas, São Paulo/SP, 1979.
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