A
devoção para com o Sagrado Coração de Jesus tem o seu gérmen na
origem da humanidade.
Foi
no Paraíso, depois da queda primitiva de Adão e Eva, que o Filho de
Deus recebeu, pela primeira vez, o justo tributo da veneração e do
amor.
Apresentado
e prometido por Deus mesmo ao gênero humano, como Redentor,
suspiravam por Ele incessante e ardentemente todas as nações. Com
seu Nascimento, exultaram de alegria os descendentes de Adão, por
virem realizados os seus votos. Desde esta data gloriosa surgiu e
foi-se desenvolvendo, rapidamente, a devoção para com o Divino
Coração.
O
Fundador do Cristianismo ainda não havia instituído os Santos
Sacramentos, nem lançado os alicerces inabaláveis destinados a
sustentar o edifício grandioso da Igreja Católica, e já se
venerava e adorava o seu Sagrado Coração. Já naquele tempo, era
este o objeto do amor entranhado da Virgem Mãe de Deus e de São
José.
Anjos
do Céu aparecem cá na terra convidando os homens a renderem ao
Salvador recém-nascido as suas homenagens. Aos coros Angélicos se
unem os bons pastores, os três Reis Magos do Oriente, porfiando em
testemunhar os sentimentos de fé e confiança, de gratidão e
respeito, de submissão e amor ao Sagrado Coração de Jesus. Ao
contemplá-Lo, todos ficaram cativados e extasiados.
E
com efeito, o que há de mais nobre e sublime, se acha concentrado no
Amantíssimo Coração de Jesus, como na sua fonte original. O seu
amor transcende todos os afetos, por mais puros que sejam. Símbolo
tocante, imagem perfeita e personificação do amor infinito de Deus
para com os homens é o seu Sagrado Coração.
Nele
habita a plenitude da Divindade, estão encerrados todos os tesouros
da ciência e sabedoria e o Pai Eterno pôs Nele todas as suas
complacências, é portanto, digníssimo de louvor, veneração e
adoração.
No
reino glorioso do Céu não há um só Santo, que não houvesse sido
devoto do Sagrado Coração. Este amor era tão ardente em São
Francisco, que o transformou num Serafim abrasado, e fê-lo digno de
trazer em seu corpo, as Chagas de Jesus Cristo, Senhor Nosso.
Este
amor seráfico, para com o Divino Coração, é característico de
Santo Antônio.
Deus
mesmo acendeu as belas chamas do amor sobrenatural e divino no
santuário do seu Coração inocente e puro.
Fazer
que jamais se apagassem, era a solicitude contínua, nutri-las e
aumentá-las, o supremo desejo da sua pura alma. Para consegui-lo,
contemplava, de preferência a outros Mistérios, os do Nascimento de
Jesus, da Dolorosa Paixão e Morte, e em particular, do Sacramento
Augustíssimo do Altar.
Não
se contentava porém, com isso. Nos seus Sermões enaltecia as
perfeições e celebrava os louvores do Sagrado Coração, a fim de
abrasar de amor para com Ele todos os corações.
Mais
ainda! As poucas obras de Santo Antônio, que chegaram até nós são
provas irrefutáveis, de que se salientou, visivelmente, na devoção
de Jesus, sob o terno culto do seu amabilíssimo Coração. A cada
passo, exalam ativamente os perfumes deste amantíssimo Coração.
“A
alma piedosa, assim escreve ele,
a alma piedosa encontrará no Coração de Jesus um
delicioso retiro, um asilo seguro contra todas as tentações do
mundo; no mais íntimo do Coração de Jesus, ela encontrará a paz,
as consolações, a luz e inefáveis delícias. O Coração de Jesus
é como que o princípio da vida sobrenatural, é como que o altar de
ouro, onde, de noite e de dia, um incenso odorífero se evola até
aos Céus e perfumes suavíssimos embalsamam a terra.
A
meditação dos sofrimentos exteriores de Jesus Cristo é santa e
meritória, sem dúvida, mas, se queremos encontrar ouro puro,
necessitamos de ir ao altar interior, ao Coração mesmo de Jesus, e
ali estudar as Riquezas do seu Amor”.
Palavras
belíssimas que só podiam sair de um coração angélico e seráfico,
como o de Santo Antônio.
O
Sagrado Coração não deixou de mostrar ao seu filho predileto,
quanto Lhe era agradável a sua terna devoção, por um milagre todo
excepcional.
Santo
Antônio havia pregado durante a estação do Advento de 1229 na
cidade de Pádua.
Um
fidalgo, chamado Tiso, Conde de Campo Sampiero, íntimo amigo do
Santo, convidou-o, repetidas vezes, a honrá-lo com a sua visita e
passar algum tempo na sua chácara silenciosa e pitoresca. Santo
Antônio aceitou o convite. O piedoso Conde, todo atenção para com
o seu venerado hóspede, não poupou coisa alguma para lhe tornar bem
aprazível a demora em sua residência, oferecendo-lhe um aposento
separado e condigno.
Segundo
o seu louvável costume, Santo Antônio prolongava a vigília pelas
noites, todo concentrado nas suaves delícias da oração.
Numa
das vezes, que em sua vigilância doméstica Tiso passava junto ao
aposento do Santo, surpreendeu-o uma claridade vivíssima, que partia
de dentro.
A
precaução levou-o, providencialmente, a observar por um orifício
da porta a razão de uma luz tão intensa. Ficou então maravilhado.
Vê
o Santo envolvido em fulgores brilhantes, tendo nos braços um menino
resplandecente e de uma beleza incomparável; e o menino a
prodigalizar afavelmente ao Taumaturgo as graças mais doces e
angélicas; Santo Antônio a responder-Lhe respeitosamente com as
carícias mais santas e afetuosas.
Esta
cena encantadora deixou estupefacto
o fidalgo, que ansiava por saber, donde viera aquele menino tão
formoso e deslumbrante. Jesus Cristo mesmo descera aos braços do seu
filho predileto, Antônio, transformado na forma graciosa de menino,
a fim de preconizar deliciosamente os seus labores apostólicos,
demonstrar a todos a sua pureza angélica, e recompensar o seu amor
eminentemente seráfico.
Ao
desaparecer do aposento de Santo Antônio, o Divino Menino
advertiu-lhe, que o Conde Tiso observara aquela cena. Por este fato,
Santo Antônio após os transportes inefáveis desta contemplação
divina, chama o seu benfeitor, explica-lhe a realidade daquele
milagre, que havia sido uma afetuosa aparição de Jesus, na
encantadora figura da sua Infância, como símbolo de verdadeiro
amor, e por último, proibiu-lhe, terminantemente, que revelasse
coisa alguma do que ali se passara, enquanto ele vivesse na terra.
Assim
foi; depois da morte de Santo Antônio, o ditoso fidalgo manifestou,
com garantia de seu juramento, e enternecido até
as lágrimas a cena
maravilhosa, que se passara no aposento, que cedera a Santo Antônio.
Todos
os historiadores são unânimes em afirmar a realidade desta
deliciosa e divina visão, que tem dado assunto, o mais eloquente às
esculturas
e às
pinturas
cristãs, que se desvanecem em caracterizar e imortalizar o filho
Amantíssimo do Sagrado Coração de Jesus.
Este
fato prodigioso, que só o piedoso Tiso testemunhara, despertou e
amadureceu em seu coração, fascinado pelo perfume das virtudes
acrisoladas de Santo Antônio, e cativado pela formosura celestial de
Deus-Menino, cuja contemplação o inebriara de amor divino, o
ardente desejo, de consagrar-se exclusivamente ao Divino Coração,
abraçando a vida religiosa.
Seus
votos se realizaram. Passados poucos anos, voou a sua bela alma ao Céu, onde Santo Antônio já o havia precedido, e onde ambos acharam
uma felicidade indefinível no Sagrado Coração de Jesus, delícias
de todos os Santos.
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Fonte:
Frei Luiz, Rev. Pe. O.F.M., “A
Vida e o Culto de Santo Antônio”, 1ª Parte, Cap. 23, pp. 238-245. 3ª Edição. Butzon e Bercker – Editores
Pontifícios, Petrópolis/RJ, 1907.
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