Blog Católico, para os Católicos

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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

sexta-feira, 23 de julho de 2021

UMA PROFECIA ATUALÍSSIMA SOBRE O PAPADO.


Não faltava trabalho aos que ambicionavam trazer almas à Igreja de Cristo. Em fins de Outubro, chegou a Pisa Dorato Barbadori, designado por Florença para convencer Piero Gambacorti a romper com a Santa Sé. Se a tentativa fracassou deve-se, sem dúvida, desta feita, à influência de Catarina. Entretanto, teve a Senense o grande desgosto de ver sua cidade natal, fiel às velhas tradições gibelinas, unir-se com Florença contra o Soberano Pontífice. Após ter deixado Pisa, também esta cidade filiou-se, em 12 de Março de 1376, à liga antipapal.

Considerava-se então a república das margens do Arno bastante forte para enfrentar a luta! Em Dezembro daquele ano, tendo o sobrinho do abade de Marmoutiers ultrajado a esposa de um conceituado cidadão de Perúgia, precipitou-se esta de uma janela ao tentar fugir, e teve morte instantânea. Revoltado com este fato, insurgiu-se a população contra o domínio pontifício. “Morte aos príncipes da Igreja”, gritavam pelas ruas da cidade. Uma enorme catapulta, a que deram o nome de “assassino de Padres”, foi colocada na entrada do castelo ocupado pelos eclesiásticos franceses, projetando no interior do forte pedras incandescentes.

Insurgiram-se ao mesmo tempo Città di Castello, Viterbo, Gubbio, Urbino, Todi e Forli. Em dez dias, aproximadamente, nada menos de oitenta cidades se haviam sublevado contra o papado. Em sinal de solidariedade, Florença enviou um estandarte a cada uma dessas cidades com a inscrição: Libertas. Toda a Itália encheu-se de um entusiasmo semelhante ao que Byron e Shelley exprimem nos seus versos quatro séculos e meio mais tarde, na época da Santa Aliança:

Yet, Freedom, yet thy banner, torn but flying,

streams like a thunderstorm against the wind.

Durante esta segunda estada em Pisa, hospedou-se Catarina num hospital situado nas proximidades da igreja de Santa Catarina, pertencente aos Dominicanos. Fra Raimundo e um de seus confrades, Fra Pietro de Velletri, aterrorizados com os últimos acontecimentos, foram procurar a Santa de Sena no dia 2 de Dezembro, para comunicar-lhe tão aflitivas notícias. Catarina tomou parte em seu desgosto, mas apressou-se em dizer:

É cedo ainda para chorar. Guardai vossas lágrimas para ocasião mais própria. O que deplorais presentemente é mel e leite, em comparação ao que nos reserva o futuro”. “Que poderá suceder-nos de pior?” Exclamou Raimundo, não achando nada consoladoras aquelas palavras. “Será a fé em Cristo publicamente renegada?” Respondeu-lhe então Catarina: “Por ora, são só os leigos que se revoltam. Não tardará, porém, a vez do Clero”. E em termos concisos, predisse-lhe o próximo Cisma.1

Pouco depois voltava Catarina a Sena com seus companheiros, para ali passar o Natal.2

E em outro lugar, profetiza a Santa:

Não digo que a Igreja venha a ser menos perseguida, mas tenho fé no porvir glorioso que lhe foi predito. O bem só triunfará quando a corrupção atingir o seu auge!”

Muitos consideram estas palavras de Santa Catarina como uma profecia, e de fato o é. Ela possuía a clara compreensão de encadeamento dos acontecimentos e o contato íntimo com a lei da história, que lhe permitia entrever e predizer o desenvolvimento de séculos vindouros.3



A Importância do Papado

e a Loucura dos seus Inimigos.4


Na resposta ditada por Catarina a Neri di Landoccio ela dá a Bernabò o título de “reverendíssimo Pai” e principia por demonstrar-lhe a vaidade e a fragilidade das honrarias e poderes terrenos. “ se me perguntardes: Não existe, pois, poder algum estável nesta vida? Eu vos responderei: Sim, existe um, é a cidade da nossa alma! Nós reinamos sobre ela e é tão forte, que nem os homens, nem o Diabo a podem conquistar, se a isto não dermos nosso consentimento”. Mas como teremos energia para não fraquejar na luta contra a carne e contra o príncipe do mundo e das trevas? É a obra de Jesus Cristo, o Cordeiro imaculado. “Por Sua morte deu-nos a vida; sofrendo os opróbrios e ultrajes, restituiu-nos a glória; Suas mãos pregadas na Cruz, libertaram-nos da escravidão do pecado; pela Sua nudez, revestiu-nos da graça; salvou-nos pelo Seu Sangue; Sua sabedoria, venceu a malícia do Demônio; Sua flagelação, a fraqueza de nossa carne; Sua humildade, triunfou do orgulho e dos prazeres do mundo. Nada mais temos, pois, a temer: Sua mão desarmada venceu nossos inimigos e nos outorgou o livre arbítrio”.

Fere em seguida Catarina o ponto que pretendia atingir: o papel da Igreja. “Pecamos todos os dias, diz ela, e todos os dias temos necessidade de receber o perdão dos nossos pecados, pela efusão de Sangue do Cordeiro, no Sacramento da Penitência. Ora, somente a Igreja administra este Sacramento, sendo a Única depositária das Chaves desse Sangue Divino! Insensato é, pois, aquele que se revolta e se afasta do Vigário de Cristo, que é o Guardião destas Chaves!” E, como São Francisco de Assis no seu testamento, ela acrescenta: “Fosse o Papa um Demônio revestido de carne, eu não deveria erguer contra ele a cabeça, mas inclinar-me sempre diante de sua autoridade e implorar-lhe o Sangue do qual, de outra forma, não me seria dado participar”. “Eis por que, (acrescenta ela, concretizando tais princípios), eu vos imploro, que não mais vos revolteis contra vosso Chefe. Desprezai as instigações do Diabo, que vos sugere ser vosso dever agir com rigor contra os maus Pastores da Igreja. Recusai dar-lhes crédito e não procureis julgar o que não vos compete. Deus o proíbe, afirmando que eles são ‘os ungidos do Senhor’5 e não quer que nenhuma criatura exerça a jurisdição que lhes pertence”. Catarina chega mesmo a ponto de exclamar: “Mesmo que os Padres nos despojassem de nossos bens, deveríamos preferir perder estes bens temporais aos bens espirituais e à vida da graça”. Esta não é a opinião de Lutero, de Wiclef ou dos Huguenotes. Não é a heresia ou a revolta que falam assim, é a santidade que é “doce e humilde de coração”, obediente até a morte, até a morte da Cruz...


____________________________

1.  Leg. II, 10, 8-10. Cronaca di Perugia, detta del Graziani, nos Arch. Stor. It, ser., I, t. XVI, 1, p. 220. A casa onde Catarina habitava em Pisa era, talvez, a atual Canonica da igreja de Santa Catarina (consagrada à padroeira da Senense, Santa Catarina de Alexandria).

2.  Johannes Joergensen, “Santa Catarina de Sena”, Terceira Parte, Cap. I, pp. 182-183. 2ª Edição, Editora Vozes Ltda, Petrópolis/RJ, 1953.

3.  Johannes Joergensen, ob. cit., Segunda Parte, Cap. IX, pp. 146-147.

4.  Johannes Joergensen, ob. cit., Segunda Parte, Cap. IX, pp. 150-151.

5.  I Sam., 10, 1; I Sam., 24, 1-22.


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