Blog Católico, para os Católicos

BLOG CATÓLICO, PARA OS CATÓLICOS.

"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

terça-feira, 14 de setembro de 2021

Ó CRUZ BENDITA, NÓS TE ADORAMOS.


1. No mundo espiritual e interno o sol é a Cruz; desta nasce toda a luz da inteligência e todo o fervor do afeto; e se daqui não nasce, temo que sejam luz e fervor falsos.1

2. Caminhando certo homem, servo de Deus, desviou algum tanto os passos por não pisar a sombra de uma Cruz, que na estrada estava; porém, a sombra foi crescendo tanto, que o caminhante veio a tomar por outra vereda, e deste modo se desencontrou de seus inimigos, que o esperavam para maltratá-lo. De sorte que a Cruz a que este homem não quis fazer ofensa nem por sombra, essa lhe fez sombra para que outros não lhe fizessem ofensa.2

3. Quando chegam à mim, notícias de alguns excessos e ofensas graves da Divina Majestade, se eu lhe tivesse amor, sequer mediano, sentiria ferido o coração; e o sangue destas feridas (que são as lágrimas), manejaria alguma coisa pelos olhos. Porém, ai de mim, que os registros estão enxutos, porque a fonte está seca. Adoro a Cruz material de Cristo, mas da formal, que é a tribulação, ou fujo como Demônio, ou murmuro como o mau ladrão. E se talvez a abraço, não é apertando-a como amigo verdadeiro, mas ao de leve como hóspede pouco conhecido. Não quero Cruz com galhos, que me magoe, mas lisinha, e maior no volume que no peso; Cruz que eu desenhe e fabrique a meu modo e traça; Cruz que me ajudem a levá-la mais Cireneus do que ela tem de palmos ou o caminho de passos; Cruz que não seja Cruz, mais que para não me desconsolar, com que não sou do número dos que seguem a Cristo.3

4. No mundo todo não há mais que três classes de homens: uns inocentes; outros pecadores, mas já arrependidos; e o outros pecadores, mas ainda obstinados. E, para que todos soubessem que haviam de ter cruz, três cruzes se arvoraram no Monte Calvário: uma para Cristo, e esta toca aos inocentes; outra para Dimas, e toca aos arrependidos; outra para Gestas, e toca aos obstinados.4

5. Os furos da Cruz de Cristo Redentor nosso, (conforme se diz comumente) de propósito foram feitos mais distantes e desviados do que pedia sua perfeita estatura, para que não obstante, que os nervos se encolhessem com a veemência da dor, chegassem por força ao lugar assinalado. O que ali fez a malícia e crueldade dos ministros, deve em nós fazer o fervor e prudência do espírito. Bem se sabe, que a vida espiritual é crucificação mística, à imitação do Cristo: Qui sunt Christi, carnem suam crucifixerunt cum vitiis, et concupiscentiis suis. Devemos, pois, colocar os furos longe, porque a natureza, ressentida, encolhe-se; e, se não é por força, não chegaremos a coisas grandes.5

6. Todo o trabalho do Senhor lhe veio de dois madeiros, um no Paraíso, outro no Calvário, aquele onde se contraiu a culpa, este onde se pagou a pena.6

7. Dois grandes amigos, um deles clérigo e homem douto, e outro leigo e idiota, desenganados e aborrecidos do mundo, acertaram retirar-se e a viver no deserto. No primeiro ano, o clérigo desmaiou, porque não aproveitava e, estando tentado a deixar o seu propósito, falou ao leigo, em cuja prática viu resplandecer tantos raios de sabedoria celestial que, admirado, lhe perguntou quem o ensinara? Respondeu o idiota sábio: Estudo por um livro que tem três modos de letras, umas douradas, outras vermelhas e outras negras. – Que livro é este? Perguntou o clérigo. Então lhe mostrou o leigo um crucifixo, e continuou dizendo: As letras douradas são as virtudes deste Senhor, as vermelhas são as suas penas, as negras são as minhas culpas. Com este ensino usou o clérigo dali por diante da mesma lição, e saiu adornado de verdadeira sabedoria.7

8. Toda a alma devota que atentamente empregar os olhos em Cristo crucificado, há de descobrir neste admirável objeto sete objetos os mais relevantes, que a Religião Cristã professa e em toda ela se explica. São estes os seguintes: primeiro, a grandeza do pecado; segundo, o terror do Inferno; terceiro, a grandeza da glória; quarto, o valor da alma; quinto, a esperança do perdão; sexto, o caminho da virtude; sétimo e último, o excesso do amor divino. Torno a dizer: sabeis, Católicos, que é o que vemos, quando vemos a Cristo crucificado? Vemos uma horrorosa sombra da fealdade do pecado; vemos uma comparação significativa das penas do Inferno; vemos uma medida certa das grandezas do Céu; vemos o preço justo do valor de uma alma racional; vemos um fortíssimo argumento da esperança de nossa salvação; vemos um livro compendioso dos ditames da perfeição evangélica; e vemos um retrato vivo das finezas do amor divino.8

9. Cruz sem o título de Jesus ser-nos-á mais pesada e menos proveitosa, porque o título é o que faz suave e leve a cruz toda. Na ponta da vara de Jônatas estava o favo de mel: In sumitate virgae, e na ponta mais alta da Cruz está o título de Jesus; e assim como o favo fazia para Jônatas leve e suave toda a vara, assim o título de Jesus, o padecer por seu amor, e à sua imitação é o que nos fará toda a Cruz suave e leve. Leve e suave diz Cristo, que é o jugo da sua Cruz: Jugum meum suave est, et onus meum leve. Sabem porque, sendo jugo, é leve e suave? Porque, sendo jugo, é jugo seu: Jugum meum. O ser jugo são os lenhos da Cruz, mas o ser seu é o título: e tanto que a Cruz tem título de Jesus, logo, ainda que seja jugo, é jugo suave e leve: Jugum meum suave est, et onus meum leve.9

10. Aqui veremos quão desacertadas são as queixas que formamos, uns da pobreza, outros das doenças, outros das tentações, outros das calúnias dos próximos, e todos de tudo o que é cruz. Ó que escassa luz temos do que nosso bom Deus pretende com essas tribulações! Quantas tribulações, tantas misericórdias do nosso Deus: Deus noster miseretur. Que havia de ser do mundo se todos nadássemos em felicidades? Que Deus havia de poder com a nossa natureza de brutos sem vara e freio que a domasse? Esta é a verdade. Não há coisa que tanto convenha aos filhos de Adão neste mundo miserável como o serem miseráveis. Mais valeu ao pródigo, um dia de fome entre animais imundos, que toda a sua legítima entre amigos e criados. A miséria e tribulação têm salvo mais almas do que nenhum missionário famoso, nem Apóstolo do mesmo Cristo. E assim, todas às vezes que Deus manda algum trabalho particular ou público, é o mesmo que um Apóstolo que converta as almas; e acontece converterem-se então mais almas do que todos os missionários poderiam converter com a palavra e exemplo. Nós não sabemos, que coisa são homens e homens sem cruz. Dai-nos homens prósperos e descansados, que eu vo-los darei brevemente rebeldes a deus. Seria necessário mandar Deus a cada cinquenta anos um Dilúvio, que lavasse o mundo, e tornar a começar de novo a geração humana, em temor e observância de sua lei.10

11. Não pode deixar de ser grato a Deus, quem sofre com paciência dores, tribulações e desprezos das criaturas. Ó alegrem-se os semelhantes a Jó, que quanto mais inimigos e aborrecidos se veem do mundo, porque o mundo os vê em misérias, tanto mais em graça estão com Deus, porque sofrem essas misérias e esses desprezos. Queremos chegar-nos a Cristo e ser-lhe aceitos, cheguemo-nos à sua Cruz e aceitemo-la de boa vontade.11

12. Assentemos bem em nossas almas esta importantíssima verdade: Quem quiser ser aceito a Deus, procure fazer-se pela cruz semelhante a seu Filho Jesus Cristo, porque quem ama o original, não pode deixar de se agradar dos retratos. De todos os crucificados, o original é Cristo e de Cristo, são retratos todos os crucificados.12

13. Quando os persas restituíram, por morte do Imperador Chofroas, o Santo lenho da Cruz a Modesto, Bispo de Jerusalém, reconheceram todos que ainda vinha metido e fechado na mesma caixa em que o tinham levado e com o mesmo selo inviolado, sinal de que os persas não viram a Sagrada Cruz, nem lhes serviu mais que de total destruição de seu império; qual a Arca de Deus cativa pelos Filisteus, destroçando e prostrando o Dragão e ferindo ao povo. Deste modo, ó lástima, se aproveitam alguns maus cristãos do fruto da Cruz e da fé, que nela a tanto custo nos foi adquirida. Creem nela, mas os seus Mistérios estão para eles fechados e selados, nem olham mais que para o exterior. Estes, em vez de aproveitarem-se, perdem-se. Pelo contrário, o varão espiritual sabe abrir os selos da Cruz de Cristo, reconhece o seu peso e estima este tesouro.13


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1.  “As Mais Belas Páginas de Bernardes2000 Trechos Selecionados”, por Mário Ritter Nunes, Trecho 387, p. 99. Edições Melhoramentos, São Paulo, 1966.

2.  Idem, Trecho 460.

3.  Idem, Trecho 475.

4.  Idem, Trecho 512.

5.  Idem, Trecho 835.

6.  Idem, Trecho 991.

7.  Idem, Trecho 1069.

8.  Idem, Trecho 1440.

9.  Idem, Trecho 1471.

10.  Idem, Trecho 1473.

11.  Idem, Trecho 1474.

12.  Idem, Trecho 1475.

13.  Idem, Trecho 1971.


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