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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

sábado, 2 de novembro de 2019

A ORAÇÃO PELOS MORTOS.



Saudade e Oração

Não julguemos que lembrar nossos mortos é ter apenas deles uma saudade que aos poucos vai decrescendo em intensidade, à medida que passam os anos. Chorar nossos mortos e perpetuar-lhes a lembrança no mármore, na tela, no livro é permitido, sim. Porém, não fiquemos só nisto. Juntemos à saudade a oração. Não basta chorar, precisamos orar. E nunca se precisa tanto de oração como depois da morte. No Purgatório as pobres almas estão como o paralítico da piscina que dizia a Jesus: Hominem non habeo! Senhor, eu não tenho um homem que me lance na piscina para ser curado.

Dependem aquelas almas santas de nossos sufrágios, de nossas orações e sacrifícios. Deus as entregou à nossa caridade. Sempre é eficaz a nossa oração pelas almas.

É infinitamente mais útil e eficaz a oração pela libertação dos defuntos que padecem no Purgatório, que a oração pelos pecadores da terra, cuja perversidade e más disposições paralisam os esforços para os salvar. As santas almas não põem obstáculos algum à eficácia das orações que por elas fazemos”. Tal é a opinião do piedoso oratoriano Pe. Faber.

Juntemos à nossa imensa saudade dos mortos nossos queridos, a oração e sempre a oração.

Escreveu o Pe. Sertillanges: “A lembrança dos mortos sem a oração, é uma lembrança fria, um triste pensamento. É uma exploração do nada. Porém, com a oração, é um vento que sopra em direção a Deus, é uma ascensão nas asas da esperança”.1

Oremos pelas almas benditas que padecem no Purgatório! Demos-lhe a esmola de nossas preces fervorosas e da riqueza das indulgências do tesouro da Igreja.

Dizia São Francisco de Sales: “Vós que chorais inconsoláveis a perda de vossos entes queridos, eu não vos proíbo de chorar, não! Chorai, mas procurai adoçar vossas lágrimas com o suave bálsamo da oração que muito mais do que todas as demonstrações exteriores de pesar, pode concorrer para aliviar as almas que a morte vos arrebatou”.

Esta é também a linguagem da Igreja, nossa Mãe. Não proíbe nossas lágrimas. É tão humano chorar! Todavia não fiquemos tão só num pranto nossas orações. Saudade e oração. Choremos nossos mortos como cristãos verdadeiros.

Meio Fácil

Sim, é o mais fácil dos meios de socorrer os mortos, a oração. Alguns podem achar difícil o jejum, ou a mortificação, podem se queixar da pobreza que não lhes permite dar esmolas, mas quem pode se escusar e desculpar-se de não poder orar?

A mais curta oração feita com as devidas disposições é um alívio para os fiéis defuntos. Quem não pode bradar: dai-lhes, Senhor, o descanso eterno!

Fez Nosso Senhor tantas promessas à oração! “Pedi e receberei, batei e se vos há de abrir. É preciso sempre orar”. A oração de Marta e Maria leva Jesus a ressuscitar Lázaro. Nossas preces pelos defuntos hão de tirar as pobres almas daquele estado de morte em que se encontram.

As lágrimas, as flores, os mausoléus pomposos nada aproveitam aos mortos. É melhor rezar por eles. “Poupai vossas lágrimas, dizia São João Crisóstomo, pelos defuntos e dai-lhes mais orações”. Escreve Santo Ambrósio numa das suas cartas a Faustino, que acabava de perder a irmã: “É preciso assistí-la com orações mais do que chorá-la, e convém recomendar a sua alma muito a Deus na oração. Chora menos e reza mais”.

Repitamos também esta recomendação a tantos que choram seus mortos sem se lembrarem de uma prece, de uma Santa Missa, de uma obra de caridade para sufragar-lhes as pobres almas. Quantas orações tão belas e eficazes e poderosas para o sufrágio dos nossos mortos! O Padre Nosso, a Ave Maria, o De Profundis, o Ofício dos mortos. A Igreja, nossa Mãe, nos dá exemplo de oração pelos defuntos. Termina muitas vezes as suas preces litúrgicas como as Horas canônicas pela súplica tocante: “Fidelium animae per misericordiam Dei requiescant in pace”. E as almas dos fiéis pela misericórdia de Deus descansem em paz! Desde os tempos primitivos, e já nas catacumbas, a prece pelos defuntos era conhecida e praticada na Igreja. Encontram-se nas pedras inscrições como estas: Vitório, que Deus refrigere o teu espírito! Antônia, doce alma, que Deus te dê o refrigério! Que Cristo te ponha na paz! Que tua alma repouse em Deus! Sempre as súplicas a Deus pedindo refrigério, luz e paz para os mortos. É muito agradável a Deus a oração pelos mortos.

Um dia, Santa Gertrudes rezava com fervor pelos defuntos, quando Nosso Senhor lhe fez ouvir estas palavras: “Eu sinto um prazer todo especial pela oração que Me fazem pelos fiéis defuntos, principalmente quando vejo que à compaixão natural se junta a boa vontade de a tornar mais meritória. A oração dos fiéis desce a todo instante sobre as almas do Purgatório como um orvalho refrigerante e benéfico, como um bálsamo salutar que adoça e acalma suas dores e ainda as livra das suas prisões mais ou menos rapidamente, conforme o fervor da devoção com que é feita”. Noutra ocasião, disse Nosso Senhor a sua serva querida: “Muitíssimo grata Me é a oração pelas almas do Purgatório, porque por ela tenho ocasião de libertá-las das suas penas e introduzi-las na glória eterna”.


Oremos pelos fiéis defuntos!

Sim, já que a oração é tão poderosa para socorrer os mortos, aliviar as penas das pobres almas, vamos em socorro do Purgatório! “A oração da alma fervorosa, diz São Bernardo, sobe até o Céu e de lá não desce sem ser ouvida. Se pede amor de Deus, vem dele cheia; se pede humildade, esta logo a vem adornar; se pede a libertação das almas do Purgatório, tem igualmente todo poder para alcançá-la”.

São João Damasceno escreve: “Não vos poderia narrar tantos testemunhos encontrados na vida dos Santos pelos quais se provam claramente as vantagens da oração que se fazem pelos defuntos! Não é em vão que se reza pelos mortos”.

Todas as orações são úteis para as almas, mas algumas mais do que outras. Por exemplo, as orações canônicas do Breviário ou Divino Ofício são muito mais valiosas e eficazes. Que valor não terá uma prece oficial da Igreja pelos mortos! Depois, aproveitemos o tesouro da Via Sacra, acompanhando os Mistérios Dolorosos da Paixão do Salvador e oferecendo o Preciosíssimo Sangue para refrigério do Purgatório. Que dizer do Rosário? Que tesouro da Igreja padecente!

Apliquemos todas as indulgências do Rosário pelas almas. Uma jovem libertada do Purgatório pelo Rosário de São Domingos, apareceu a este servo da Virgem e lhe disse: “Em nome das almas do Purgatório eu vos conjuro, pregai por toda parte e fazei conhecer a toda gente a devoção do Rosário. Que os fiéis apliquem às pobres almas as indulgências e os outros favores espirituais desta devoção tão santa. A Santíssima Virgem e os Anjos e Santos se alegram com o Rosário, e as almas libertadas por ele rezam no Céu pelos seus libertadores”.

Façamos Novenas e orações em comum pelos mortos, principalmente logo depois que deixarem eles este mundo. Há o piedoso costume de se fazer uma Novena pelo falecido, começando logo no dia seguinte ao da morte ou do enterro. Durante nove dias se reúne a família em torno de um altarzinho para implorar a misericórdia do Senhor pelo defunto. Multipliquemos fervorosas preces pelos nossos mortos queridos e pelas almas mais abandonadas. “Minha filha, dizia certa vez Nosso Senhor a Santa Lutgarda, não posso resistir às tuas súplicas. A alma pela qual pedes logo estará livre dos seus sofrimentos”. Ó, não será esta a resposta que nos dará Nosso Senhor também, se orarmos com todo fervor de nossa alma, com toda caridade pelos defuntos?

Um santo Bispo, conta Rossingnolli em suas Maravilhas do Purgatório, um santo Bispo teve um sonho. Viu uma criança que com um anzol de ouro e uma linha de prata retirava uma mulher de um profundo poço. Acordou, abriu a janela e viu no cemitério, que lhe estava no fundo da casa e vizinho, um menino tal como o que viu em sonho, ajoelhado junto a um túmulo, em oração.

Que faz aí, menino? Perguntou-lhe o Bispo.

Eu rezo um Padre Nosso e um De Profundis pela alma de minha mãe, que aqui está sepultada.

Entendeu logo o santo Prelado que a oração singela do pequenino era o anzol de ouro e o Padre Nosso e o De Profundis o fio misterioso que vira em sonho. Tal é a nossa oração pelos mortos.


EXEMPLO

Santa Margarida de Cortona
e as Almas do Purgatório

A grande pecadora que foi Margarida de Cortona e que convertida veio a ser a Madalena dos últimos tempos, pela admirável penitência e a grande santidade a que chegou, era uma grande devota das santas almas do Purgatório. Desde que se converteu dedicou-se, cheia de caridade, a socorrer as almas sofredoras. Nosso Senhor lhe permitiu ver muitas vezes a triste condição destas almas para lhe excitar a compaixão e interceder por elas. Dois negociantes foram assassinados, e por misericórdia de Maria Santíssima, da qual eram fervorosos devotos, alcançaram uma contrição perfeita na hora derradeira e se salvaram. Apareceram à Santa e lhe disseram:

– “Escapamos da eterna condenação pela especial proteção de Maria Santíssima. Mas teremos que padecer um horrível Purgatório para expiar nossas injustiças e mentiras e pecados. Ó Serva de Deus, nós vos pedimos que mandeis avisar nossos amigos e parentes que façam restituições de nossos maus negócios e deem muitas esmolas aos pobres em paga de nossas injustiças. Ajudai-nos, Margarida, com vossos sufrágios”.

A Santa se empenhou muito com orações e penitências em socorrer estas pobres almas. E assim fazia sempre que Nosso Senhor lhe revelava a necessidade e as aflições de algumas almas do Purgatório. Quando faleceu o pai da Santa penitente, ofereceu ela por aquela alma querida muitas orações e toda sorte de sufrágios, penitências e santas Comunhões.

Deus Nosso Senhor lhe fez conhecer que as suas orações aliviaram as almas do seu pai e da mãe, e que tiveram muito abreviados dias de Purgatório.

Também ao saber da morte de uma criada, Gillia, que durante muito tempo ficou com ela, Margarida não cessou de recomendar esta alma da pobrezinha a Nosso Senhor. Foi-lhe revelado que a criada ficaria no Purgatório apenas até a festa da Purificação de Nossa Senhora e logo seria levada ao Céu pelos Anjos.

Na hora da morte, Santa Margarida de Cortona viu uma multidão de almas com esplendor da glória do Céu que vinham ao encontro da sua benfeitora, cheias de gratidão. Era a recompensa da sua dedicação e devoção às Almas do Purgatório.



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Fonte: Mons. Ascânio Brandão, “Tenhamos Compaixão das Pobres Almas! – 30 Meditações e Exemplos Sobre o Purgatório e as Almas”, 14 de Novembro, pp. 109-115. 2ª Edição, Editora Ave Maria Ltda, São Paulo/SP, 1956.

1.  Le probléme de la prière. Revue de Jeunes – Nov. 1915.


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