Coração
de Jesus
Afligido
por Causa dos
Pecados do Mundo
Parece
que o Coração de Jesus nos convida ao pio exercício da Hora Santa,
por estas palavras do Profeta Jeremias: Ó vós todos que passais
pelo caminho, olhai-me e vede se há dor igual à minha dor.
Para conceber toda a extensão e
intensidade dessa aflição, é necessário que meditemos: de um
lado, o amor que nos tinha o Coração de Jesus desejoso de nos
salvar a todo preço, de outro, o horror que Ele tinha do pecado,
causa de nossa perdição. Seria muito, alma fiel, consagrar cada mês
uma hora a esta meditação tão salutar?
Jesus
trazia todos os homens no seu Coração, por que Ele amava todos. Mas
sendo eles todos pecadores, que eram para o Coração amante de
Jesus, senão cruéis espinhos que O dilaceravam,
segundo o pensamento de Santo Agostinho? É portanto, verdade que nós
temos sido os algozes desse Coração amabilíssimo, e algozes mais
cruéis do que aqueles que rasgaram o Corpo do Salvador.
Com
efeito, procurai no Jardim das Oliveiras, e não achareis nem algozes
para O flagelar, nem espinhos, nem cravos, e entretanto o Sangue
Divino corre. Ele teve,
diz São Lucas, um suor de sangue que corria na terra em
forma de gotas de chuva.
Qual pode ser a causa deste
suor? É a previsão de seu suplício que O lança nestas agonias?
Não, porque ele se ofereceu espontaneamente a padecê-lo.
Ah! Não busquemos aqui outra causa que os nossos pecados. Da mesma
sorte que o lagar faz correr o vinho da uva, assim nossos pecados
fizeram correr o Sangue das veias sagradas de Jesus Cristo. Quantas
vezes não temos contribuído para esta aflição aumentando o peso
de nossas faltas? Ah! Pesemos aqui a malícia do pecado, a fim de
maldizer para sempre o que tanto afligiu o Coração deste bom
Senhor.
O
pecador aflige o Coração de Jesus, porque desonra a
Deus,
cuja glória o Salvador veio restabelecer. Não renuncia, com efeito,
à graça santificante e à amizade divina por uma indigna
satisfação? Se o homem consentisse em perder a amizade divina para
ganhar um reino, e até o mundo inteiro, certamente faria imenso mal,
porque a amizade de Deus vale mais que o mundo e mil mundos. Mas
porque o pecador ofende a Deus? Por
um pouco de terra, por um movimento de cólera, por um prazer brutal,
por um fumo, por um capricho. Quando o pecador se põe a deliberar se
consentirá ou não no pecado, toma, digamos assim, a balança na
mão, para ver o que pesa mais, o que é preferível, a graça de
Deus, ou essa paixão, esse fumo, esse prazer; quando
em seguida dá seu consentimento, declara, quanto o pode fazer, que
essa paixão, esse prazer, valem mais que a amizade de Deus! Não é
isto desonrar a Deus? O pecador aflige também o Coração de Jesus,
porque entrega-se ao poder do Demônio, cujo império o Salvador veio
destruir. Quando a alma consente no pecado, diz a Deus: Senhor,
retirai-Vos de mim.
Ela não o diz com a boca, mas de fato, porque sabe que Deus não
pode ficar com o pecado: pecando, ela O obriga então a separar-se. E
expulsando a Deus de seu coração, faz entrar nele imediatamente o
Demônio para tomar-lhe posse. Pela mesma porta pela qual sai Deus,
entra o Inimigo, que vem estabelecer-se como senhor em lugar de Deus.
Quando se batiza um menino, o Coração de Jesus se regozija, porque
o Padre intima ao Demônio a
ordem de sair dessa alma e dar o lugar ao Espírito Santo. Mas quando
o homem consente no pecado, o Coração divino se aflige, porque o
pecador diz a seu Deus que saia de sua alma e ceda o lugar ao
Demônio. Não é isto restabelecer o império de Satanás, destruído
pela Redenção?
Enfim,
o que aflige o Coração de Jesus, é que o pecador O obriga a
pronunciar sobre sua cabeça a fatal sentença de condenação:
Retira-te de Mim, maldito, vai para o fogo eterno.
Desgraçado daquele que rejeita as graças que Jesus Cristo lhe
granjeou por tantos trabalhos e dores! Ah! Seu maior tormento no
Inferno, será pensar que Deus, para atraí-lo a Seu amor, deu Sua
vida sobre uma Cruz, e que ele, de seu motu proprio,
quis se perder, e de modo irreparável para sempre!… durante toda a
eternidade!… Ó eternidade!…
Prática
Oferecerei
muitas vezes ao eterno Pai as aflições do Coração de Jesus, em
reparação de meus pecados e de todo o mundo.
Afetos
e Súplicas
Assim,
meu Jesus, não foi a vista dos açoites, dos espinhos e da Cruz, que
Vos causaram tanta aflição no Jardim de Gethsemani, foi a vista de
meus pecados, cada um dos quais acabrunhou Vosso Coração com tanta
dor e tristeza, que Vos fez suar Sangue e Vos reduziu à agonia. Eis
aqui como respondi ao amor que me testemunhastes morrendo por mim.
Ah1 Dai-me parte da dor que sentistes por causa de meus pecados no
Jardim das Oliveiras, a fim de que esta dor me conserve em aflição
durante todo o resto de minha vida. Ó meu terno Redentor, pudesse eu
agora Vos consolar, por meu arrependimento e amor, tanto quanto Vos
tenho afligido! Do fundo de minha alma me
arrependo, ó amor meu, de ter preferido satisfações miseráveis do
que a Vós: disto me arrependo, ó meu Jesus, e amo-Vos sobre todas
as coisas. Apesar de meus pecados, sei que me pedis meu amor:
Amareis, dizeis, o
Senhor Vosso Deus de todo vosso coração e de toda vossa alma.
Sim, meu Deus, eu Vos amo de todo o meu coração, eu Vos amo de toda
a minha alma: dai-me Vós mesmo todo o amor que de mim quereis. Se
outrora procurei a mim mesmo, quero agora procurar somente a Vós:
conhecendo que me tendes amado mais do que os outros, quero também
Vos amar mais que os outros. Atraí-me
sempre, meu Jesus, atraí-me cada vez mais a Vosso amor pelo odor de
Vossos perfumes, isto é, pelos doces atrativos de Vossa graça.
Dai-me, numa palavra, a força de corresponder à ternura de um Deus
para com um verme da terra ingrato e infiel. Ó Maria, Mãe de
misericórdia, assisti-me com Vossas orações.
Oração
Jaculatória
Eterno
Pai, perdoai-me pelos merecimentos do Coração de Jesus.
|
Desposório Místico de Santa Rosa de Lima |
Exemplo
Santa
Rosa de Lima teve o feliz destino de tornar-se esposa do Coração de
Jesus. Um dia em que ela estava cercada de algumas de suas
companheiras, veio uma borboleta, que, voando algum tempo à sua
esquerda, pousou sobre seu coração. Depois de ter estado aí alguns
instantes numa atividade contínua, voou, deixando na roupa da virgem
donzela um coração perfeitamente desenhado. Todas as pessoas
presentes notaram com surpresa esta pintura misteriosa, mas sem
compreenderem sua significação. Rosa também não compreendeu.
Somente ouviu uma voz que lhe dizia: Rosa, dá-Me teu
coração. Um
dia Jesus Cristo lhe apareceu com Sua divina Mãe, e disse-lhe esta
palavra, a mais suave e amável que um Deus pode dirigir à Sua
criatura: Rosa de Meu Coração, sede para sempre Minha
esposa fiel. Para não perder a
lembrança de tão grande benefício, ela formou o desígnio de
mandar fazer para si um anel nupcial. Rosa comunicou este projeto a
seu irmão, sem lhe falar do que sucedera. Este bom irmão, desejando
ver logo cumprida a vontade de Rosa, tirou medida no dedo dela e
desenhou o anel num papel, ornando-o com um pequeno medalhão
representando Jesus Cristo. Restava só tratar-se da divisa que devia
cercá-lo. Rosa, com o olhar, consultava a seu irmão; este não fez
esperar sua decisão: tomou a pena e escreveu estas palavras: Rosa
de Meu Coração, sede Minha esposa.
Grande foi o espanto desta santa donzela, vendo seu irmão
reproduzir, sem o saber, as mesmas palavras que Jesus Cristo lhe
dirigira na maravilhosa aparição com que a honrara. Ela foi esposa
fiel, porque, não obstante ficar no mundo, amou a Jesus Menino, a
Jesus nos tormentos, e a Jesus na Eucaristia, de um modo superior ao
que nos é possível imaginar. Na idade de quatorze anos já ela
comungava três vezes por semana. Rosa preparava-se para o Divino
banquete, como se cada vez fosse a última de sua vida. “Não
há neste mundo, dizia ela,
prazer, nem gozo que possa dar uma ideia da alegria que
sinto no delicioso festim, em que minha alma faminta come a Carne de
meu Deus”. Por um efeito de
sua devoção para com o Santíssimo Sacramento, ela assistia cada
dia a todas as Missas que se diziam na igreja dos Dominicanos. Nos
dias em que havia exposição do Santíssimo, ficava em adoração
desde a manhã até a tarde. Quando se nomeava a Santíssimo
Sacramento na conversação, ela inclinava a cabeça; um de seus mais
deliciosos prazeres era ouvir exaltado pelos pregadores este inefável
Mistério. Não contente de ornar os tabernáculos com flores
naturais que ela cultivava no seu jardim, fazia artificiais de beleza
surpreendente. Uma parte de suas noites era consagrada a esta
ocupação, reservando o dia para trabalhar para sua família, que
não tinha grande fortuna. A feliz esposa do Coração de Jesus
deixou a terra para receber a coroa das Virgens, em 1617.
_________________________
Fonte:
O Sagrado Coração
de Jesus, segundo
Santo Afonso de Ligório, ou, Meditações para o Mês do Sagrado
Coração, a Hora Santa e a Primeira Sexta-feira do Mês;
coligidas das Obras do Santo Doutor pelo Padre Saint-Omer, C.Ss.R.,
“Hora Santa” de Junho, pp. 238-243. 5ª Edição Portuguesa,
Tipografia de Frederico Pustet, Impressores da Santa Sé.
Ratisbona/Alemanha, 1926.
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